Cena Política

Dani Portela não é alinhada com a oposição, mas é essencial à oposição

Na eleição para deputado, você sai "amarrando" prefeitos no palanque e eles vão lhe empurrando. Na de vereador, é preciso minerar os votos.

Publicado em 24/06/2024 às 20:00
Análise

Dani Portela (PSOL) pode até ser vista por alguns como “linha auxiliar” de João Campos (PSB) ou “poupança de votos” do socialista para um segundo turno. Mas há uma coisa, dentro da disputa interna da federação Rede/PSOL, entre ela e Túlio Gadêlha (Rede), que precisa ser dita: para a estratégia da oposição de evitar o fim da campanha no primeiro turno, ela é muito melhor do que o aliado de Marina SIlva (Rede) em Pernambuco.

No Recife

Já que ele é deputado federal, o normal é que tenha tido mais votos do que ela, eleita deputada estadual. Em 2022, Túlio conseguiu 134 mil eleitores e Dani alcançou 38.815 votos.

Dentro do Recife, ele também teve mais votos do que ela. Foram 36,5 mil contra 21,4 mil.

Mas é a proporção dos votos que chama atenção. Enquanto o Recife representou 27% da votação de Túlio, mais que a metade dos eleitores de Dani Portela estão na capital pernambucana, 55%. Isso indica maior identificação orgânica com a deputada estadual no Recife.

Pesquisas

Não é por acaso que nas pesquisas publicadas até agora sobre a eleição recifense, para além do favoritismo de Campos e a incerteza sobre o tamanho de Gilson Machado (PL), outro ponto que chama atenção é que Dani Portela sempre está com um volume de intenções de voto muito maior que o de Túlio Gadêlha.

Quem conhece um pouco de campanha eleitoral, lê isso entendendo que o movimento dela é mais orgânico, mais natural, e o dele, para crescer, vai precisar de mais estrutura. Os custos, não apenas financeiros, sobem bastante quando a candidatura é a dele.

Esquerda

Mas o principal argumento para justificar o fato de a candidatura de Dani Portela ser mais interessante para a oposição do que a de Túlio é a identificação muito mais natural dela com a esquerda.

E mais importante ainda é a identificação dela com as periferias que é onde está boa parte da militância do PT e do próprio PSB. Ela é capaz de dividir votos de João Campos. Túlio não. Ele até costuma defender os mesmos discursos da esquerda, mas a distância entre frase ideológica bem enquadrada e identificação popular real é imensa para o deputado federal, frequentador de bons restaurantes ao lado da namorada apresentadora de TV.

Conta, ainda, o fato de Dani Portela ter sido vereadora.

Mineradora

Portela não foi somente vereadora. Ela foi a vereadora mais votada do Recife em 2020, eleita subindo morro e batendo às portas da população em busca de apoio, sem nenhum grande candidato a prefeito para lhe carregar.

Eleição de vereador é a mais difícil que existe. Na eleição para deputado estadual e federal, você sai amarrando prefeitos no seu palanque e eles vão lhe empurrando.

Na eleição de vereador, o sujeito praticamente precisa minerar os votos.

Divide o PT

É verdade que Dani Portela “entrega” todos os votos que conseguir no primeiro turno diretamente para João Campos no segundo turno. Mas, com ela candidata é mais fácil, ao menos, ter um segundo turno. Com Túlio isso não é provável.

O principal montante de onde ela vai tirar sua votação será de eleitores do PT que ainda não aceitam votar em Campos por tudo o que aconteceu em 2020, quando ele buscou votos na direita atacando os petistas. Esses eleitores votam mais fácil em Dani do que em Túlio.

Franqueza

É claro que Daniel Coelho (PSD), sendo o candidato do Palácio, terá um protagonismo importante na eleição. É claro que ele é a principal aposta lógica para ir com João ao segundo turno. Mas não existe segundo turno sem Gilson Machado e sem Dani Portela nesta eleição do Recife.

E, sendo franco, eles podem até, um dos dois, ficar à frente de Daniel no resultado final.

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