Cena Política

Cena Política: Raquel Lyra foi a exceção necessária para mudar a história

Confira a coluna Cena Política desta segunda-feira (31)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 30/10/2022 às 21:56 | Atualizado em 30/10/2022 às 23:51
Bruno Campos/JC Imagem
Raquel Lyra, candidata a Governadora de Pernambuco. Eleições 2022 - Segundo turno - FOTO: Bruno Campos/JC Imagem
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A vitória de Raquel Lyra (PSDB) em Pernambuco não foi importante apenas por ser uma mulher, pela primeira vez, assumindo este cargo. Há dois aspectos que chamam bastante atenção e são balizadores para o estado.

O primeiro é a vitória maiúscula, com diferença muito acima do esperado. Nas previsões mais otimistas pró-Raquel, falava-se em uma diferença de 600 mil votos de vantagem. A apuração terminou com mais de 920 mil votos de diferença. Significa que não há o que se discutir sobre a hegemonia política do resultado e do novo governo. Raquel terá tranquilidade para exercer seu papel com o protagonismo que faltou a Pernambuco nos últimos anos, sem precisar mendigar por suas decisões e escolhas. Isso também enfraquece a possibilidade de um governo inviabilizado por uma oposição fortalecida.

RAQUEL LYRA ELEITA: QUEM é a nova GOVERNADORA DE PERNAMBUCO

Por causa da grande margem, é fácil apostar que até o fim de novembro Raquel já terá uma maioria garantida na Alepe e sua palavra pesará para a escolha do próximo presidente da Casa.

O segundo aspecto que precisa ser destacado é que a governadora eleita conseguiu ir até o fim sem declarar voto em nenhum candidato a presidente. Estava certa, desde o início.

O resultado apertado, com uma vitória quase sufocada de Lula (PT) sobre Bolsonaro (PL) comprovou que esse foi o melhor caminho. Poderia ter sido qualquer um e ela estaria segura.

Foi uma exceção no Brasil, mas é nas exceções que o futuro é construído. Foi fazendo diferente, e não igual a todo mundo, que alguém um dia descobriu o fogo.

Pernambuco passou os últimos anos dependendo do nível de amizade com o presidente que estivesse na cadeira, porque essa era a regra da política que transforma dependência partidária em necessidade vital para sobreviver. E, desse jeito, o estado esteve bem com os governos do PT enquanto o PSB e o PT eram aliados. Quando o PSB brigou com Dilma (PT), o pernambucano sofreu. Quando o PSB brigou com Temer (MDB), o pernambucano sofreu. Quando o PSB brigou com Bolsonaro (PL), o pernambucano sofreu.

O destino de quase 10 milhões de pessoas não pode ficar sempre dependendo do humor de um partido em relação ao outro.

As bases do contrato que Marília Arraes (SD) propôs ao eleitor dependiam de uma vitória de Lula e de quatro anos sem que ela brigasse com ele, coisa difícil de imaginar, já que ela costuma arranjar briga por onde passa.

As bases propostas por Raquel eram de independência e respeito com qualquer candidato que viesse a ser escolhido para presidente.

Se algum eleitor está ainda reticente sobre o tal “apoio bolsonarista” que Raquel recebeu na eleição, explico que isso faz parte da democracia e que esses pernambucanos devem ser respeitados e ouvidos também. É preciso focar no que nos une e não naquilo que nos separa.

E, para além disso, conto uma história do início desse segundo turno que já se encerrou. Raquel Lyra estava vivendo o luto pela morte do marido, quando o telefone de um familiar dela tocou. Do outro lado da linha estava o presidente eleito, Lula. A conversa, após os pêsames, foi sobre o apoio da tucana. Em seguida, outros integrantes do PT de Pernambuco e do PSDB, entre eles Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati, conversaram com Raquel. A proposta era para que ela declarasse apoio a Lula.

O então candidato usaria o palanque duplo no estado como justificativa para não vir a Pernambuco e liberaria os petistas e os socialistas para apoiar quem eles quisessem. Raquel teria, segundo uma fonte, agradecido e recusado a proposta. Afirmou que não iria pedir votos para Bolsonaro, mas também não o faria para Lula. Queria fazer diferente do que é habitual. E fez.

Terminou com 3.113.415 votos. É a maior votação em segundo turno das eleições pernambucanas na Nova República. Em números, só perde para a reeleição de Eduardo Campos, que teve 3,4 milhões de votos, no primeiro turno, em 2010.

João isolado?

A derrota do PSB no primeiro turno e a vitória de Raquel devem mudar o jogo programado para o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Todo mundo fazia as contas de ele sendo reeleito na gestão da capital em 2024 e saindo em 2026 para disputar o governo do estado. Agora, se ficar isolado, até a reeleição estará bastante ameaçada.

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