A respeito da tragédia que atinge o Rio Grande do Sul, com chuvas e enchentes que até o momento em que este texto estava sendo escrito já mataram mais de 30 pessoas, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), dava entrevista reclamando de um apagão climático no Brasil durante os quatro anos de Jair Bolsonaro (PL).
Marina falou muitas coisas verdadeiras em seu discurso, mas essa conexão politicamente interessada entre a única gestão de um adversário e as tragédias que se repetem há anos na região diz respeito a uma falácia que a auxiliar lulista deveria evitar, no mínimo para ser honesta.
Desequilíbrio
Não se trata apenas disso. Não é só Bolsonaro. O que está acontecendo no sul do país, o que ainda acontece no Nordeste, o desequilíbrio completo que estamos experimentando, é uma construção cruel de muitos anos e de muitos governos, inclusive os anteriores de Lula, inclusive aquele em que a própria Marina já foi ministra.
Décadas
No restante da entrevista, a responsável pela pasta de Meio Ambiente acerta quando diz que os avisos estão sendo dados há mais de três décadas e foram ignorados.
E acerta quando afirma que o estado de emergência climática precisa ser expandido para boa parte do Brasil por motivos diversos. Isso inclui até mesmo as ondas de calor que atingem regiões do país com mais frequência do que nunca.
Pouco
Mas decretar emergência apenas, que é a ação burocrática básica de qualquer governo numa crise, ainda é muito pouco.
Decretar emergência apenas para declarar que se importa, ou somente para ter liberação de dinheiro com mais facilidade, não resolve nada sem um plano de verdade, sem entender a prioridade disso.
Prioritário
É preciso que haja investimento volumoso e contínuo, mesmo quando não houver pessoas penduradas em telhados, nas ações educativas para crianças, jovens e adultos.
É preciso que haja um grande programa nacional de recomposição de vegetação no país inteiro em áreas urbanas. E ainda mais investimento em habitação para liberar os trechos das cidades brasileiras que hoje ocupam leitos de rios, em construções irregulares, em áreas de risco.
Barragens que possam atrasar o impacto das águas sobre as populações também deveriam estar sendo planejadas.
E nada disso foi feito no Rio Grande do Sul. Muito pouco está sendo feito nos outros estados também.
Pernambuco
Em 2010, quando cidades da Mata Sul de Pernambuco foram completamente destruídas pelas chuvas e enchentes, o governador da época, Eduardo Campos, desceu lá num helicóptero, acompanhado do presidente da época, o mesmo Lula de hoje.
Os dois choraram, ficaram comovidos com o sofrimento das pessoas, prometeram construir cinco barragens para que aquilo não acontecesse mais.
Resultado
Depois daquilo, o governo estadual passou outros quatro anos com Eduardo Campos e depois mais oito com Paulo Câmara, seu aliado e colega de partido. O PT ficou mais seis anos no poder, à época, e Lula voltou desde 2023.
Somente uma daquelas barragens prometidas ficou minimamente pronta.
Falacioso
Falácia é usar só um pedaço da verdade para falsear a realidade inteira. Bolsonaro fez um governo ruim em vários setores e o ambiental é um de seus piores exemplos, sim.
Mas não dá pra colocar a culpa de 40 anos de incompetência e displicência governamental somente nele.
Olhar pra frente, por sinal, é o que pode salvar mais vidas. É o que todo o governo Lula anda precisando fazer.