Raquel Lyra (PSDB) não deve declarar voto em ninguém para presidente da República. O discurso, provavelmente, será o de trabalhar com qualquer um que seja eleito. A situação política da tucana pode ser resumida como a de um “desconforto confortável”.
Há a questão da “falta de santo sobre o andor”. Acredita-se que seja muito difícil levar à frente uma eleição de segundo turno em que não há posicionamento entre duas opções nacionais, quando elas estão postas. Por outro lado, o discurso de trabalhar com a decisão do eleitor e não com os acordos políticos e partidários dá à candidata uma liberdade de ação maior e fuga das rejeições. Uma disputa de segundo turno é, antes de tudo, um debate sobre o motivo de você não votar em quem você não vota.
Ela não pedirá votos para Bolsonaro (PL) por uma razão simples: a rejeição de Marília Arraes (SD) entre os 30% de pernambucanos que votaram no atual presidente, é muito alta. Essa antipatia do eleitor bolsonarista com Marília tende a aumentar na medida em que o PT declarou apoio a ela e o PSB, apesar de rachado, praticamente fez o mesmo. Raquel não pede votos para Bolsonaro, mas Marília e o PT são os “inimigos”. A lei da gravidade faz o resto.
Por outro lado, é preciso medir com atenção a realidade do poder de transferência de votos lulistas em Pernambuco. Isso, por mais representativo que tenha sido o primeiro turno, ainda é uma incógnita. Pode ser que Lula promova uma avalanche de votos direcionados à Marília e que suplante qualquer reação de Raquel. Mas, também, pode ser que o potencial de Marília para atrair esses votos não seja suficiente por causa da rejeição dela ou por critérios regionais.
Basta fazer uma conta simples: Lula teve 65% dos votos. Danilo Cabral (PSB), candidato oficial dele, alcançou 18% e Marília (candidata lulista informal) teve 23%. Somados, dá 41%. Para onde foram os outros 24%? A maior parte para Raquel e Miguel Coelho (UB).
Havia duas opções “lulistas” e eles não votaram em nenhuma delas. Agora, esses 24% votarão em Marília, apoiada pelo partido de Danilo? Fora isso, Miguel e Raquel tiveram a força do voto regional, daqueles que votaram neles pela proximidade e pelo período em que foram prefeitos de Caruaru e de Petrolina.
Por via das dúvidas, a tendência é que Raquel não peça voto para Bolsonaro e nem para Lula. O discurso seria que Pernambuco já perdeu muito sendo amigo ou inimigo de presidentes e precisa trabalhar com qualquer um que esteja no Planalto, porque "o povo pernambucano não deve sofrer, rendido a interesses partidários e pessoais".
Na missa de sétimo dia pelo marido de Raquel Lyra (PSDB), Fernando Lucena, a presença da viúva de Eduardo Campos chamou a atenção de todos. Renata Campos é mãe do prefeito do Recife e a missa aconteceu praticamente no dia em que a discussão que praticamente encaminhou o PSB a apoiar Marília Arraes (SD) estava mais quente. Houve quem defendesse que a presença da matriarca dos Campos seria uma sinalização de que, no racha socialista, Raquel ficaria com João Campos (PSB) e para Marília sobraria Paulo Câmara (PSB).
Os dois lados, de Raquel e de Renata, garantem que não há nenhuma extensão e que o gesto foi apenas uma questão de solidariedade. “Só isso, questão de humanidade, sem consequências ou articulações políticas. Não houve qualquer conversa nesse sentido”, garantiu uma fonte à coluna.
Renata agiu como, muitos acreditam, deveria ter sido a atitude de Marília Arraes desde o domingo da eleição. Mostrar solidariedade num momento como esse vai além da disputa eleitoral. A candidata que disputa o segundo turno contra Raquel foi muito criticada por partir para o ataque contra a adversária no dia em que ela havia perdido o marido.
Anderson Ferreira (PL), que também disputou o governo do estado e ainda não declarou voto em Marília ou Raquel, também esteve na missa. A especulação é que os votos de Bolsonaro (PL) em Pernambuco, por causa do apoio do PT à Marília, irão para Raquel Lyra.
No início do processo, os dois chegaram a fazer campanha juntos e pretendiam formar um palanque só, com Miguel Coelho. O que não vingou.