Quase no mesmo dia, crises na América do Sul, em países com presidentes de esquerda, obrigaram Lula (PT) a se pronunciar.
Na Argentina e no Peru, os acontecimentos vitimaram aliados dos petistas brasileiros. Mas, as reações diferentes do presidente eleito do Brasil comprovam que na história sobre o “copo estar meio cheio ou meio vazio”, tudo depende do tamanho da sede de quem o segura.
A vice-presidente Cristina Kirchner, da Argentina, foi condenada a seis anos de prisão por corrupção, num processo legal, que observou bem a legislação com todos os trâmites necessários.
Nesse caso o presidente eleito brasileiro teve a chance de se solidarizar com a amiga porque também foi condenado e preso por aqui e era uma forma de mostrar que há uma perseguição à esquerda. Lula até aprendeu uma palavra nova para usar nesses casos, ensinada provavelmente pelo seu advogado e futuro ministro do STF, Cristiano Zanin: Lawfare.
Lawfare é "usar o Direito como instrumento de guerra política". Law é lei, em inglês e Warfare significa guerra.
Depois que aprendeu esse termo, Lula resolveu que todo uso da lei com o qual não concorda é “Lawfare”.
Serviu para Kirchner, mas não serve para Castillo.
Não funciona por enquanto quando se trata de um autogolpe, como o que quase aconteceu no Peru. Porque a crise peruana foi, basicamente, uma realização de todas as ameaças que os petistas diziam que o Brasil vivia com Bolsonaro e que, por aqui, nunca vingaram.
A diferença é que, lá, o autor do golpe foi um colega presidente de esquerda, de uma mesma vertente sindicalista. Mesmo assim, entre a solidariedade e a chance de mostrar, no Brasil, que o bolsonarismo é um risco real, com o exemplo de outro país, Lula foi na segunda opção e condenou a atitude de Castillo.
O peruano tentou dissolver o Congresso. O problema é que, creiam, diferente de Kirchner com sua corrupção, Castillo tinha apoio da Constituição Peruana para fazer o que fez, num país em que as instituições foram enfraquecidas nos últimos 30 anos por autogolpes e escândalos de corrupção, desde Alberto Fujimori.
É uma maluquice, comparando com outros países, mas dissolver o Congresso por lá é algo bem simples.
Caso Lula já estivesse diplomado e empossado, talvez defendesse o direito de Castillo usar o texto constitucional do país dele e ainda invocaria outro termo que aprendeu há algum tempo quando precisou defender ditaduras na América Latina: a “autodeterminação dos povos”.
Para quem não lembra, é esse o argumento que ele costuma usar quando diz que não pode condenar publicamente Daniel Ortega, ditador da Nicarágua, da esquerda sandinista.
Se Bolsonaro não fosse ainda presidente, Lula diria que o Congresso praticou Lawfare contra Castillo. E que não podia condenar o colega para não ferir a "autodeterminação" dos peruanos.
Aguardemos, então, pelo mês de janeiro, pra saber o que Lula realmente pensa. Por enquanto, está difícil descobrir.
No anúncio que Lula faz esta semana com nomes que vão compor seu ministério, há pelo menos um pernambucano. José Múcio Monteiro será, mesmo, ministro da Defesa. Ele foi aprovado pelas Forças Armadas, em consultas informais, e agrada a todos. Até o vice-presidente Hamilton Mourão saiu em defesa dele recentemente.
Além de Múcio, Fernando Haddad (PT) deve mesmo assumir o ministério da Fazenda e Simone Tebet (MDB) deve ser anunciada como ministra, provavelmente, numa pasta que cuida dos programas de Assistência Social do governo. Havia uma discussão no MDB, que queria Simone Tebet como cota pessoal de Lula para poder indicar um segundo nome.
O PT não aceitou e, há alguns dias, a presidência do partido emitiu nota afirmando que “Tebet era a escolha do MDB”.
Não será anunciado agora, ainda, mas outra pernambucana também pode compor o governo Lula. A atual vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), está sendo cogitada para um ministério.
Ela entraria numa cota do partido, do qual é presidente nacional.
Quem também espera algum espaço no governo Lula é o PDT. Wolney Queiroz (PDT) atual líder da oposição a Bolsonaro, que não foi reeleito, faz parte da equipe de transição, mas não se fala em ministério para ele. O PDT deve ocupar uma pasta, mas deve ser com uma mulher.
O atual deputado federal, que também coordena a bancada pernambucana em Brasília, pode ocupar um outro cargo, indicado pelo partido.
Humberto Costa (PT) tem dito a quem interessar possa que não pretende ser ministro da Saúde.
Um político próximo ao senador pernambucano, com quem a coluna conversou, brincou com a informação: "Humberto pode ser muita coisa, mas besta ele não é. Ministério da Saúde vai dar dor de cabeça".