O Banco Central ajudando Lula e quem será o fiel da balança em 2026

Pode ser que Lula acabe tendo que agradecer ao BC por ter sido cauteloso quando ele queria aquecer a economia distribuindo dinheiro em busca de apoio.

Publicado em 17/12/2024 às 20:00
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Saiu mais uma pesquisa nacional, agora a Datafolha, e o resultado é bem parecido com a Quaest da semana passada. Metade do Brasil aprova a gestão do atual presidente e metade desaprova.

Colocado em patamares gradativos, do negativo ao positivo passando pelo regular, o resultado é quase o mesmo também. Um terço do Brasil gosta, um terço detesta e o terço final acha “mais ou menos”. Esse resultado é o mais importante para entender a dificuldade do governo Lula.

Os que classificam o governo como regular é que vão decidir as próximas eleições. E eles não vão ser convencidos agora. Nem adianta insistir. Estão todos debaixo de cobertores sociais que os protegem de serem julgados. O voto deles será decidido no fim, de acordo com a situação do Brasil.

Cobertores

O governo Lula (PT) tem a avaliação popular que poderia ter e é difícil imaginar que algo vá mudar com grande amplitude em 2025.

Só em 2026, quando os que hoje respondem “regular” às pesquisas de popularidade puderem se desfazer de seus cobertores de proteção social, é que o cenário irá mudar. Para o bem ou para o mal.

A popularidade de hoje é a que o governo poderia ter, não por causa da comunicação ou porque o Legislativo é mau e muito menos porque “Roberto Campos Neto subiu os juros” lá no Banco Central.

Responsabilidade

Nenhuma das nêmesis de Lula pode ser responsabilizada pelo resultado mediano na popularidade do governo. A maior dificuldade para o Brasil atual é fazer com que os petistas e o presidente entendam que gastar muito e organizar cruzadas contra adversários não são ações que mudarão o cenário com facilidade.

Quanto antes entenderem isso, menos bobagens serão cometidas. E mais fácil será tentar ter responsabilidade com o dinheiro do pagador de impostos.

Eles decidem

O excesso de antagonismo político dos últimos anos criou um ambiente insalubre para se ter opinião no Brasil. Quando você não trabalha com isso e nem é militante ideológico ou partidário, dar opinião, nos tempos de hoje, tornou-se atividade masoquista.

Para evitar julgamentos sociais as pessoas se protegem, respondem “regular” para as pesquisas, e só vão decidir de que lado estão quando a eleição estiver muito próxima.

Vão escolher de acordo com a vida deles no momento final. São esses “regulares” os que irão definir o eleito em 2026, quando estiverem às margens da urna.

EUA

Nenhuma demagogia possível conseguirá fazer as pessoas abandonarem antes da hora a proteção que elas construíram para se proteger da polarização.

É preciso, sim, acertar a comunicação. Mas o problema não é quantidade, é apenas qualidade.

Já que a opinião dessas pessoas não mudará agora, então é melhor ficar parado esperando o ano de 2026 chegar? Lógico que não.

É preciso olhar para os EUA e tentar aprender com o erro dos democratas. Da mesma forma, nunca houve tanto acirramento por lá. Os candidatos estavam empatados até a reta final e, no fim, Trump venceu.

O que fez a diferença?

Pragmáticos

É que, na hora de votar, os eleitores americanos olharam para as suas próprias vidas e perceberam que ela não havia melhorado ao longo dos anos de Biden no poder.

Não importava se elas amavam Trump ou não. O fato é que os indecisos, alheios às discussões ideológicas, partidárias ou da agenda de costumes, chegaram à urna, avaliaram a própria vida, e perceberam que não estavam satisfeitos. O vencedor foi escolhido assim.

Os democratas erraram quando ficaram apostando na demonização do adversário, no "absurdo" que era eleger Trump outra vez. Mas não se preocuparam em melhorar a vida da população de maneira indiscutível.

As pesquisas brasileiras estão demonstrando uma tendência para algo parecido no Brasil.

Vai agradecer

E aí, será algo cômico. Pode ser que Lula acabe tendo que agradecer ao Banco Central por ter sido cauteloso quando ele queria aquecer a economia gastando tudo e distribuindo dinheiro em busca de apoio, porque isso daria em problema.

Imagine chegar em 2026 com inflação descontrolada por causa dos gastos excessivos do governo buscando melhorar a popularidade em 2024 e 2025.

Quando os eleitores do “regular”, sem paixão política, olhassem para a própria vida num cenário de caos inflacionário, endividados e com poucas perspectivas de desenvolvimento pessoal, eles iriam escolher o PT outra vez?

Até porque se quisesse prejudicar o governo Lula e fosse o inimigo que os petistas dizem que Campos Neto é, a única coisa que o Banco Central precisaria fazer seria reduzir os juros drasticamente e deixar o país inflacionar até quebrar. Não foi o caso. Ainda.

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