O Brasil entrou no domingo da eleição dividido em pesquisas e saiu dividido pelos resultados da urna. A confirmação de uma linha que divide o país em dois blocos é o maior desafio para o presidente eleito. De Bolsonaro (PL), dados os últimos anos de eterna manutenção de palanque, imagina-se que manteria tudo como está, porque ele aprendeu a conviver com a divisão.
Lula (PT), por sua vez, acostumou-se a dividir o país em “nós contra eles” durante as campanhas e confiava na tradição de que os palanques se desarmavam após o resultado.
Isso porque, em suas duas vitórias anteriores, o petista terminou com mais de 20 pontos percentuais em relação aos adversários.
Desta vez, a diferença foi de cerca de 1,7 ponto percentual. O Brasil não tem boas lembranças de eleições vencidas com margem de diferença tão pequena. Em 1989, Collor venceu o próprio Lula com diferença de 6 pontos percentuais. Em 2014, Dilma Rousseff (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) com diferença de 3,3 pontos percentuais. O que esses dois exemplos têm em comum? Você já deve ter adivinhado. Os presidentes tiveram dificuldade para formar uma base no Congresso e acabaram impedidos.
É claro que o ambiente político era diferente em 1989 e em 2014, mas a dificuldade será grande. A vantagem de Lula, mais uma vez, será Bolsonaro. O Legislativo está cansado dos problemas causados pelo atual presidente. Há um cansaço nas instituições, um esgotamento por tensão e estresse. Essas instituições tendem a dar suporte ao petista, para evitar a instabilidade outra vez.
Não foi por acaso que o presidente da Câmara Arthur Lira (PP), aliado de Bolsonaro, apressou-se em reconhecer a vitória do petista. É verdade que ele quer continuar presidente em 2023, mas ele também sabe que as instituições vão funcionar contra qualquer tipo de obstáculo a Lula, por culpa de Bolsonaro.
Nessas instituições, a verdade é que ninguém aguentava mais o presidente atual. Lira ter reconhecido de imediato a vitória petista foi para dar o recado de que está com o grupo, para garantir o governo Lula.
O partido de Lira, inclusive, será muito importante no processo do petista para formar sua base de governo. O PP fez 47 deputados.
O PT conseguiu 68 parlamentares e o PL de Bolsonaro conseguiu 99 cadeiras.
Mas, Lula deve ter o apoio de PDT, MDB, PSD, PSB, PSOL, PV e Rede. Hoje, a base do governo pode chegar a 150 deputados. Somando aos petistas, chega-se a 218 parlamentares, o que evita um impeachment (se essa for a questão), mas ainda não é maioria suficiente para aprovar matérias importantes no Congresso.
É preciso chegar à maioria simples de 257 para garantir governabilidade.
Deputados do PL (99), do PP (47), do União Brasil (59) e do Republicanos (41), serão cortejados para completar essa conta.
Desses, além de Arthur Lira acenando pelo PP, o mais aproximado é o Republicanos. Apesar de estar com Bolsonaro no palanque que se desmontou esta semana, o partido brigou muito com a campanha e deixou uma ponte com Lula, um deputado pernambucano: Silvio Costa Filho (Republicanos).
A sigla também é importante para Lula, porque fez o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas. Outro que se apressou em reconhecer a vitória lulista e dizer que vai trabalhar com ele.