É preciso deixar algo muito claro na briga que Elon Musk tenta provocar com Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal do Brasil: o bilionário não está defendendo a liberdade de expressão e muito menos o cumprimento das leis brasileiras, mas o dinheiro dele.
É preciso partir do princípio no qual o Twitter (hoje “X”) valia 44 bilhões de dólares quando ele comprou a empresa e agora está avaliado em 12 bilhões de dólares. A queda é de 71%, em apenas dois anos.
Prejuízo
Parte importante dessas perdas aconteceu no Brasil, que é um dos maiores mercados do mundo para redes sociais. O faturamento de empresas nesse setor depende do engajamento gerado em contas populares, independente de serem de esquerda ou de direita, independente de cumprirem a constituição local ou incentivarem golpes de estado.
Sem engajamento e popularidade não há publicidade e nem dinheiro para Elon Musk no seu “X”.
Atrapalha o faturamento
Quando um juiz manda bloquear contas de criminosos que geram muito engajamento é comparável a uma rede de fast food ser proibida de vender refrigerantes. Todo mundo sabe que a bebida faz mal, gera obesidade e aumenta a incidência de doenças cardíacas, mas é uma parte importante do faturamento da empresa.
Imagine que a saída das empresas de fast food, então, seja defender o direito da população de se entupir com açúcar, a liberdade para o que vai beber, bancar estudos provando que o açúcar é bom pro organismo ou coisas do tipo. É o que resta à lanchonete para evitar prejuízos.
Isto é essencial na discussão entre Musk e Moraes: não é sobre liberdade, é sobre ter que cumprir leis e perder dinheiro com isso.
Polarização
Está cada vez mais difícil ter juízo e fugir da polarização cretina que vai tomando conta de tudo, mas é um exercício rotineiro e necessário para preservar um mínimo de honestidade intelectual na sociedade. Então, é preciso aproveitar a provocação de Musk para alguns questionamentos.
Por exemplo, por que o combate às fake news tem sido direcionado para apenas um espectro ideológico? A proporção das punições é diferente, quando estas existem, se o crime for cometido por um não bolsonarista? É essa, ao menos, a impressão que existe.
E ele está amparada em alguns fatos.
Janones?
No caso de André Janones (Avante-MG), por exemplo, o deputado admitiu em livro publicado no ano passado ter inventado informações falsas durante a eleição de 2022. Ele teria admitido em seu livro "Janonismo cultural", onde conta os bastidores da eleição presidencial de 2022, que utilizou notícias falsas durante a campanha. Janones nunca teve perfis bloqueados ou foi alvo de pedido de prisão, nunca levou nem um "tapinha na mão".
Pergunta sincera: é porque ele está ao lado da lei ou está sendo protegido por quem a aplica? Tem a ver com o lado político em que está? É verdade que ele não ameaçou o Estado Democrático de Direito, como os outros, mas existe algum nível de mentiras que é permitido nas eleições e outro não?
São perguntas que precisam ser respondidas.
No escuro
Outra questão importante, relacionada às reclamações de Elon Musk, diz respeito às ordens de bloqueio. O bilionário diz que não tem acesso ao motivo das suspensões. Não estão claros, segundo ele, quais os crimes cometidos que levaram às decisões judiciais. Se for verdade, é algo que precisa ser esclarecido.
Não pode haver decisão judicial sem embasamento. Ninguém pode sofrer uma punição sem saber o motivo. O STF precisa dizer se isso é verdade.
Interesses
Na batalha entre Musk e Alexandre de Moraes, um lado não está interessado em liberdade e o outro não está interessado em defender a democracia. O que faz com que os dois polos da cretinice acreditem nisso é a cegueira limitante de suas ideologias.
Quem tem algum juízo precisa questionar as intenções e tentar entender os interesses envolvidos e não aderir à prática da troca de insultos nas redes, como tem sido comum.