A pesquisa que trouxe notícias ruins para Lula, mas deixou o governo otimista

Confira a coluna Cena Política deste domingo (11)
Igor Maciel
Publicado em 10/06/2023 às 20:00
Secretaria-Geral da Presidência diz que equipamentos foram alvo de tentativa de ataque hacker Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil


Na pesquisa Ipec divulgada no fim da semana, referente ao mês de maio, até é possível enxergar alguma notícia boa para Lula (PT) se você olhar para o futuro. No que diz respeito ao tempo presente, neste em que comemos e pagamos nossas contas, os números são bem ruins e preocuparam consideravelmente o governo.

A notícia boa eu conto no fim desse texto, porque a parte ruim é bem mais numerosa e urgente.

A informação negativa que mais chama a atenção diz respeito ao Nordeste. A avaliação positiva do petista por aqui ainda é muito alta, mas caiu 10 p.p. É bom explicar que o Ipec (ex-Ibope) vem fazendo pesquisas de avaliação sobre o Governo Federal desde março e as repete uma vez ao mês. A taxa de aprovação ao governo no Nordeste recuou de 55% para 45% desde abril e isso assustou porque a região é tida como uma reserva de capital eleitoral fiel ao atual presidente. É como se a paciência estivesse acabando entre os nordestinos, numa velocidade mais alta do que no resto do país.

O crescimento da avaliação negativa em regiões nas quais Lula já não ia bem também chamou a atenção. O maior percentual de avaliações “ruim” ou “péssima” foi registrado nas regiões Norte e Centro-Oeste: 33%. Eram 21% no início das medições, em março.

Outra queda que pode parecer surpreendente se deu entre os eleitores mais pobres de todo o Brasil. Em abril, 53% avaliavam o governo Lula como bom ou ótimo. Agora são 43%. Queda de 10 p.p. também.

Além de tudo isso, a confiança no presidente também caiu no geral. Era 53% em abril e ficou em 50% no mês de maio.

Tem como encontrar alguma notícia boa para o governo nessa pesquisa? Sim. Por incrível que pareça, ela está entre os eleitores com renda mais alta. A classe média e os mais ricos estão começando a acreditar no governo.

É estranho ver isso enquanto Lula se mete em discussões estéreis com o Banco Central, dá trombadas no mercado financeiro e escorrega na política internacional, mas quem ganha acima de dois salários mínimos está começando a enxergar um futuro mais estável para o país.

Na pesquisa, o Ipec identificou que entre os entrevistados com renda maior que cinco salários mínimos a soma de “ótimo” e “bom” passou de 30% para 36%. Já entre os pesquisados que são considerados classe média, entre dois e cinco salários mínimos, o percentual de aprovação passou de 61% para 70%.

Nas últimas semanas, Lula começou a ser melhor aconselhado sobre a estratégia a ser seguida e se afastou um pouco dos petistas mais radicais. Se antes havia uma certa ansiedade para que o presidente agradasse as camadas mais pobres, agora existe um foco na melhora da economia.

O recado é o seguinte: Se a economia melhorar, nos moldes que beneficiem a classe média e os mais ricos, permitindo que eles invistam e gerem empregos, a população mais pobre também será beneficiada com esse aquecimento econômico.

E isso agora pode ser feito, segundo esses conselheiros do presidente, com segurança social, porque o governo já garantiu a volta de programas importantes como o Minha Casa, Minha Vida e o Farmácia Popular, além da ampliação do Bolsa Família. “Os pobres já podem sobreviver melhor do que na época de Bolsonaro. Agora tem que ajudar quem gera emprego, pra poder salvar o país”, comentou um petista em conversa com a coluna.

É nessa esteira que vem, por exemplo, a ideia de incentivar a indústria automobilística, apesar de todas as críticas do setor ambiental que esperava investimento maior em mobilidade limpa. “A prioridade é gerar emprego. Se o povo não tiver emprego, o resto terá que esperar”, comentou este mesmo petista.

Lira "Maia"

Uma observação: Arthur Lira (PP-AL) pode se transformar no Rodrigo Maia de Lula se errar a própria movimentação, acreditando ser maior do que realmente é.

Quando Bolsonaro (PL) virou presidente, em 2019, Rodrigo Maia era o presidente da Câmara e começou a bater de frente e usar seu poder no Legislativo para impedir os planos do Planalto. Atrapalhou muita coisa, foi importante para impedir diversas medidas desajeitadas naquela época, mas começou a acreditar que era mais poderoso que o chefe do Executivo e foi perdendo poder. Terminou engolido pelo grupo de Lira.

Agora, depois de cantar alto demais, Lira pode ter desafinado e cometido o mesmo erro ao desafiar o governo. A Polícia Federal investigando gente próxima a ele é só o começo, pelo que se comenta.

Há uma regra no sistema que opera em Brasília e que todo presidente deveria entender: se você tiver a fidelidade do PGR e da PF, além de maioria no STF, ninguém pode lhe desafiar.

Somente Dilma Rousseff (PT) teve dificuldade para compor esse quadro. Ela acabou impedida e Lula terminou preso exatamente nessa época.

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