Valorização dos professores do Recife: quando a teoria difere da prática
Prefeito do Recife, João Campos não vai pagar o reajuste de 33,24% do piso salarial do magistério para todos os professores. Somente 10% da categoria terá direito ao índice determinado pela União
Aprendi desde cedo, com meus pais, que teoria e prática precisam caminhar juntas. Não adianta dizer uma coisa e fazer outra. Também aprendi, em casa, a valorizar e respeitar os professores.
Sempre escuto de gestores públicos da importância de investir em educação, que educação é prioridade, que não se consegue desenvolvimento se não houver investimentos na área. Da sociedade, é comum ouvir que "a profissão mais importante é a do professor porque todos os demais profissionais passam por um docente". Afirmações das quais concordo plenamente.
O papel do professor foi mais acentuado depois do que vivemos na pandemia de covid-19, com escolas fechadas e crianças e adolescentes privados do ambiente escolar. Os docentes não fugiram da responsabilidade, aprenderam na marra a lidar com tecnologia, com atividades remotas, investiram recursos pessoais para adquirir equipamentos e assim garantir que os alunos continuassem estudando. Seguraram as pontas nos momentos mais difíceis dessa crise sanitária mundial.
No final de 2020 entrevistei João Campos para uma série de sabatinas, em parceria com o Movimento Todos pela Educação, com todos os postulantes ao cargo de prefeito do Recife, focadas em educação. "Não há sala de aula sem professor. É a profissão mais nobre que existe na sociedade", afirmou o então deputado federal e hoje prefeito da cidade.
Não há como negar que ele lançou importantes programas para educação em 2021, ano da sua primeira gestão como prefeito da capital pernambucana. Prometeu mais vagas em creches, abriu. Garantiu que focaria em aprendizagem. Lançou o Primeiras Letras, um conjunto de ações para melhorar a alfabetização.
Criou ainda o Educa Recife, programa de ensino virtual, com oferta de aulas pela TV e distribuição (mesmo que atrasada mais de seis meses) de tablets para alunos. Também lançou o Embarque Digital para formar jovens recifenses para atuarem na área tecnológica.
E para os professores, principais atores do processo educacional?
Neste início de 2022, quando teria a oportunidade de continuar mostrando que valoriza a educação, o prefeito João Campos não se dispôs a pagar o reajuste de 33,24% do piso salarial do magistério para todos os profissionais que integram a rede municipal de ensino do Recife.
Na Região Metropolitana, ao menos seis das 14 cidades, com menos recursos que a capital, já garantiram o aumento dos docentes (Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe, Ipojuca, Igarassu e Itapissuma). O governo de Pernambuco também.
Uma das capitais mais ricas do Nordeste, o Recife tem orçamento de R$ 5,26 bilhões para 2022. Desse montante, um quinto, ou R$ 1,1 bilhão, é para educação, área que leva a segunda maior soma de recursos (só perde para urbanismo, R$ 1,3 bilhão). Mas o prefeito disse aos professores que não tinha como arcar, financeiramente, com o pedido da categoria.
Diante da negativa, os professores fizeram greve por 12 dias. A de maior adesão já vista, com mais de 95% dos docentes parados. No final, recuaram com medo de perder e encerraram o movimento nesta sexta-feira (18). Aceitaram ganhar o reajuste de 33,24% apenas para quem recebe abaixo do piso - só 10% do total de profissionais da educação (900 de um universo de 9 mil). Os demais terão 23% de aumento e um abono de 12% de abril a dezembro deste ano, mas pago de uma só vez.
A lição que fica é que para o prefeito João Campos nem sempre teoria anda junto com a prática. Pelo menos com os professores foi assim.
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