Pesquisadores desenvolvem algoritmo para medir transferência de votos

Sabe aquela intuição que muitos têm, "o eleitor de fulano não vota em beltrano"? Pois o estudo conseguiu transformar isso em modelos matemáticos

Publicado em 26/10/2024 às 20:00

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco desenvolveu um método para calcular a taxa de transferência de votos do primeiro para o segundo turno, baseado na polarização ideológica dos partidos políticos, e a expectativa de votação dos candidatos que disputam a segunda volta nas eleições. O trabalho é pilotado por cientistas políticos e de dados da Universidade.

Dalson Figueiredo, Ernani Carvalho, Hugo Medeiros, Marcelle Amaral e Maria do Carmo Soares se propuseram a entender como a escolha dos eleitores é influenciada pelas emoções em relação aos candidatos e a sua percepção ideológica sobre esses indivíduos. A ideia é prever possíveis vencedores no 2º turno de eleições.

Estabilidade

A coluna teve acesso ao método de cálculo e à aplicação dele nas eleições que acontecem neste domingo. Alguns resultados são bem curiosos porque correspondem mais ou menos às pesquisas que foram apresentadas até hoje, mas incluem um cálculo matemático que se aproxima muito mais da lógica de médio prazo de uma campanha eleitoral do que de uma onda curta captada pelos levantamentos dos institutos que fazem pesquisa.

O que está em análise, no estudo dos cientistas da UFPE, não é a variação de percepções que o eleitor experimenta ao ser inserido numa campanha eleitoral com sua propaganda, mas a tendência que ele já carrega a partir da decisão que tomou no primeiro turno. E isso faz toda a diferença.

Intuição equacionada

Sabe aquela intuição que muitos analistas políticos têm quando dizem que “o eleitor de fulano não vota em beltrano”? Pois o estudo conseguiu transformar isso em modelos matemáticos envolvendo a classificação ideológica dos partidos brasileiros para determinar a Taxa de Transferência de votos.

Em seguida, essa taxa é utilizada dentro de outra equação, para medir os votos esperados no segundo turno, baseado nas votações de primeiro turno também.

A pesquisa foi além e decidiu aplicar o cálculo em todas as mais de 50 cidades com segundo turno no Brasil este ano.

A coluna teve a curiosidade de buscar alguns desses números e registrar aqui para serem conferidos depois.

Paulista

Em Paulista disputam a eleição os candidatos Ramos (PSDB) e Júnior Matuto (PSB). As pesquisas tradicionais têm apontado vantagem para o tucano, com cerca de 70%, contra 30% do adversário.

Na metodologia aplicada pelos pesquisadores da UFPE, baseada nos resultados do primeiro turno e na taxa de transferência, Ramos pode vencer a eleição com 60,06% dos votos válidos.

Olinda

Em Olinda, onde Mirella (PSD) disputa a prefeitura com Vinicius Castello (PT), as pesquisas têm mostrado um empate técnico permanente.

O algoritmo desenvolvido pelos cientistas da UFPE captou essa rivalidade e o quanto esse resultado deve ser apertado, mas apontou no fim para um dos lados. Segundo o cálculo, Mirella poderia ser eleita com 51,97%.

Com uma diferença tão pequena, alguém pode se perguntar qual a margem de erro. E aí é que está uma das principais diferenças para as pesquisas tradicionais, produzidas com o uso de estatística. Não há margem de erro porque a ideia não é prever o resultado, mas calcular o potencial de chegada do candidato às urnas de acordo com uma escala ideológica e com os dados de votações anteriores.

São Paulo

Em São Paulo, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) disputa as eleições contra Guilherme Boulos (PSOL). As pesquisas têm mostrado vantagem de Nunes entre 9 p.p e 10 p.p nos últimos dias.

No cálculo feito pelos professores da UFPE com a taxa de transferência, a expectativa é que o prefeito chegue às urnas, pela reeleição, com 53,85% dos votos. É mais apertado do que os institutos de pesquisa estão apontando. Embora confirme a expectativa de vitória.

Fortaleza

Na capital do Ceará existe uma grande expectativa do PT, porque é uma das quatro capitais que o partido pode conseguir depois de ter passado em branco por todo o primeiro turno. Lá, Evandro Leitão (PT) está tecnicamente empatado com André Fernandes (PL), ambos na casa dos 47%.

O algoritmo do grupo de professores da UFPE aponta para o PL nesse caso. André Fernandes chegaria às urnas com 52,85% da votação válida.

Cuiabá

Na segunda cidade em que o PT mais tem chance de eleger um prefeito de capital, Lúdio Cabral (PT), com 43%, corre atrás de Abilio Brunini (PL) que tem 48% das intenções de voto em pesquisas tradicionais divulgadas na última semana.

No cálculo feito pelos pesquisadores da UFPE a vantagem de Abilio é bem maior e ele deve chegar às urnas com 64,24% da votação válida.

Natal

Em Natal, no Rio Grande do Norte, outra eleição importante no Nordeste. É o único estado que o PT governa no Brasil. A governadora tem uma rejeição alta, mas conseguiu ajudar Natália Bonavides (PT) a passar ao segundo turno. Ela disputa com Paulinho Freire (UB) que lidera as pesquisas. Nos levantamentos ele aparece próximo de 50% das intenções de voto.

O algoritmo dos pesquisadores da UFPE confirma essa expectativa e aponta o candidato do União Brasil com 55,88% dos votos.

Vantagens

Após os resultados das urnas será possível ter uma ideia da taxa de acerto do cálculo e avaliar como o método poderá ser utilizado no futuro.

No trabalho, os autores afirmam que a equação de transferência de votos é significativamente mais econômica e mais rápida do que pesquisas de opinião, além de ser transparente e replicável com mais facilidade.

Sugerem ainda que pode haver um aprofundamento maior. “Por exemplo, pode ser aplicado por zona e por seção eleitoral, sendo capaz de identificar com precisão quais são as localidades com maior chance de transferir votos”, orientam.

Agora é esperar o número que elege, o das urnas, para comparar.

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