Na prática, o que o governo Raquel Lyra (PSDB) vem dizendo desde que assumiu a chave do cofre é que ele estava com algum dinheiro e com muitos boletos a pagar também.
Agora, a Secretaria da Fazenda apresenta um relatório apontando que já pagou, este ano, mais de R$ 600 milhões em dívidas deixadas por Paulo Câmara (PSB).
E ainda falta pagar mais de R$ 300 milhões.
Segundo o secretário, Wilson José de Paula, "dos R$ 395 milhões de disponibilidade de caixa de recursos não vinculados, R$ 303 milhões já foram obrigatoriamente utilizados na primeira semana do governo”.
Do outro lado, desde o fim do ano passado, a equipe de Paulo Câmara afirma que deixou o estado com dinheiro suficiente para pagar tudo e até investir. É um mistério que as contas não batam, é como se cada um trabalhasse com uma matemática diferente.
Mas, isso importa pouco se na ponta tem gente sem receber salário ou tendo prejuízo por falta de serviços.
A verdade é que há reclamação sobre contratos que não estão sendo pagos, terceirizados sem receber salários e serviços funcionando com precariedade pela falta de pagamento e, nessa altura, discutir quem tem razão é uma perda de tempo que precisa ficar pra Justiça, se for caso de Justiça.
A gestão atual precisa se mobilizar para apresentar uma solução, um plano de recuperação dos cofres que permita equilibrar e honrar os compromissos do Estado. Mais que isso, é preciso pensar em como investir e de onde virá o dinheiro.
Há um plano para isso?
Para resolver qualquer coisa no futuro a governadora Raquel Lyra (PSDB) vai precisar de um Legislativo trabalhando. Isso não está acontecendo.
E o problema é, exatamente, a dificuldade de articulação política do governo na Casa.
As comissões na Alepe ainda não foram definidas porque a gestão não conseguiu aparar as arestas com alguns deputados, entre outras coisas, ressentidos com uma alegada falta de diálogo.
Ao ponto de a Situação ter sido acusada nos bastidores de fazer uma manobra para não perder a indicação que faria numa das comissões, com parlamentares deixando a sala para evitar a votação que acabaria em derrota.
Até agora, o PSDB só conseguiu garantir a base do governo com o PP e o Patriotas, totalizando 12 deputados. É pouco, se você considerar que O PSB, sozinho, tem 13 deputados e, como formou bancada com o PSOL, ficará com 14 parlamentares, incluindo a nova líder da Oposição: Dani Portela (PSOL).
Há uma bancada independente, da qual esta coluna já falou e que paira como uma espada sobre a cabeça da gestão, com o maior número de parlamentares não comprometidos com o governo.
Raquel ainda não sentou com os partidos para negociar espaços no segundo e terceiro escalão e para falar sobre governabilidade. Esse distanciamento tem preço.
Se está difícil agora para garantir suas necessidades em algo como o comando das comissões da Alepe, imagine quando projetos importantes precisarem ser votados.
Um exemplo é o União Brasil, que tem o irmão de Miguel Coelho (UB), o deputado estadual Antônio Coelho (UB), em suas fileiras, é uma sigla que acabou ficando excluída do diálogo de composição do governo, mesmo Miguel tendo apoiado Raquel no segundo turno.
Resultado é que o partido, agora nessa novela das comissões, chegou a se aproximar até do PT, na Alepe, aumentando a pressão na governadora.
É difícil organizar a casa sem colocar os móveis em suas posições, de forma que liberem espaço.
Sem colocar cada coisa no seu lugar, será preciso viver desviando e tropeçando nos partidos para fazer até as coisas mais simples como percorrer um corredor.
A escolhida para liderar a oposição, Dani Portela (PSOL), é novata na Alepe, mas já chega numa posição de destaque após uma ascensão intensa.
Em quatro anos, ela saiu de candidata olímpica ao governo, em 2018, para ser a vereadora mais votada do Recife em 2020 e deputada estadual, líder da oposição, em 2022.
Nos bastidores se diz que ela tem muito potencial e a única coisa que pode atrapalhar seu futuro é a interferência do próprio partido. A ver.