Karl Marx e a repetição das farsas que não escolhem esquerda ou direita
De farsa em farsa, repetindo-se de maneira dramática, o Brasil estanca enquanto a vida passa. É lamentável e diz muito sobre o nosso desenvolvimento.

Os cretinos elegem, com frequência, pensadores para fabricar e sustentar a legitimidade de suas ideias, por mais absurdas que elas sejam. Karl Marx é um exemplo dos que se transformaram em ícones de amor e ódio ideológico, mas acabaram limitados injustamente ao maniqueísmo pueril do populismo.
Marx tem, por exemplo, uma frase que se adequa ao momento que o Brasil vive. Essa frase é sempre divulgada com alterações e sua versão mais popular diz assim: “A História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
O pensamento não é inteiro de Marx.
Hegel
Na verdade, o filósofo ícone do socialismo pegou parte da frase de outro filósofo e complementou. Ele nunca escondeu isso de ninguém e foi honesto nesse ponto.
No texto “O 18 de brumário de Luís Bonaparte”, Marx cita a fala que é de Hegel. “Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”, comenta.
E, afinal, o que isso tem a ver com a política brasileira?
Farsas
No Brasil, as farsas costumam ser mais complexas porque conseguem reunir diversas tragédias em sequência, numa encenação infinita dos problemas que não nos deixam avançar como país. O Brasil ficou parado por vários meses entre 2017 e 2018, porque Lula (PT) interditou o debate político para tentar salvar a própria pele.
Não adiantou muito, ele acabou preso e Bolsonaro (PL) virou presidente.
Agora, em maus lençóis, é Bolsonaro quem usa a mesma estratégia, repetindo como farsa a farsa lulista anterior e interditando seu campo político para tentar salvar a própria pele.
Plano
O plano de ação bolsonarista, após a denúncia, tem três frentes principais. A primeira é política e diz respeito à pressão que os aliados vão fazer para mudar leis no Congresso que beneficiem o ex-presidente e possibilitem sustentar que ele “será sim, candidato em 2026”.
A segunda é internacional e tem a ver com apelações em tribunais internacionais que sensibilizem e mobilizem governos de direita pelo mundo em favor de Bolsonaro.
A terceira é popular, com eventos do presidente pelas cidades do país, tentando mostrar que ele tem apoio dos eleitores. Na próxima segunda-feira, inclusive, haverá um em Pernambuco.
Já aconteceu
A farsa encenada por Lula em 2018, quando todos os petistas diziam que ele seria candidato, num estelionato visível para qualquer um que entendesse um pouco de Política e Direito, é bem parecida com a que os bolsonaristas tentam encenar agora, quando o ex-presidente está também prestes a ser condenado e preso.
Na época, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, mantinha a pose até para aliados muito próximos, garantindo que Lula seria o candidato na urna, com o único objetivo de interditar a esquerda a serviço dele, porque todo mundo sabia que era impossível naquele ano.
Interdição
Agora, Bolsonaro faz o mesmo, interditando a direita e atacando qualquer um que se coloque como pré-candidato, enquanto alardeia que será ele o nome na urna, embora todos saibam que isso não será juridicamente possível.
A efetividade da ação de Lula em 2018 é discutível. Alguém pode dizer que a estratégia deu errado porque ele passou quase dois anos preso e não disputou a eleição daquele ano. Mas também se pode dizer que Lula manteve seu nome forte no imaginário popular para não ser esquecido na prisão e saiu de lá em condições de voltar a ser presidente em 2022.
Brasil parado
Mas a grande questão das duas farsas não é se deu certo ou errado para os indivíduos Lula e Bolsonaro. A questão é o quanto as estratégias de sobrevivência eleitoral de figuras populistas como a dos dois funcionam como âncoras para o desenvolvimento do Brasil que fica estacionado, aguardando a vida deles se resolver para poder tocar a própria vida.
De farsa em farsa, repetindo-se de maneira dramática, o Brasil estanca enquanto a vida passa. É lamentável.