O déficit habitacional do Recife é de mais de 70 mil moradias. Significa que, pelo menos, mais de 200 mil pessoas na capital do estado vivem sem um teto para servir de abrigo ou estão em moradias precárias, com risco para a própria segurança.
Não é um problema fácil de resolver, mas a burocracia e a dificuldade do poder público para tratar isso como prioridade tornam a situação ainda pior.
Para completar a tragédia, podemos ficar presos por anos num engano dos gestores públicos sobre o seu próprio legado. Muitos, sem querer enfrentar alguns problemas, preferem ficar na "perfumaria partidária".
Espera
Um exemplo é o residencial Encanta Moça, que está sendo entregue nesta semana pela Prefeitura do Recife. São 600 apartamentos e o empenho de João Campos (PSB) para que o momento acontecesse é verdadeiramente digno de nota positiva, principalmente porque o projeto nem foi dele, mas só ele resolveu.
Ele conseguiu fazer a entrega. Algumas das famílias que vão receber o imóvel, acredite, esperam há pelo menos 10 ou 12 anos pelo cumprimento da promessa que a prefeitura do Recife havia anunciado com toda pompa no passado.
Quase 12 anos atrás
Eram pessoas, famílias, que foram retiradas do local em que sobreviviam para a construção da Via Mangue, por exemplo. No início das obras. Então estamos falando do governo de João da Costa (PT), quando Geraldo Julio (PSB) ainda nem sonhava em ser prefeito por oito anos como veio a ser.
Para dar uma dimensão do atraso na entrega de habitações, o prefeito João Campos tinha saído do Ensino Médio fazia pouco tempo quando essas famílias (100 das 600 que recebem as chaves agora) escutaram a promessa.
Campos, hoje, está com 30 anos.
Burocracia
Entre vários motivos para o atraso um é negativamente incrível no caso do Encanta Moça. Prefeitura e Governo do Estado não se entendiam sobre uma estação da Compesa no local e a obra ficou parada por um bom tempo.
Governador e prefeito eram aliados, eram do mesmo partido, mas não conseguiam solucionar nem uma “bomba” da Compesa num habitacional, com 600 famílias esperando.
Cócoras
Nessa velocidade, em que o déficit avança num trem rápido, enquanto o poder público tenta alcançá-lo de cócoras, fica difícil resolver o problema da habitação.
Se das 70 mil unidades que precisam ser entregues, demoramos até 12 anos para entregar 600, quando as outras 69,4 mil famílias serão contempladas?
Cooperação
A entrega do habitacional Encanta Moça será realizada pelo atual gestor municipal com a presença do ministro das Cidades, Jader Filho. Será o momento certo para reforçar o compromisso pela construção de mais moradias e cobrar mais apoio do Governo Federal e do Governo do Estado nesse sentido.
No anúncio sobre a entrega, o próprio João Campos lembrou que não dá pra fazer nada sozinho. “É com trabalho árduo e cooperação que as coisas acontecem”, disse. Tem razão.
Legado
Cooperação entre poder público e iniciativa privada para acelerar processos. Cooperação entre União, Governo e Município para ampliar as oportunidades. Somente assim alguém consegue deixar um legado digno nessa vida e numa carreira como gestor público. João parece entender isso. O que é bom para o Recife.
Todo o resto, tudo o que é feito com isolamento político e pessoal, é "perfumaria partidária" de quinta categoria e sem valor nenhum, que não dura mais do que o próprio mandato e precisa de fortunas em marketing para conseguir se sustentar. Foi assim por muitos anos em Pernambuco.
E é bom que tenha acabado.