A armadilha da "frente ampla" de Lula que se torna um sequestro
As dificuldades são de ordem física, financeira e vaidosa. Todo mundo quer uma sala, quer dinheiro, e quer holofotes. Mas não tem para todo mundo.
Frente ampla é coisa boa para ganhar eleição, mas pode ser um pesadelo na hora de governar. Essa é a realidade do governo Lula (PT) com a necessidade de fazer cortes nos gastos para sobreviver. Na campanha eleitoral, frente ampla dá uma ideia de união, de força contra os adversários. Essa vantagem se estende à legitimação do resultado. Quanto mais ampla for a frente, menos contestação haverá. A imagem da posse é linda, com aquela multidão subindo a rampa do Palácio do Planalto cheia de sorrisos.
Até que termina a subida e todo mundo entra no salão principal. Aí começam os problemas.
Realidade
As dificuldades são de ordem física, financeira e vaidosa. Todo mundo quer uma sala, mas não tem sala pra todo mundo. Todo mundo quer dinheiro, mas não tem dinheiro pra todo mundo. Todo mundo quer holofotes e não tem luz e câmera que possam dar conta de tanta gente. Pior ainda é quando o cordão aperta e se precisa segurar as calças do governo. Todo mundo concorda que é pra cortar a grama, desde que seja a do vizinho.
Ninguém chamou
A maneira como se constrói uma frente com muitos apoios também diz muito sobre as dificuldades que o sujeito governante terá no futuro. No caso de Raquel Lyra (PSDB), por exemplo, muitos partidos lhe declararam apoio na passagem do primeiro para o segundo turno, quando perceberam que ela iria vencer. Ela não precisou pedir e nem negociar nada com antecedência.
O caminhão não parou para que ninguém embarcasse, ele ia passando e os apoios iam correndo e saltando para dentro. Sendo assim, a maior parte deles não tinha direito depois de determinar o destino do veículo. Quem não gostasse que pulasse para fora, como aconteceu.
Convidados
No caso de Lula, a vitória contra Jair Bolsonaro (PL), então presidente, com toda a estrutura possível para fazer campanha, era difícil.
O petista então tratou de formar uma ampla aliança. Foi buscar gente na esquerda e no centro. Convenceu Geraldo Alckmin, um nome forte do PSDB, a se transferir para o PSB e ser seu vice. Colocou na mesma carroceria ao longo da campanha o MDB, sem falar nos avulsos que pertencem a partidos de oposição mas declararam apoio. Assim que venceu, para poder governar e aprovar projetos no Congresso, colocou para dentro também com ministérios o União Brasil, o Republicanos, o PSD, entre outros.
Todo mundo quer uma sala e quer dinheiro. Se não tiver, inviabilizam o governo.
Custo aumenta
Lula foi parando o caminhão e convencendo as pessoas a irem subindo na carroceria. Ninguém pulou dentro sem que sua presença fosse negociada e cada um pediu alguma coisa para subir.
Depois que estão dentro, cada um dos passageiros se apertando entre as tábuas que formam o piso da caçamba quer que o motorista dê uma passadinha numa rua específica para acenar aos vizinhos.
Todo mundo quer um pouquinho do controle. E como o governo é dependente deles, o caminhão gasta muito mais óleo diesel, a manutenção é mais difícil e o destino vai ficando mais e mais demorado.
Sequestro
Formar frente ampla é, na verdade, um terrível sequestro que você encomenda para você mesmo. E o resgate é pago diariamente pelo pagador de impostos do país. É bom para ganhar a eleição, dá sustentação de argumento para mostrar que “todos estão com você”, mas dão uma dor de cabeça que nenhum analgésico resolve.
Depois do candidato Lula em 2022 e do governo Lula nesses últimos dois anos, sempre que alguém falar em frente ampla nas eleições, é bom saber que um sequestro está sendo planejado. E fazer provisões, porque o custo para o cidadão é alto.