"Infância e adolescência: terreno onde pisaremos a vida inteira". Esse é o tema abordado pelo educador Evaldo José Palatinsky, que busca propor aos pais a reflexão sobre a relação que é construída com as crianças e adolescentes, ao mesmo tempo pensar de que forma esse vínculo reverbera no ambiente escolar.
"É um convite para que essa parceria entre escola e família possa ser desenvolvida sempre na direção de beneficiar os nossos jovens. O que temos notado, desde a pandemia, é que essa geração precisa do afeto, da segurança, e do apoio emocional tanto em casa como na escola", destacou Evaldo Palatinsky em entrevista à coluna Enem e Educação.
Educador há mais de 35 anos, sendo professor, coordenador e diretor pedagógico em escolas de referência no Rio e em São Paulo, Evaldo José Palatinsky está no Recife, nesta terça (14) e quarta-feira (15), para participar de palestras direcionadas aos pais e público interno da Escola Eleva.
Em se tratando de um mundo tecnológico, os responsáveis também precisam estar atentos aos estímulos voltados para a criatividade, o resgate do brincar e dos laços com os colegas, sem deixar de pensar na inclusão.
"Não há outro caminho hoje, para gente construir uma educação que seja positiva para os nossos jovens e adolescentes sem que se estabeleça o diálogo franco e aberto entre as famílias e as escolas", pontuou Palatinsky.
SAÚDE EMOCIONAL E A TECNOLOGIA
O Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023 da Unesco, intitulado "A tecnologia na educação, uma ferramenta a serviço de quem?", divulgado em julho do ano passado, mostrou os impactos negativos do uso de celulares em sala de aula na aprendizagem e concentração dos estudantes.
O levantamento também apontou que os equipamentos eletrônicos dentro das salas de aula também atrapalham a gestão dos professores com as turmas.
Sobre alinhar as habilidades socioemocionais e fortalecer o vinculo de diálogo familiar e escolar dentro de uma esfera onde muitas crianças já são nativas digitais, Evaldo José Palatinsky cita como referência o livro do jornalista internacional Johann Hari, "Foco roubado: Os ladrões de atenção da vida moderna".
"Nesse livro tem pesquisas muito interessantes sobre quanta dificuldade uma criança que passa muito tempo na tela, vai ter para manter o seu foco de concentração quando, por exemplo, passar para a leitura de um livro impresso. Quanta dificuldade ela vai ter quando tentar escrever um texto de letra cursiva, utilizando sua caligrafia própria, depois de passar muito tempo digitando com dois polegares", afirmou o professor.
Ele também cita os pensamentos do filósofo e escritor contemporâneo alemão de origem coreana Byung-Chul Han. "A gente precisa resgatar ritos dentro de casa. Nós temos um exercício muitas vezes desafiador até pela rotina que os pais vivem ao trabalharem fora de casa, nem sempre as crianças são cuidadas pelos próprios pais. Enfim, pelo mecanismo de velocidade da agitação do nosso tempo, os ritos de encontro foram se perdendo e são cada vez mais raros", destacou Palatinsky.
Os diálogos precisam fazer parte da rotina diária das crianças e dos adolescentes com os seus responsáveis. Partilhar sobre como foi o dia na escola, quais são seus sentimentos, emoções e dificuldades, é uma forma de construir um local seguro e que acaba impactando de forma positiva na aprendizagem e nos resultados em sala de aula.
QUANDO A RESPONSABILIDADE É DELEGADA A ESCOLA
O educador frisa que é importante compreender que a escola tem um poder de ação limitado, muitas vezes limitados, e por isso a parceria com as famílias é fundamental. Um exemplo é com relação a restrição do uso do celular no ambiente escolar.
Cada unidade de ensino possui suas próprias regras, e os pais têm pensamentos distintos sobre essa questão. Mas, o respeito sobre as medidas restritivas devem vir de casa, quem permite o acesso de crianças do 2º, 3º ano do ensino fundamental, por exemplo, são os próprios pais.
"É uma devolutiva para o olhar da escola também. Imagina um professor que está lidando com 40 adolescentes ou jovens, se além da preocupação que ele tem de preparar uma boa aula, de escolher uma boa estratégia pedagógica, de trazer uma ótica que desafie e inspire esses alunos, ele tiver que exercer o papel de fiscalizador. Ele não vai conseguir", explicou.
O desafio que existe hoje dentro da escola é de que as crianças e adolescentes possam aprender a fazer o uso inteligente das ferramentas tecnológicas que estão disponíveis. "Para isso é preciso que exista uma regulamentação e não basta que a escola esteja sozinha, esse é um trabalho muito bilateral. A família precisa apoiar as ações e os projetos da escola nessa direção", disse Palatinsky.