Cena Política

Governadores foram atropelados por Bolsonaro na redução de impostos dos combustíveis

Alguns gestores estaduais ainda estão atordoados, baixando por parcelas, como Paulo Câmara. A derrota contou com "traição" da bancada aliada.

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Igor Maciel

Publicado em 05/07/2022 às 12:20 | Atualizado em 05/07/2022 às 12:31
Análise
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O grupo de governadores que se uniu para tentar impedir a redução de impostos nos combustíveis foi atropelado. Um atropelamento daqueles de fazer quem assiste franzir a testa e apertar os olhos, numa expressão facial que, sem nenhuma palavra dita, remete a “foi feio”.

É que eles levaram uma volta de Bolsonaro (PL), mas não foi Bolsonaro quem determinou a derrota.

Foram suas próprias bancadas.

Paulo Câmara (PSB) anunciou a redução pontuando que “a gestão vai perder R$ 4 bilhões por ano”. O lamento, para ser completo, teria que admitir que até os deputados do seu PSB votaram para que o ICMS fosse reduzido.

Danilo Cabral (PSB), seu pré-candidato à sucessão, votou a favor. Sem falar no restante da bancada aliada.

Só Milton Coelho (PSB) e Felipe Carreras (PSB) votaram para que os impostos não fossem reduzidos.

A lição que fica é a de que não existe lealdade quando o que está em jogo é o bolso das pessoas. E não existe lealdade quando votos dependem do bolso das pessoas.

O que Bolsonaro fez, com a ajuda de Arthur Lira (PP) na Câmara, foi aproveitar isso.

O Conselho dos Secretários de Fazenda dos estados, o Consefaz, presidido pelo pernambucano Décio Padilha, até tentou evitar.

A justificativa dele era que os deputados “votaram enganados”.

Difícil de acreditar.

Fato é que o preço começou a baixar e Bolsonaro venceu a disputa. Um atropelamento assim não é pouca coisa em ano eleitoral.

Tem mais. Se for bem explorada, a queda do preço nas bombas vai dar legitimidade ao discurso sustentado pelo presidente desde que os valores começaram a incomodar o eleitor: “de que os governadores faturam alto com impostos e não querem abrir mão para não facilitar a vida da população”.

Foto: Marcos Corrêa/PR
Presidente Jair Bolsonaro - Foto: Marcos Corrêa/PR

Muitos deputados da bancada pernambucana criticavam Bolsonaro na época. Faziam cálculos, diziam que a culpa dos combustíveis estarem altos não era dos impostos.

São os mesmos que votaram a favor do projeto agora.

Houve até um congelamento do ICMS pelos governadores, tentando “provar” que o aumento nos preços não acontecia por causa dos governadores e sim por causa da alta do Dólar e da cotação do barril.

Era uma meia verdade. Subir, realmente não subia. Mas, também não baixava, por causa dos impostos.

Agora está baixando por força de lei. De um jeito bastante atabalhoado, em pedaços, mas está.

Atabalhoado, porque redução em parcelas, com Paulo mandando projeto para Alepe pra poder baixar o restante só depois, soa como alguém que foi atropelado e não consegue aceitar que precisa sentar no meio-fio pra colocar a cabeça no lugar de novo.

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