Eleição que vai definir o tamanho da esquerda e da direita no Brasil não é a que passou, mas a próxima

Um lado dessa disputa terá o cofre da União. O outro terá o Valdemar
Igor Maciel
Publicado em 24/12/2022 às 0:01
Lula e Bolsonaro Foto: MAURO PIMENTEL/AFP


Engana-se quem acredita que a eleição de presidente definiu o tamanho da esquerda e da direita no Brasil. Quem vai definir isso é a eleição de 2024.

Um fato sobre isso ocorreu durante uma reunião da qual participaram representantes da Unesco, do Todos Pela Educação e Geraldo Alckmin (PSB). Em determinado momento, o vice-presidente da República soltou a seguinte frase: “o século 19 foi dos impérios, o século 20 foi dos países e o século 21 é o das cidades”.

A conversa era sobre educação, mas entrega uma preocupação do governo Lula nesses próximos dois anos com a política municipal.

Há bastante empenho para batalhar por sucesso na próxima trincheira eleitoral entre o lulismo e o bolsonarismo no Brasil: as eleições municipais.

Quando terminou a eleição de 2022, o derrotado Bolsonaro (PL), nos suspiros que deu em meio à depressão, tentou se colocar na posição de líder da direita no Brasil e o objetivo é, claramente, fortalecer seu grupo nas eleições de 2024.

Não ficou só no verbo frouxo e foi à prática, conversando com Valdemar Costa Neto (PL) para que o partido lhe garantisse casa, comida, advogados e estrutura que lhe permitisse comandar o processo eleitoral do grupo.

A ideia é fortalecer sua base nas cidades e ensaiar até a possibilidade de uma volta à presidência, com ele ou um aliado, no futuro bem próximo.

O PT quer combater essa construção fazendo algo que o próprio Bolsonaro prometeu e não cumpriu durante seus quatro anos: o tal do “mais Brasil e menos Brasília”. A promessa, porém, é muito mais fácil do que a prática. Deu errado com o atual gestor e isso também vale para o PT de agora, porque não é possível fortalecer os municípios brasileiros sem mudar o regime tributário.

Então, a saída é controlar o fluxo do dinheiro.

Hoje, quase tudo do que é arrecadado fica com a União para ser distribuído por critérios políticos e populacionais. Mais político do que populacional, na verdade.

Os repasses por emendas são cada vez mais protagonistas do que o fluxo direto entre entes federativos. Isso torna prefeitos reféns de deputados e senadores com suas emendas parlamentares. A palavra é essa: “refém”.

Gestor municipal que quer investir algo, além de pagar funcionário, que quer ir além do básico, precisa ter um deputado como “amigo do peito” e atender aos interesses eleitorais dele. Caso contrário, não sobrevive.

Bolsonaro teve um péssimo resultado nas eleições municipais de 2020. Primeiro porque o pleito se deu durante a pandemia, quando a popularidade do presidente era mais rasteira do que pé de melancia e depois porque o presidente tinha passado os dois primeiros anos brigando com o Congresso.

Antes de correr o risco do impeachment e fazer acordo com o centrão, Bolsonaro era inimigo da Câmara e do Senado. Os deputados e senadores, então, trataram de distribuir suas emendas aos prefeitos com o intuito de impor uma derrota ao bolsonarismo. Foi o que aconteceu.

Lula não é iniciante e não vai cometer o mesmo erro. A relação dele com o Congresso já é boa, mesmo antes de começar o governo. Mas o fato de o PT enfrentar uma bancada de oposição consistente, que elegeu muitos parlamentares, pode dificultar.

É por isso que existe uma preocupação tão grande em formar um ministério que contemple os partidos aliados do palanque e até os que só chegaram agora.

Dar três ministérios ao MDB, incluindo o de Simone Tebet (MDB), não é somente para ter os 42 votos do partido na Câmara.

Dar dois ministérios ao PSD, que nem apoiou Lula na eleição, não é somente pelos 42 votos que a sigla também tem.

Isso é importante, mas o fato de o MDB e o PSD serem os partidos que mais fizeram prefeitos em 2020 é essencial nessa estratégia. As duas siglas, juntas, comandam quase 30% de todos os prefeitos do país.

Em outra frente, Lula tratou de colocar nos ministérios ex-governadores que elegeram seus sucessores no Nordeste e comandam grupos políticos regionais. A quantidade de governadores do Nordeste foi pontuada pelo colunista Fernando Castilho, neste JC.

Flávio Dino (PSB), Wellington Dias (PT), Camilo Santana (PT), Rui Costa (PT) e Renan Filho (MDB) terão as pastas para fortalecer seus grupos políticos e brigar por prefeituras em suas áreas.

A eleição de 2024 já começou, antes mesmo de Lula assumir, e é ela quem vai definir o tamanho da esquerda e da direita, do bolsonarismo e do lulismo, no Brasil.

A diferença é que um lado terá a máquina e o cofre da União para militar.

O outro lado tem só o Valdemar.

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