O debate em Caruaru e a ilusão de faltar para resolver depois
Numa eleição acirrada como a da Capital do Agreste, perder uma oportunidade assim pode desequilibrar a balança e trazer prejuízos.
É curioso ver algumas pessoas fazendo contas de padaria para antecipar resultados de segundo turno de uma eleição, antes mesmo de saber o resultado do primeiro turno. Curioso também é quando alguém confia tanto na segunda etapa de uma votação ao ponto de perder a oportunidade de uma debate com a repercussão que esses eventos possuem, inclusive nas redes sociais.
Muita gente
O primeiro debate de uma emissora de TV com os candidatos à prefeitura de Caruaru, realizado pela TV Jornal, em parceria com a Rádio Jornal, nesta quarta-feira (2), para se ter uma ideia, chegou a marcar quase 10 mil visualizações até o momento em que esse texto estava sendo escrito, apenas em um dos canais do YouTube. Outros milhares acompanharam pela TV e pela Rádio.
Numa eleição acirrada como a da Capital do Agreste, perder uma oportunidade assim pode desequilibrar a balança e trazer prejuízos.
Outra história
E aí surge a frase de que “no segundo turno é outra eleição e ninguém vai lembrar”. Convenhamos, além de ser meio desrespeitoso com a memória do eleitor, soa algo ingênuo.
Para começo de conversa, segundo turno é outra eleição. Não se trata de uma frase de efeito para encantar os admiradores das frases de efeito, mas de uma constatação que leva em consideração a estrutura de uma campanha.
No primeiro turno, o candidato a prefeito conta com uma ponte importantíssima entre ele e o eleitor, que são os candidatos a vereador.
Na praia
Sabe qual a função que esses candidatos à Câmara Municipal, verdadeiros mineradores de voto, têm no segundo turno? Ir à praia tomar água de côco.
Se o candidato ganhou a eleição, viaja para comemorar. Se perdeu, viaja para afogar as mágoas. O fato é que o postulante a prefeito perde parte de seu exército e fica mais difícil buscar votos. O dinheiro fica mais curto no segundo turno também. Há uma desmobilização de militância tremenda.
Para um candidato, confiar no segundo turno é como acreditar em vendedor de bilhete premiado sem antes perguntar o motivo de o próprio sujeito não sacar o prêmio. O segundo turno é o pai que saiu para comprar cigarro e nunca mais voltou. Confia nele quem quer.
Escolhas
O debate de Caruaru ficou marcado pela ausência do candidato à reeleição Rodrigo Pinheiro (PSDB). A justificativa dada em entrevista numa emissora de rádio, que não iria debater no primeiro turno porque seria atacado pelos adversários, acabou enfraquecida depois que João Campos (PSB), no Recife, garantiu participar dos debates.
Campos foi ao da TV Jornal, foi atacado por todos os lados, e conseguiu sair de lá ainda maior. Difícil imaginar que qualquer candidato disposto a enfrentar os problemas de uma administração municipal no Brasil não consiga fazer o mesmo.
Propósito?
Tudo numa eleição é erro ou propósito. Ignorar os milhares de eleitores da cidade de Caruaru que se dedicaram a acompanhar o debate é erro ou propósito? As urnas dirão e a voz delas é o que conta.
O que o domingo divide
Ao longo do debate de Caruaru, os eleitores puderam ouvir propostas sobre Mobilidade Urbana, porque a cidade está com o trânsito cada vez mais estrangulado. Houve propostas sobre Habitação, Educação e para acabar com a pobreza.
Caruaru, tal qual Recife, é uma cidade repleta de desafios. Os que estiveram presentes, José Queiroz (PDT), Fernando Rodolfo (PL), Armandinho (SD) e Michelle Santos (PSOL), tiveram a oportunidade de falar com o cidadão e passaram bem pelo teste que todo postulante a um cargo público deveria ser obrigado a passar: o de ser colocado em ambiente isonômico, sem muito auxílio de assessores, para ser confrontado com situações próximas, em complexidade e urgência de resposta, as que enfrenta um gestor municipal num Brasil em que as prefeituras vivem sem dinheiro e os prefeitos estão sempre, pires na mão, pedindo a ajuda de alguém para sobreviver.
O dia 6 de outubro vai dividir não apenas o primeiro do segundo turno, mas o que é realidade do que é ilusão de poder.