O papel de Raquel Lyra e de João Campos (juntos!) na construção de legados em Pernambuco

Interesses eleitorais e partidários precisam ser deixados de lado em nome de algo que atravesse mandatos e garanta habitação e segurança para as pessoas nas chuvas
Igor Maciel
Publicado em 06/02/2023 às 17:04
JOÃO CAMPOS - PCR - PREFEITO DO RECIFE Foto: GUGA MATOS/JC IMAGEM


As chuvas que caíram no Grande Recife neste início de semana já deixaram vítimas. A falta de estrutura das cidades pernambucanas faz com que um fenômeno natural previsto com boa antecedência e de frequência conhecida sempre deixe mortes a cada ano.

Os gestores estão sempre buscando um sinal de exclamação, um espanto, para justificar o que não passa de incompetência e falta de recursos, misturados em porções diferentes para cada prefeito ou prefeita.

A chuva matar ou não matar, causar estragos ou não, depende muito mais do nível da maré no momento em que o tempo fecha do que da prevenção que os gestores constroem ao longo do tempo. Por isso a chuva que causa problemas é sempre a “maior da História”. Uma desculpa esfarrapada.

É, realmente, impressionante que tenha chovido, em 24h, mais de 60% do que estava previsto para o mês inteiro. Mas uma Região Metropolitana como a do Recife, com tanta gente morando nos morros e encostas, precisa estar preparada para 200% de chuva, sem desculpas. Ou deveria tirar essas pessoas de lá.

O custo é alto e não se trata de algo eficiente do ponto de vista da gestão pública, porque o gasto vai ser muito alto?

Caro é ter que contar cadáveres, diria alguém sensato. Mas, fosse a sensatez a matéria prima da gestão pública, certas tragédias no Brasil não passariam sem algum prefeito preso, no mínimo.

Ninguém mora em área de risco porque acha a vista bonita. Muitos são retirados e voltam pra lá porque não tem onde viver. O déficit habitacional em Pernambuco é vergonhoso.

Há alguns dias a secretária de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Estado, Simone Nunes, que assumiu o cargo em janeiro, foi fazer uma visita a um habitacional de Jaboatão que está sendo construído, acredite, desde 2010.

São 272 casas que, no espaço de quase 13 anos, ninguém conseguiu terminar. Será que algumas das pessoas que morreram no Jardim Primavera, na tragédia de 2022 em Jaboatão e Recife, poderiam ter morado lá?

Neste período, as obras foram paralisadas por três vezes e, abandonadas por um período. O canteiro chegou a ser invadido. Desde a retomada do empreendimento em 2019, o Estado já desembolsou mais de R$ 12 milhões. E ninguém mora lá ainda.

No Recife também há exemplos de obras atrasadas, travadas, inconclusas. Quem não lembra dos últimos dias da gestão de Geraldo Julio (PSB), quando o então prefeito posou com tratores, fazendo sinal de positivo, após anunciar obras que ainda não foram entregues após mais de dois anos.

Quem nunca viu, passando pela Via Mangue, o habitacional Encanta Moça, que ainda não foi entregue?

Estamos falando de obras que foram planejadas e iniciadas enquanto o prefeito e o governador eram do mesmo partido, do mesmo grupo político, da mesma cozinha. E essa cozinha nunca fez direito nem feijão com arroz.

Se não deu certo até agora, dará com governo e prefeitura em campos opostos? Precisa.

E esse texto é exatamente para lembrar que muito mais do que uma página na história ou uma impressão geral, gestores públicos precisam deixar legados concretos de suas passagens e se perpetuar por esse legado.

João Campos (PSB), e seus colegas prefeitos da Região Metropolitana, poderiam se unir agora, independente de qualquer traço político e partidário, para juntos entrarem para a História.

Fazer carnaval é importante, manter a cidade funcionando é essencial, tentar melhorar a mobilidade urbana é urgente, mas legados precisam ser duradouros e atravessar a gestão dos sucessores.

No campo da habitação, para evitar as mortes nessas tragédias, o que esses prefeitos do Recife e da Região Metropolitana fizeram em quase dois anos e meio de mandato?

Papel da governadora

A governadora Raquel Lyra (PSDB) tem papel chave nesse trabalho. Ela já chamou prefeitos da Região Metropolitana para conversar, mas as reuniões que vêm acontecendo no Palácio têm chamado mais atenção dos que participam pela repetição de críticas ao ex-governador Paulo Câmara (sem partido) do que por proposições.

É preciso parar de olhar para trás e começar a construção de legados.

"Viver bem é a melhor vingança", uma frase famosa que pode ser adaptada para o momento atual: "governar bem é a melhor vingança".

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