Bolsonaro e o risco de repetir Fernando Collor no abandono dos aliados
Collor se tornou tóxico em muito pouco tempo depois que ficou inelegível. Bolsonaro tem base mais sólida, mas está tendo sua liderança bombardeada.
O evento que reuniu bolsonaristas no 7 de setembro teve, ao fim, mais lavagem de roupa suja do que comemorações. Deputados bateram boca por causa de um carro de som que estaria tocando música e atrapalhando o discurso de Bolsonaro (PL).
O próprio ex-presidente reclamou nos microfones que não estava conseguindo falar. “Se esse picareta quer fazer um evento, que anuncie, convoque o povo e faça. Não atrapalhe pessoas que estão lutando por algo muito sério em nosso país”, disse em certo momento.
Houve confusão também por causa do público, considerado pequeno em relação ao evento de fevereiro deste ano. Sábado foram 45 mil pessoas, contra 185 mil da manifestação do início do ano, segundo divulgação da USP feita com imagens aéreas e softwares de inteligência artificial.
Para completar, o candidato Pablo Marçal (PRTB) tentou subir no trio elétrico onde estavam o ex-presidente e o prefeito de São Paulo (candidato à reeleição), Ricardo Nunes (MDB), já no final do evento. Foi impedido e começou outra confusão nos bastidores do bolsonarismo. Bolsonaro chegou a compartilhar um vídeo em que Marçal era chamado de traidor.
Independente dos resultados das eleições de outubro, que sofrem mais influência do status administrativo de cada município do que da polarização nacional, o clima ruim deveria servir de alerta para aqueles que se apoiaram em Bolsonaro como base de suas carreiras políticas e para o próprio Bolsonaro. Perdendo a liderança do grupo, estando inelegível, ele pode ficar sozinho.
Collor
É possível que aconteça algo parecido com o que ocorreu a Fernando Collor depois que deixou de ser presidente, com antigos aliados fiéis e apaixonados fingindo que não o conheciam e nunca aprovaram o que ele fazia ou dizia.
Possibilidade de prisão, escândalos ou discursos sem nexo lógico? Nenhum desses fatores é motivo para que os apoiadores abandonem o barco, como não abandonaram até hoje.
O que faz essas pessoas irem embora é a ausência de expectativa de poder.
Recuos
E a diluição dessa expectativa de poder obedece a alguns fatores. Os principais, no caso de Bolsonaro, são o impedimento de disputar eleições e a possibilidade de substituição. A inelegibilidade do ex-presidente estava sob a mesa em cartas abertas e bem claras desde o processo em junho de 2023.
O que mudou agora é que antes não havia substituto. O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), ameaçou assumir esse papel, mas recuou. O mesmo aconteceu com o governador de Minas Gerais, Zema (Novo), e com o de Goiás, Ronaldo Caiado (UB). Todos recuaram devido à pressão do próprio Bolsonaro (PL) e dos filhos. Essa pressão agora não funcionou.
Pressão ignorada
Surgiu Pablo Marçal (PRTB), com uma estratégia agressiva de uso nas redes sociais dos espaços concedidos pelas TVs e rádios durante a campanha pela Prefeitura de São Paulo. Mas o ponto principal que alçou Marçal à artífice do caos no núcleo bolsonarista foi que ele ignorou a pressão da liderança do capitão. Ao ser ignorado pelo “líder”, ele continuou. Ao ser atacado, ele seguiu.
E, nas redes do próprio ex-presidente um questionamento que os apoiadores começaram a repetir aos milhares era: “por que o senhor não apoia Marçal?”.
Sem expectativa
Muito se fala sobre a imprensa e os adversários não saberem lidar com o candidato do PRTB, mas o fato é que Bolsonaro também não sabe. A liderança do ex-presidente foi desafiada. Marçal pode não vencer a eleição, mas fez com que todos descobrissem que as dificuldades de Bolsonaro com sua ausência de expectativa de poder são maiores do que os aliados imaginavam.
Apoios podem rarear
E, caso nenhuma reviravolta aconteça, com Bolsonaro voltando a ficar elegível, por exemplo, o próximo ato desse drama será com aliados mais próximos começando a fingir que Bolsonaro nunca existiu.
Igual ao que aconteceu com Fernando Collor, que se tornou tóxico em poucos meses, não pelo que fez de errado, mas por não poder sustentar o grupo político que dependia dele nos oito anos em que ficou inelegível.
Sabatina
Simone Fontana (PSTU) foi a sexta candidata à Prefeitura do Recife entrevistada na Rádio Jornal. As sabatinas, que estão sendo realizadas desde o dia 2 de setembro, acontecem sempre às 11h. Fontana defende uma pauta centrada na ampliação do papel da administração pública e encerramento de todas as parcerias público privadas em execução atualmente. Nesta terça-feira (10) é a vez de Victor Assis (PCO).