O ministro Fernando Haddad (PT), tenta fazer o papel de “Grilo Falante” para o presidente da República. Mas o titular da Fazenda atua de maneira diferente do que está nos livros.
O Grilo Falante é um personagem da literatura infantil, do escritor italiano Carlo Collodi em seu livro "As Aventuras de Pinóquio". O Grilo aparece como uma consciência moral para Pinóquio, incentivando-o a fazer escolhas melhores e ensinando as consequências de suas ações. Na história, o Grilo é inicialmente ignorado por Pinóquio, que o mata com um martelo. No entanto, o Grilo volta à vida como uma consciência falante, seguindo Pinóquio em suas aventuras e ensinando-lhe importantes lições sobre honestidade, responsabilidade e autocontrole.
Haddad tem sido um Grilo Falante que fala pelo governo Lula através da imprensa, como se fosse um tipo de relações públicas da normalidade dentro do caos que os petistas costumam provocar com suas declarações e ideias baseadas nos escombros de conceitos demolidos junto com o Muro de Berlim.
É algo que serve bem para o presidente também. Lula faz sua política, despreocupado de sua responsabilidade formal com as consequências, e Haddad vai lá fazer o papel de consciência viva e ativa para amenizar o impacto.
Lula descasca em críticas o presidente do Banco Central, por exemplo, e Haddad vai à imprensa dizer que não é bem assim e que o governo respeita a autonomia do Banco.
Sempre que isso acontece, há um objetivo maior incluso. No caso do Banco Central, Lula agrada seus eleitores mais radicais, satisfaz os petistas mais sedentos e usa os juros altos como bode expiatório para a ausência de resultados da qual seu governo ainda não se livrou, mas evita uma crise maior com o discurso de Haddad acalmando o mercado depois.
No caso da China, o ministro cumpre o mesmo papel. Lula dá declarações de aproximação maior com os chineses e de afastamento com os EUA. É um jeito de pressionar os americanos e dizer que "se eles não investirem no Brasil, tem quem queira investir e não é com pouco dinheiro".
Imediatamente, Haddad corre à imprensa e declara: "Não temos intenção de nos afastar de ninguém, ainda mais de um parceiro da qualidade dos Estados Unidos".
É a consciência atuando para não fechar as portas aos norte-americanos que, recentemente, receberam o presidente brasileiro, mas não conseguiram oferecer nenhuma boa proposta financeira de investimento por aqui. A verdade é que, nos últimos anos, até empresas americanas deixaram o Brasil e não têm intenção de retornar. Investir em países sul-americanos não rende votos na eleição americana que já se aproxima. Colocar dinheiro na guerra da Ucrânia para enfrentar a Rússia, sim. Biden é candidato à reeleição.
Lula chuta o balde, Haddad limpa o piso pra ninguém escorregar. O ministro da Fazenda vai, até agora, cumprindo bem o papel de relações públicas da normalidade nesse governo, embora cultive inimigos entre os petistas.
E, por isso, ele precisa ter cuidado. Ter muita consciência e equilíbrio num ambiente como o do PT costuma ser perigoso.
É bom lembrar que o Grilo Falante, na história, quando fala demais, cortando a empolgação inconsequente do menino de madeira, acaba levando uma martelada.
Uma anotação importante sobre os R$ 50 milhões que o Governo do Estado conseguiu garantir junto ao Governo Federal para as obras da Adutora do Agreste é que isso acontece apesar de Raquel Lyra (PSDB) estar num partido que não é alinhado ao governo Lula (PT).
Desde que o PSB brigou com Dilma Rousseff (PT), entre 2013 e 2014, a Adutora do Agreste teve as obras travadas. O dinheiro parou de chegar ou chegou em fatias pequenas.
A estratégia eleitoral da governadora de Pernambuco em 2022, de não descer do muro e não declarar voto nem em Lula e nem em Bolsonaro, vai mostrando resultados.
Vale lembrar a fala do próprio presidente a aliados do Recife, quando foi questionado por petistas sobre a necessidade de almoçar com Raquel no Palácio, na última visita a Pernambuco: “eu não tenho motivos pra não ir. Ela tem sido muito correta conosco”.