Mandetta será mesmo demitido. Político experiente, o presidente sabe que vai apequenar sua autoridade, mantendo o ministro no cargo. E criando uma opção a ele na corrida presidencial.
Luiz Henrique Mandetta estava adorando tudo isso. Alçado a liderança política nacional, elogiado pela oposição, o ministro da Saúde se sentia à vontade até para ignorar as opiniões, mesmo toscas, do presidente da República. E não resistia, com sua palavra fácil e tom gentil, à tentação de fazer política em cada coletiva. Exagerou. O presidente chegou ao Planalto, nessa segunda-feira, decidido a demitir Mandetta. Mas a turma do 'deixa disso' agiu e o esperto ministro decidiu propor a flexibilização do isolamento nos locais com 50% da capacidade de saúde liberadas.
Bolsonaro tem três opções para o lugar de Mandeta: o ex-ministro da Cidadania e deputado Osmar Terra (MDB-RS) está na 'pole position'. Outra opção é seu amigo pessoal almirante Antonio Barra Torres, diretor da Anvisa e ex-vice-diretor do Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio. A médica Nise Yamaguchi, terceiro nome, defende o isolamento vertical e, como Bolsonaro, é entusiasta da cloroquina, remédio contra malária.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (foto), foi uma das pessoas mais decepcionadas com a hesitação do presidente Jair Bolsonaro ante a decisão de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Mais cedo, ontem, sua aposta era de que Bolsonaro, 'fraco e covarde', não demitiria o ministro: 'Ele não usa caneta nada'. E ainda afirmou que cogitava presentear o presidente com uma finíssima caneta Mont Blanc.
Mandetta dormiu ministro, se é que conseguiu pegar no sono, mas na avaliação do governador do Distrito Federal sua atuação como gestor é muito ruim.
Apesar de o Tesouro estar aberto para Saúde, o dinheiro não chega aos Estados no volume e com a presteza necessários, diz Ibaneis.
'Não tenho notícia de que ele tenha comprado um único respirador nos últimos 40 dias, nem apoiou os Estados na construção de mais UTIs', critica o governador.
Davi Alcolumbre ameaçou retaliar o governo caso ministro da Saúde, do seu partido, o DEM, fosse demitido. É de se imaginar a reação do presidente do Senado caso o Planalto se metesse em suas nomeações.
'Nosso foco principal é auxiliar os pequenos negócios', disse o ministro Rogério Marinho, sobre os R$ 6 bilhões em linhas de crédito emergencial.
'Não acreditam porque a terra é plana e o vírus é conspiração' Rodrigo Maia, em dia de Jair Bolsonaro, ataca quem espalha fake news a seu respeito.
O almirante Antonio Barra Torres, diretor da Anvisa, é forte para ministro da Saúde. Eles se conheceram quando Torres foi vice-diretor do Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio, que recebeu recursos de emendas do então deputado Bolsonaro. Como o amigo presidente, gosta de motos e tiros.
O ministro Braga Netto (Casa Civil) foi uma das vozes mais ponderadas pela permanência do ministro da Saúde no cargo. Não por gostar de Mandetta, mas por ter clareza de que haveria aproveitamento político da fragilidade de um País assustado com o coronavírus, para se vitimizar.