As construções e desconstruções no debate do Recife que finalmente aconteceu

Construções mentais são feitas num evento como esse, e muitas demolições também. A questão é saber se algo ainda pode mudar até domingo.

Publicado em 01/10/2024 às 23:45

Ao fim de um debate eleitoral todos os candidatos saem, telefones com filmadoras em punho, declarando que foram os vencedores. Mas, afinal, quem vence de verdade um debate durante uma campanha? Não espere que vai sair daqui uma daquelas frases dizendo que “venceu a democracia” ou “venceu o povo”. Não, porque debates não são para vencer, são para construir desconstruir.

Muitas construções podem ser feitas ao longo de um evento como esse, e muitas demolições também. O debate que o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação promoveu nesta terça-feira (1º) teve tentativas muito claras nesse sentido.

A questão é saber se algo ainda pode ser modificado na intenção dos eleitores até o próximo domingo (6).

Construção

Mas antes de falar na influência direta para mudar o resultado da eleição, vamos às iniciativas operárias dos candidatos construtores neste que foi o primeiro debate da eleição do Recife em emissoras de TV e Rádio.

Começando pela oposição, que carregou o número 12 em todas as frases, sempre que era possível. Toda e qualquer referência dos candidatos Técio Telles (Novo), Gilson Machado (PL), Daniel Coelho (PSD) e Dani Portela (PSOL) tinha alguma referência ao número 12. Superstição? Não.

É apenas o número de anos através dos quais o PSB governa o Recife, contando com a gestão anterior, de Geraldo Julio (PSB).

Junta tudo

A explicação é que a rejeição de João Campos é hoje o maior empecilho para que os outros candidatos cresçam.

Na última pesquisa Quaest essa rejeição chegou a 14%. É muito baixa, principalmente se você comparar com os adversários. Daniel tem 49% de rejeição, Dani Portela tem 36% e Gilson Machado 35%.

A única forma de aumentar o número de pessoas que rejeitam o atual prefeito é tentando colar nele as administrações anteriores do PSB, tanto na prefeitura quanto no governo estadual.

O ex-prefeito do Recife Geraldo Julio terminou com rejeição altíssima sua administração, o que fez com que ele fosse praticamente escondido na campanha de João em 2020. Agora, mais uma vez, Geraldo não apareceu na campanha, embora se comente que ele é um frequente participante das estratégias de Campos na prefeitura e na vida partidária.

Até Paulo

Mas não foi só Geraldo Julio a quem se fez referência o tempo todo durante o debate. Até Paulo Câmara foi lembrado.

Para quem não sabia, antes de ser deputado federal e depois prefeito, João Campos era o chefe de gabinete do então governador Paulo Câmara no Palácio do Campo das Princesas. Daniel Coelho fez questão de trazer essa informação em uma de suas intervenções, quando teve a chance de perguntar ao prefeito que disputa a reeleição.

João também

Não foi somente a oposição quem tentou fazer essas construções mentais. João Campos também deu um golpe certeiro, num momento em que estava sendo atacado por todos os lados e, numa resposta, criou relação entre as críticas que recebia com o amor dos adversários pela cidade.

Em determinado momento, disse que havia dois times alí no estúdio. Um era o que falava mal do Recife e o outro (o dele) que trabalhava para deixar o Recife melhor.

É o tipo de afirmação que para o leigo parece não ter grande efeito, mas contamina todas as críticas posteriores. Sempre que alguém for criticar a gestão de João Campos a partir dali, vai ficar a impressão de que está “falando mal do Recife”.

Lição

Sobre Campos, ainda, é preciso registrar e reconhecer o compromisso e o respeito com o qual ele tratou o debate público.

No mundo real, um candidato que no dia anterior aparece com 75% contra 11% do segundo colocado, faltando cinco dias para a eleição, não iria aparecer num debate com quatro adversários que lhe querem a pele. Ele não fugiu em momento algum, mesmo sabendo que era o alvo, seguiu todas as regras, sendo tratado com total isonomia em relação aos outros postulantes e não reclamando em momento algum.

Foi uma demonstração de espírito democrático e de consideração com o eleitor e com o jornalismo que merece nota e, principalmente, serve de exemplo para outros candidatos que evitam debates, mesmo não tendo a tranquilidade eleitoral que o prefeito do Recife possui. Fica a lição.

Tranquilidade

Ainda sobre o debate, chamou atenção o clima amistoso entre os candidatos nos bastidores. Houve conversas bem tranquilas e até algumas brincadeiras entre alguns dos adversários.

Em determinado momento, longe das câmeras, um dos candidatos comentou que o acirramento ficava do lado de fora e lá todos podiam ficar tranquilos. Gilson chegou a conversar com Dani Portela em alguns momentos e trocou palavras amistosas com João Campos.

Pelo clima que havia sido visto em São Paulo, houve quem brincasse que no Recife não seria preciso parafusar as cadeiras do estúdio. Ótimo então.

Mais de 300 mil

Agora, afinal, o debate da TV Jornal pode fazer com que as posições se alterem na eleição, ameaçando a vitória de João Campos? A resposta é não.

Debates servem para construir e desconstruir. Servem para afirmar e reafirmar posições sobre a política ou sobre os problemas da cidade. Servem até como teste de pressão para aqueles que enfrentarão desafios do tamanho de uma cidade como o Recife e podem mudar uma eleição completamente.

Mas não dá pra esperar que em 5 dias aconteça uma mobilidade direta de mais de 300 mil eleitores. Porque é isso que os adversários precisam tirar de Campos até o próximo domingo, apenas para evitar a vitória dele no primeiro turno. Aguardemos.

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