Lula (PT) não está conseguindo reverter seus índices de popularidade para o que acredita ser digno de sua história. Quando terminou o segundo mandato, em 2010, estava com mais de 80% de aprovação.
É possível para ele repetir esses resultados? Não. E perseguir isso pode prejudicar o país, trazendo consequências ruins de longa duração.
Sonho
Para começar, vamos entender o básico. Numa democracia em funcionamento, com forças de oposição operantes, ter os índices que Lula tem hoje não é nenhum absurdo.
Índices de popularidade de 80% demonstram um cenário mais condizente com regimes autocráticos ou, é o caso do Brasil de Lula em 2010, democracias governadas por populistas com olhar de curto prazo para a economia e ambiente internacional impecável, sem guerras, com os preços dos commodities nas alturas e livre de estiagens ou quaisquer outros fenômenos que desequilibrem o ambiente.
Esse Brasil não existe mais. E alguém precisa explicar essa situação ao presidente.
Realidade
Ao invés disso, o país enfrentou uma recessão com Dilma Rousseff (PT) da qual ainda não se recuperou completamente, há dois conflitos bélicos de proporção considerável no mundo, incluindo regiões importantes para o comércio brasileiro, a economia internacional ainda se recupera de uma pandemia e a própria equipe da atual gestão petista não é capaz de amarrar os sapatos dos ministros do período Lula 1 e 2, com algumas poucas exceções.
Isso sem pararmos para detalhar aqui a crise ética que o PT impôs à população com o envolvimento em escândalos de corrupção ao longo das últimas duas décadas.
Fantasia dos 80%
A realidade é mais dolorida que nossa fantasia. A primeira leva ao destino certo, mas é um caminho esburacado. Na segunda se flutua suave, mas não se chega a lugar algum. Eis a realidade de Lula: ele devia ficar feliz com seus números e esquecê-los por um tempo, governar como acredita que é melhor para o país, de acordo com o que seus especialistas lhe indicam.
O perigo de perseguir a fantasia dos 80% de aprovação é aumentar a dose dos remédios, querendo chegar mais rápido a um resultado irreal, e terminar matando o paciente no processo.
Bons resultados
Quer saber sobre a realidade? Ela não é tão ruim assim. Nos últimos meses, a pobreza diminuiu, a renda das famílias aumentou e o desemprego teve uma oscilação para baixo. São boas notícias que poderiam estar sendo aproveitadas, mas não são. A impressão é que o governo passou a acreditar que só vale a pena gastar energia no que trouxer popularidade.
E quando o discurso de “pobres contra ricos”, de que “o pobre vai viajar de avião” ou de que “vai fazer as três refeições do dia” não surte efeito nas pesquisas, Lula fica sem rumo.
Apertado
Esses argumentos lulistas não se traduzem em popularidade como antes por um motivo muito simples: é o Lula.
Em seu melhor momento eleitoral, quando estava tentando a reeleição em 2006, ele alcançou 58 milhões de votos. Agora, o atual presidente venceu a eleição de 2022 com a sua maior votação na história. Foram mais de 60 milhões de votos.
A diferença para o segundo colocado, em 2006, foi de 20 milhões de votos. Contra Bolsonaro, em 2022, foi de apenas 2 milhões. Isso dá menos de 1%.
Em 2006, o petista foi iniciar o governo saindo de um pleito no qual a diferença de votos para o segundo colocado era 1000% maior do que a que ele alcançou em 2022.
Desequilíbrio
Com uma diferença tão pequena em relação aos bolsonaristas na eleição, a polarização é protagonista e vai perseguir Lula por todo o mandato, não adianta espernear. Dada a conjuntura, os 50% que o petista alcança em alguns levantamentos deveriam ser motivo para comemorar, pensar no que é melhor para o Brasil, e esquecer as pesquisas.
O maior risco é Lula, dependente que é da sensação de ser amado como se fosse um representação divina popularesca, começar a obrigar os ministros a cometerem excessos que destruam qualquer esperança de equilíbrio fiscal no país.
Espancar
Alguém precisa dizer ao Lula para ficar satisfeito com o que tem à mesa. Os tempos são outros e mudaram também por culpa dele e de seus aliados nos últimos anos. Não adianta reclamar. Espancar a realidade não vai transformá-la em sonho.
E a realidade é a de um governante que já decepcionou muita gente por causa da corrupção e de quem ninguém espera 80% de aprovação, apenas responsabilidade.