Lula (PT) é um bom presidente, posicionado no tempo errado. Ele não tem o entendimento da progressão nas relações políticas, econômicas e sociais dos últimos 10 anos. Ele também se cercou de pessoas que, iguais a ele, acompanham o mundo por um marcador diferente da realidade atual.
Não é nenhum crime. É natural ter dificuldade para aceitar que as fórmulas sobre as quais você construiu vitórias no passado, hoje encaminham derrotas ou impasses. O problema é levar um país inteiro à reboque da insistência.
Os brasileiros perceberam isso e a última pesquisa Quaest trouxe alguns desses sinais.
Pare por aí
O mais significativo desses alarmes: 55% dos brasileiros acreditam que o atual presidente não deveria ser candidato em 2026. O dado é importante se você levar em conta que o petista venceu em 2022 com um percentual menor que esse. Há eleitores que votaram nele na eleição passada e, agora, preferem que ele não dispute mais.
No Sudeste esse sentimento é ainda maior e o percentual chega a 63% de eleitores pesquisados que não gostariam de ver o atual presidente tentando a reeleição.
Ruim também
Por causa da polarização, há a tendência de o eleitor acreditar que, se está ruim para Lula, o ambiente é bom para Bolsonaro. Errado.
O mesmo levantamento mediu a rejeição dos nossos dois principais populistas antagônicos brasileiros. E Bolsonaro é rejeitado por 54% dos brasileiros.
A rejeição de Lula ficou em 49%. Se a eleição fosse hoje, Lula teria mais chance de ser reeleito.
A questão é que os eleitores não querem nem que ele dispute. A maioria também não quer Bolsonaro.
O que elege
Toda pesquisa é apenas um naco de evidência, mas dela é quase sempre possível extrair sentimentos do ambiente político. Nesse caso, fica mais clara a ideia de que Lula 3 foi muito mais uma fuga do caos que Bolsonaro promovia, do que um reconhecimento pelos “serviços prestados ao mundo”.
O que elegeu Lula foi o temor do que poderia vir a ser um segundo governo bolsonarista. O eleitor estava escolhendo o menor dos males. Só isso.
Libera ele
O risco é Lula pegar essas pesquisas e achar de finalmente perceber que não foi eleito por ser amado, mas porque era a opção menos ruim frente à maluquice.
Aí, ele é capaz de fazer campanha para reabilitar Bolsonaro eleitoralmente. Só para ter a chance de se eleger pela quarta vez. O Brasil, como sempre, ficaria em segundo plano.
Impossível?
Você acha uma maluquice essa possibilidade? Então deveria relembrar que quando Lula foi liberado pelo STF para disputar a eleição de 2022, Bolsonaro não mexeu uma palha e não disse uma palavra contra.
Na época, ele sabia que sua única chance de reeleição era uma disputa do “bem contra o mal”, contra o “comunismo” e “contra a corrupção”. E estava certo.
Só porque o adversário era Lula, Bolsonaro quase conseguiu.
Idosos
O Brasil tem 33 milhões de eleitores com mais de 60 anos. Os idosos já são 21,5% do total de pessoas aptas a votar e com título ativo no país.
Apenas trinta anos atrás, em 1994, pessoas com mais de 60 anos com título de eleitor representavam pouco mais de 10%. Um em cada cinco eleitores é idoso.
O curioso é que o censo de 2022 mostrou que a população com mais de 60 anos no Brasil é de 15,6%. A proporção é maior quando são separados aqueles com título de eleitor. O peso pode ser maior porque eles fazem mais questão de votar.
Não mais
Daí, uma pergunta muito importante surge: o que está sendo oferecido, nas campanhas eleitorais, para atrair esses eleitores? Políticas públicas voltadas para os idosos seriam uma solução? Qual a última vez em que você viu um candidato oferecer algum tipo de promessa específica para os aposentados, por exemplo?
Por exemplo, falava-se mais em políticas voltadas para aposentadoria e pensão nos anos 1990, quando havia menos idosos, do que hoje, com o dobro do percentual deles indo às urnas.
Armas
Após indicação do líder da oposição, o vereador Alcides Cardoso (PL), os vereadores aprovaram um texto que libera a Guarda Municipal do Recife para portar armas.
Foram 15 votos favoráveis e a lista dos apoiadores surpreendeu. Vários representantes da bancada do governo apoiaram a iniciativa. Osmar Ricardo (PT) foi um deles.
Dois gumes
O prefeito do Recife, João Campos (PSB), terá que decidir se atende a indicação dos vereadores ou não. Caso o faça, pode ter problemas com eleitores de esquerda e colegas de seu próprio partido que costumam criticar a possibilidade.
Mas se não assinar e o Recife continuar com a Guarda Municipal desarmada, pode ser questionado sempre que quiser criticar a violência em Pernambuco. Recife é a única capital do Brasil em que a Guarda não é armada.