COLUNA ENEM E EDUCAÇÃO

Após priorizar ensino médio integral, em 2022 governo de Pernambuco foca expansão do modelo para ensino fundamental

Em 2022, 34 escolas de 6º ao 9º ano do ensino fundamental da rede estadual de Pernambuco passarão a ser integrais. Atualmente só existem seis

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Margarida Azevedo

Publicado em 26/12/2021 às 5:00
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A principal política pública de educação da atual gestão estadual - as escolas integrais - ganha uma nova fase a partir de 2022, último ano do governador Paulo Câmara à frente do comando de Pernambuco e herdeiro político de Eduardo Campos, o responsável pela expansão desse modelo de ensino no Estado. O foco para o próximo ano é fortalecer esse formato nas séries finais do ensino fundamental, etapa da educação básica que o Estado divide a responsabilidade, na oferta, com os municípios.

Além de mais tempo na escola - serão sete aulas diárias, em vez de cinco como acontece no ensino regular - haverá o estímulo ao protagonismo dos estudantes, ênfase para que desenvolvam seus projetos de vida e um currículo que proporcione formação mais completa, como acontece hoje no ensino médio.

Das atuais seis, o governo anunciou a expansão para 40 escolas integrais do 6º ao 9º ano do fundamental. Hoje são 6.918 crianças e adolescentes nessas séries que ficam mais tempo na escola, segundo a Secretaria de Educação de Pernambuco. Passarão para 20.170 em 2022, um acréscimo de 13.252 novas vagas. Os estudantes ficarão todos os dias das 7h30 às 14h30.

Além do incremento no ensino fundamental, o governo vai implantar mais 70 colégios integrais no ensino médio em 2022. Atualmente existem 470, serão 540 ano que vem. Estudaram esse ano no médio integral cerca de 197 mil alunos, de um universo de quase 320 mil matriculados nessa fase escolar.

“Entendemos que esse é o caminho para alavancar os resultados no ensino fundamental. Ao longo dos anos finais dessa etapa percebemos que muitos alunos acumulam lacunas de aprendizagem. Com a expansão da política integral chegando para esses estudantes pretendemos dar uma resposta melhor”, explica a secretária executiva de Educação Integral e Profissional de Pernambuco, Maria Medeiros.

Embora a oferta dessa fase seja compartilhada entre Estado e prefeituras, a parcela maior de discentes estuda nas redes municipais. “Queremos também estimular as gestões municipais a adotarem o modelo integral em suas redes”, afirma Maria Medeiros.

INDICADORES

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador de qualidade aferido a cada dois anos pelo Ministério da Educação (MEC), mostra que Pernambuco ficou com média 4,8 no 9º ano do ensino fundamental, em 2019, último ano que foi divulgado. O Brasil teve nota 4,9. Era para ter saído um novo índice agora em 2021 - o Ideb é bianual - mas, por causa da pandemia de covid-19, as avaliações que deveriam ter sido aplicadas ano passado só foram realizadas este ano.

“Em 2007 Pernambuco ocupava o 21º lugar entre os Estados, no Ideb, no ensino médio. Em 2015, com o aumento gradual do ensino integral, chegamos à 1ª posição. Nossa expectativa é
também crescer com o Ideb no ensino fundamental”, destaca a secretária executiva.

“Não se trata apenas de passar mais tempo na escola, mas dar sentido ao tempo. Ficar mais horas é uma estratégia para nos apoiar na formação integral desse jovem. Os componentes curriculares são distribuídos ao longo do dia, sem a divisão de primeiro turno ou segundo turno”, explica Maria Medeiros.

FORMATO

A matriz curricular das escolas integrais do fundamental foi inspirada nas estratégias já adotadas no ensino médio: estímulo ao projeto de vida, protagonismo, oferta de disciplinas eletivas, estudo orientado e nivelamento.

"Costumo dizer que esses componentes curriculares são o núcleo duro do currículo dessas escolas. Se movimentamos esse núcleo, todas as peças dessa engrenagem se movimentam. O estudante que é protagonista, tem projeto de vida, ele quer estudar português, quer saber mais de matemática, se envolve com projetos, participa dos grupos culturias da escola", observa Maria Medeiros.

"Conseguimos que ele se envolva com a proposta pedagógica da escola, que veja sentido em ir para escola. Por isso os resultados melhoram", afirma a secretária de Educação.

Nas eletivas há a flexibilização curricular. Semestralmente cada estudante escolhe uma disciplina desse grupo de matérias. "É o espaço para que eles escolham o que querem estudar. Os professores propõem as disciplinas de acordo com a cara da escola. Naquele horário, se encontram alunos de séries e turmas diferentes", diz Maria.

O estudo dirigido é o momento, na carga horária, em que os alunos param para fazer as tarefas, trabalhos e atividades passadas pelos docentes. Como os discentes passam o dia no colégio, precisam desse tempo pois só chegam em casa à noite (no caso do ensino médio de 45h). O nivelamento ocorre para melhorar a aprendizagem em português e matemática.

PIONEIRA

A primeira unidade de ensino fundamental da rede estadual a virar integral foi a Escola Creuza Barreto Dornelas, localizada no bairro da Torre, Zona Oeste do Recife, em 2017. Estudam nela 316 alunos. “O mais difícil é a adaptação dos alunos do 6º ano, pois chegam sem o hábito de ficar mais de um turno na escola. Mas aos poucos vão se acostumando. O modelo integral tira o adolescente da ociosidade que estaria se ficasse no ensino regular. Também cria um vínculo maior com a escola pois a integração e a socialização entre alunos e professores são bem maiores”, comenta o diretor, Carlos Cavalcanti.

Um dos desafios do ensino integral na rede estadual é a estrutura física que não foi pensada para esse modelo. Na Creuza Dornelas, a quadra, por exemplo, espaço que seria bem aproveitado para atividades físicas com os estudantes - são alunos com idades que variam de 11 a 14 anos, em sua maioria, portanto cheios de energia - está interditada há anos.

“Gosto muito do integral. Temos as matérias comuns e as disciplinas eletivas. Os professores procuram atividades para ficar mais dinâmico”, conta Isabelly Ferreira, 14 anos, aluna do 9º ano. “Sinto falta da quadra e de salas com mais ventiladores pois faz muito calor. A merenda também poderia ser mais diversificada”, afirma a adolescente.

PROTAGONISMO

Professor de história e filosofia da Erem Dom Sebastião Leme, que fica no Ibura, Zona Sul do Recife, Alexandre Miranda, 46, começou a lecionar no modelo integral há quatro anos. A escola é de ensino médio. Uma das mudanças, diz, foi passar a planejar as aulas com uma visão interdisciplinar. Por dia, os estudantes têm nove aulas, com turno das 7h30 às 16h40.

“Nas escolas integrais o estudante é bastante estimulado ao protagonismo, o que não acontece tanto nos colégios regulares. São muitas atividades complementares além do currículo
regular”, afirma Alexandre. Ele sente falta de mais formações por parte da Secretaria Estadual de Educação.

Todos os professores que lecionam no modelo integral recebem, além do salário, uma gratificação extra, pois eles ficam os dois turnos na escola. Conforme Maria Medeiros, o docente com carga horária semanal de 35h tem um acréscimo de R$ 1.651 no seu vencimento mensal. Para os de 45h são R$ 2.032 em cima do salário base.

Ana Júlia Rodrigues, 17, Diana Vitória, 17, e Lucas Brayan, 21, são alunos da Dom Sebastião Leme. “Aqui o ensino é mais puxado, isso me dará mais chance de conseguir realizar
meus sonhos”, comenta Lucas.

“Participo do grupo de mediação de conflitos, sou monitora, faço parte do jornalzinho da escola. São muitos projetos que a escola oferece. É minha segunda casa”, afirma Ana Júlia, que ainda preside o grêmio estudantil. “Às vezes é cansativo passar o dia todo na escola, mas eu gosto”, diz Diana.

CRÍTICAS

Na avaliação da presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), Ivete Caetano, “as escolas integrais de Pernambuco não possibilitam uma educação integral”. Ela defende que essas unidades aumentem a carga horária não só de português e matemática, mas também de disciplinas como história, sociologia e filosofia, “que são áreas fundamentais para a compreensão do mundo e a inserção cidadã na sociedade.”

“Ao mesmo tempo, o currículo dessas escolas não oferece aulas de teatro, dança, música, que são dimensões da arte e da cultura, fundamentais para a educação integral. Os esportes têm muitas dificuldades para serem implementados por causa da estrutura física”, afirma. Essas atividades elencadas pela líder sindical aparecem na grade do projeto das eletivas, ou seja, não fazem parte da grade curricular.

Ivete sugere que a política de educação em tempo integral “deveria vir articulada com políticas de renda básica para as famílias e estudantes, porque muitos não podem permanecer nesses colégios por necessidade de emprego ou estágio para garantir a sobrevivência”.

A presidente do Sintepe reivindica valorização profissional e aumento de salário para a categoria, independente de o professor lecionar em escola regular ou integral.

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