Cena Política

Os três problemas de Geraldo Julio para ser candidato ao governo do Estado

Há questões políticas, jurídicas e eleitorais. O caminho para se tornar o próximo governador de Pernambuco, pode não ser fácil para o ex-prefeito do Recife.

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Igor Maciel

Publicado em 24/06/2021 às 7:00
Análise
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Para ser candidato e, eventualmente, tornar-se governador de Pernambuco, Geraldo Julio (PSB) precisa primeiro resolver algumas questões. Elas estão divididas em três grupos e não são fáceis de enfrentar porque a solução de uma, se mal conduzida, prejudica a outra. 

Primeiro, há o aspecto político. Geraldo está longe de ser querido. Na verdade, ele é rejeitado por alguns aliados do PSB, principalmente por ter controlado espaços da Frente Popular depois que Eduardo Campos morreu. A participação dele na reeleição de Paulo Câmara (PSB), por exemplo, deixou muitos problemas, apesar da vitória. A atuação na Prefeitura do Recife, no trato com os aliados, também criou arestas. Vereadores "tratorados" na Câmara, se queixavam com os deputados, que se queixavam com os presidentes de partidos. E isso é só um exemplo. Ainda na questão política, integrantes de outros partidos sentem que o ex-prefeito do Recife os enxerga com ar de superioridade, como se eles fossem apenas peças necessárias na eleição. Reclamam que depois do pleito o então gestor não tinha diálogo com ninguém além de seu grupo fechado. Outro problema visto por eles é que ninguém conhece Geraldo Julio no interior e, mesmo estando na secretaria de Desenvolvimento Econômico, ele não tem feito nenhum esforço para se aproximar.

Há ainda um fator que é intermediário, entre o político e o eleitoral. Tem a ver com João Campos (PSB). O filho de Eduardo inaugurou uma nova fase no PSB e na Frente Popular e a ideia é que ele seja candidato ao governo do Estado tão logo tenha idade para isso. Em 2022, por alguns meses, não será possível. Se Geraldo for eleito, abre mão da reeleição para Campos em 2026?

No aspecto eleitoral, há um problema e uma solução que pode virar um problema. A dificuldade é a rejeição ao ex-prefeito. Na campanha do Recife, Geraldo foi escondido pelo PSB pra não atrapalhar João Campos. Apareceu no guia só para efeito de registro, e deu pra contar nos dedos de uma mão. A rejeição era grande e os socialistas queriam evitar uma associação direta com o "herdeiro de Eduardo" que chegava para "mudar tudo". A solução para isso, e também para o desconhecimento de Geraldo no interior, pode ser a aliança com o PT. Sendo "o candidato de Lula (PT)", Geraldo teria condições de enfrentar todas essas dificuldades. Mas, cria outra: com tamanha influência no resultado, o PT se tornaria quase um fiador do PSB. E todos os outros aliados assumem uma posição de "terceira classe". Há alguns que aceitam em troca de se manter no poder, mas nem todos.

No aspecto jurídico, há a questão da proteção do cargo e o risco de que uma denúncia, ou apenas o insistir da oposição nos processos de corrupção que envolvem a prefeitura do Recife, chegue a contaminar a campanha. Pessoas da confiança de Geraldo foram indiciadas, muitas compras no período da pandemia estão sob suspeita e as operações da Polícia Federal na porta da prefeitura não vão sumir da discussão. Pelo contrário, devem ficar sendo reavivadas, caso ele dispute.

É por isso a candidatura de Geraldo Julio vai além de uma declaração de Sileno Guedes numa entrevista.

O caminho é bem mais comprido e cheio de buracos.

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