Somente a imaturidade republicana, ainda tão presente nos círculos partidários, explica a atitude de quem abre mão de parcerias na gestão pública por questões ideológicas ou pessoais.
É o ponto do qual se parte para entender a postura da governadora Raquel Lyra (PSDB) na relação com o Governo Federal e com as prefeituras do estado. Num ambiente em que fartura financeira não é a regra, é preciso “juntar os dinheiros” para poder fazer alguma coisa.
E, assim, tem funcionado.
Concerto
A governadora deixou isso claro na entrevista que concedeu ao Sistema Jornal do Commercio de Comunicação nesta quarta-feira (6).
Ao responder sobre a relação com o presidente da República e com o Palácio do Planalto: “A gente teve a capacidade de fazer junto essa concertação com o Governo Federal para permitir que sonhos pudessem virar realidade e garantir a confiança deles, por exemplo, para nos entregar, agora, ao invés de sete mil unidades habitacionais, mais de dez mil”.
Vale?
Algum político mais orgulhoso, com fraqueza de espírito público, pode alegar que certas aproximações políticas, ideológicas, não valem a pena.
Mas, se apenas este exemplo citado pela governadora for utilizado para medir a importância de fazer parcerias políticas, independente de cor partidária, podemos dizer que três mil famílias a mais terão um lugar para morar. E não teriam, caso governo e presidente estivessem brigados, rompidos ou não se respeitassem minimamente.
Para três mil famílias, vai valer a pena.
Trava
Não dá para esquecer que o PSB, em seus últimos governos locais, ao longo de 16 anos, conseguiu brigar com Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).
Foram quase 10 anos de birras, interesses partidários, indisposições privadas e oportunismo populista norteando a relação do Palácio do Campo das Princesas com o Planalto. Pior para quem precisava de moradia, estradas, saúde e segurança.
Pelo exemplo dado pela governadora, não há como não pensar que poderíamos ter avançado muito mais. E fomos travados.
Todos
O recado vale para os petistas que ainda torcem o nariz para a aproximação da governadora com o presidente.
Vale também para a direita em Pernambuco que tem dificuldade para processar a parceria e fica pelos bastidores resmungando uma dificuldade em explicar a posição de Raquel para seus eleitores mais radicais.
Pernambuco é prioridade. Tem que ser.
E tem mais
E, para quem reclama que a governadora viaja muito para Brasília. Semana que vem ela estará no aeroporto outra vez.
“Na próxima quarta-feira (13) eu já estarei em Brasília de novo, em busca de novos investimentos para Pernambuco. A gente quer que as coisas aconteçam. Queremos deixar um legado para Pernambuco e isso passa, sim, pela relação com o Governo Federal e com o presidente Lula também”, finalizou.
E a Alepe
A governadora falou também sobre a relação com a Alepe. E, mais uma vez, lembrou a necessidade do viés republicano para tratar dos assuntos entre os dois poderes que, segundo ela, estão precisando se acostumar com um novo jeito de fazer as coisas.
“A mudança da forma de fazer, a mudança de postura, gera um estranhamento da política, em geral, depois de quase 20 anos. Temos uma relação muito republicana, de muito diálogo, para que a gente possa, colocando as nossas prioridades, trazer para junto os representantes legítimos do povo de Pernambuco que estão na Assembleia”, afirmou.
Pétrea
Sobre a relação com a Assembleia, o que a governadora transparece é que não vai atender os deputados, em troca de apoio, usando nada que não seja republicano, que não seja ético. A propósito de toda a pressão que alguns parlamentares fazem nos bastidores para que Raquel “faça mais política”, o aviso é de que isso vai acontecer, vai ser ampliado, mas os limites legais continuarão os mesmos.
A relação republicana é uma regra pétrea. Melhor assim.