Sobre socialistas conservadores e a arte de dormir no sofá dos outros
Na vida, e na política, o valor dos partidos e das pessoas está no quanto elas podem ajudar ou atrapalhar. O PT teria muito mais valor na oposição.
A briga interna do PT no Recife, com João Paulo (PT) dizendo que o partido é submisso ao PSB e o presidente municipal, Cirilo Mota, dizendo que o deputado estadual trabalha pela governadora Raquel Lyra (PSDB) e por “forças conservadoras” é trágica para o partido, mas meio cômica para quem está de fora.
João Paulo tem razão, o PT é submisso ao PSB. E, esta é uma avaliação minha, acostumou-se tanto a dormir no sofá dos socialistas que o medo de não ter onde ficar é o que está guiando suas decisões agora. Parece pouco para um partido que já governou a cidade e tem o presidente da República.
E é, muito pouco.
Colchão
Mesmo nesta eleição, na qual o PSB piorou a oferta e tem garantido pouco menos que um colchão no chão da sala aos petistas, o partido age como se não tivesse alternativa para ficar abrigado da chuva. E aceita.
Essa submissão a que João Paulo se refere é real e chega a ser estranha, caso para estudo. É impressionante a miopia que leva alguém a não entender a própria imagem no espelho e saber medir a própria importância.
Na vida, e na política, o valor dos partidos e das pessoas está no quanto elas podem ajudar ou atrapalhar. O PT ajuda pouco João Campos estando com ele, e pode ser muito melhor valorizado na oposição.
Dependência
Não vamos esquecer, porém, que um dos responsáveis pela situação petista de hoje é o próprio João Paulo. A origem se deu em 2012, depois que uma briga interna terminou com João da Costa (PT), que havia sucedido João Paulo, impedido de disputar a reeleição à prefeitura, por uma briga com o próprio ex-prefeito e com Humberto Costa (PT). O PSB aproveitou o vácuo para lançar Geraldo Julio (PSB).
E o resto é uma história na qual, por sobrevivências coletivas e individuais, por interesses privados ou de tendências internas do partido, o PT foi dormir no sofá do PSB e nunca mais encontrou o caminho de sua própria casa.
O que é ser conservador
O cômico da declaração do presidente municipal do PT é a “acusação terrível” de que João Paulo está aliado às “forças conservadoras”.
O que é mais conservador do que o PSB na prefeitura do Recife há mais de uma década e tentando manter seu poder, sem dividir com os próprios aliados, por mais quatro anos, completando 16 anos no total?
Outra: o que é mais conservador do que o controle que o PSB manteve ao longo de quase duas décadas em Pernambuco, isolando quem não concordava com suas decisões e, em algumas situações, prejudicando a vida de opositores quando eles cometiam o “pecado” de estarem na oposição?
O que sobra?
Por desconhecimento ou equívoco de matriz ideológica, integrantes da esquerda costumam chamar o inimigo de conservador sem nem entender o que é ser conservador em termos sociais e científicos.
Se isso que os socialistas fazem em Pernambuco há duas décadas, controlando o poder e distribuindo “colchões velhos” aos aliados, é ser progressista, o que sobra no inventário de maldades para os “conservadores” serem?
Afastamento
Brincadeiras de lado, a verdade é que a direção petista tem tomado decisões que os afastam da própria militância, exatamente por causa da insistência em apoiar o PSB a qualquer custo. O mesmo PSB que votou pelo impeachment de Dilma, que usou a prisão de Lula para ganhar eleição em 2020 e disse que não deixaria o PT participar do governo municipal, para atrair o voto bolsonarista.
Isso afasta o partido de seus filiados.
Aliança vazia
Em 2022, a cúpula do PT apoiou Danilo Cabral (PSB), por um acordo em nome da vaga do Senado. A militância não aceitava Danilo e votou em Marília Arraes (SD).
Agora, vai escolher o PSB outra vez, e boa parte da militância, pelo que já se fala, vai votar em Dani Portela (PSOL).
Existe
No longo prazo essa submissão tem consequências para o partido, que vai encolhendo. Como fica, por exemplo, a chapa de vereadores petistas? Se o PSB tiver que escolher entre fazer mais um vereador ou doar votos ao PT, adivinha o que eles vão fazer.
Se é com isso que João Paulo está realmente preocupado, é difícil garantir. Mas o problema que ele aponta realmente existe, seja ele conservador ou não.
Cristina Tavares
O Sistema Jornal do Commercio exibiu esta semana, na Rádio Jornal e na TV Jornal, uma série especial sobre a jornalista e deputada federal Cristina Tavares. Falecida em 1992, Cristina faria 90 anos em junho deste ano. A produção teve um conteúdo farto com entrevistas e depoimentos de pessoas que conviveram com ela no jornalismo e na política.
Necessária
O material foi produzido e apresentado pelo jornalista Vitor Tavares, comunicador da Rádio Jornal e apresentador na TV Jornal. Vitor, além de tudo, é sobrinho da ex-deputada que foi, no fim dos anos 1970, a primeira mulher a representar Pernambuco na Câmara Federal, uma precursora da participação feminina na política e exemplo de coragem e resistência para Pernambuco e para o Brasil.