Nos próximos dias teremos uma das semanas mais longas de nossa História. Cada dia passa, com o peso dos acontecimentos e a tensão do ambiente, parecendo que se passou um mês inteiro.
Começou, neste domingo (23), com balas de fuzil e granadas disparadas por um ex-deputado federal com extensa ficha policial e apoiador de Bolsonaro (PL). O alvo, acreditem ou não os roteiristas de ficção, foi a própria Polícia Federal.
A pólvora, se era para causar alguma comoção, pode ter sido um tiro no pé do presidente que tenta a reeleição.
Não é preciso ir longe para entender que a campanha bolsonarista foi prejudicada, basta observar as ações e declarações do próprio presidente. Ele demonstrou, desde o início, que foi ruim pra ele.
Primeiro, a repercussão atrapalhou uma “superlive” que a campanha estava realizando com Jair Bolsonaro na internet. Toda a atenção do domingo foi para Roberto Jefferson (PTB) em sua loucura pública mais recente.
De forma geral, a campanha de reeleição tem dois objetivos para tentar vencer Lula (PT): diminuir a rejeição do presidente e aumentar a abstenção do adversário. Não é por acaso que o Bolsonaro, visto pelo público como alguém que chega a ser raivoso em determinados momentos, tem se apresentado calmo e pacífico. O eleitor que não vota nele pelo seu aparente descontrole, precisava acreditar que ele é capaz de governar sendo mais racional.
Reforçar a ideia de que o bolsonarismo é formado por “esse tipo de gente”, descontrolada e que não respeita nem a Polícia Federal, era a última coisa que se esperava para a última semana da eleição. Tanto pode passar a ideia de um governo caótico como pode acirrar os ânimos dos eleitores de Lula e fazer com que eles tomem gosto por ir às urnas.
Mas a reação de Bolsonaro ao ocorrido é que foi o sintoma maior de que Jefferson, além do crime, fez “bobagem” e prejudicou sua reeleição. O presidente se apressou em dizer que repudia o ato do ex-deputado, numa tentativa de se mostrar contrário a esse tipo de escalada de violência.
Ainda na live que promovia dentro da campanha deste domingo, Bolsonaro tentou se afastar ainda mais de Jefferson afirmando que não tinha nem foto com ele. “Não tem uma foto dele comigo. Não tem nada”, garantiu. O presidente foi desmentido quase que de imediato pelos principais portais de notícias do Brasil. O que não faltam são fotos dos dois juntos.
A tentativa desesperada de dizer que “nem foto” havia com ele, quando há muitas, só mostra a preocupação urgente do presidente com a repercussão do caso. A declaração seguinte, na qual disse que “quem atira em polícia é bandido”, é mais um sintoma disso.
Provavelmente, a ação de Roberto Jefferson provocou críticas dentro da própria bolha bolsonarista que, sabe-se, admira bastante a Polícia Federal.
Não parou por aí. Logo quando soube do ocorrido, Bolsonaro determinou que o ministro da Justiça saísse de Brasília e fosse até o Rio de Janeiro “acompanhar o episódio”.
O problema é que Jefferson havia dito que só se entregaria com a presença do ministro. A ordem anunciada pelo presidente e a exigência do criminoso (atirou na polícia) soaram vinculadas e as críticas sobre Bolsonaro estar tentando “ajudar” o ex-deputado tomaram as redes sociais.
Em mais um indício de que a campanha mandou ele se afastar do caso, a ordem parece ter sido revogada e o ministro nunca chegou à casa de Jefferson, que enfim se entregou.
Os acontecimentos da tarde deste domingo são muito ruins para o presidente, iniciando uma semana em que ele já vai enfrentar um grande desafio que é perder quase todas as inserções em Rádio e TV a que teria direito pelo uso de informações falsas na propaganda eleitoral do segundo turno. Lula ganhou mais de 100 inserções que originalmente seriam do adversário.
É a última semana, Bolsonaro precisa tirar mais de 6 milhões de votos de diferença, diminuindo a própria rejeição, terá pouco tempo de propaganda, e um aliado ainda apronta isso. Não é fácil.