Da proibição ao letramento digital: como educar para o uso consciente da tecnologia nas escolas
A proibição também levanta a questão do letramento digital e desenvolvimento do pensamento crítico para distinguir informações reais no mundo digital

Embora a Lei nº 15.100/2025, que restringe o uso de celulares durante as aulas, recreios e intervalos em todo o ensino básico, seja bem vista por grande parte da sociedade e da comunidade escolar, especialistas têm destacado a importância de intensificar os debates, dinâmicas e reflexões dentro da sala de aula sobre o uso consciente da tecnologia.
Diante desse cenário, a pedagoga e escritora Socorro Sobral lançou, nesta semana, uma coleção com seis livros paradidáticos infantojuvenis e um guia informativo para educadores, que abordam a importância do bem-estar físico e mental, a partir do uso responsável do celular e do equilíbrio entre o mundo digital e o mundo real.
A escritora explica que, durante a pandemia, o uso do celular tornou-se imprescindível, já que as aulas eram ministradas no formato remoto. Entretanto, com a volta das aulas presenciais, não se trabalhou com as crianças a necessidade de diminuir esse consumo de telas, o que posteriormente trouxe inúmeros problemas para a aprendizagem.
"Nós percebemos a necessidade de fazer um material que pudesse conscientizar as crianças e adolescentes, porque a Lei nº 15.100/2025 foi sancionada em janeiro, mas, com as aulas voltando em fevereiro, esses estudantes já retornaram com o uso totalmente proibido. E aí, houve um trabalho de conscientização antes?", indagou.
Seis títulos
A coleção é composta por seis títulos: "Por que não posso usar o celular na escola?", "O Dia em que o Celular Sumiu", "A Aventura de Lili Desconectada e o Mundo dos Livros", "O Diário de Júlia e o Celular", "Desconectando para Conectar" e "Desligando para Aprender".
Todos possuem uma escrita e imagens lúdicas de forma acessível voltado para crianças a partir dos 6 anos até os 16 anos, com foco no desenvolvimento cognitivo das crianças, a partir do incentivo à leitura.
"O primeiro título é 'Por que não posso usar o celular na escola?', que é quando a gente vem explicando de forma lúdica a proibição em sala de aula, quais são os males que eles podem causar, por que é necessário praticar a leitura e a escrita. Então são livros que trazem ilustrações mostrando o diálogo entre crianças e professores para que haja um entendimento", conta Socorro Sobral.
Já no último título, por exemplo, "Desligando para Aprender", a escritora e pedagoga aborda a história de uma adolescente bastante participativa, mas muito ligada nas telas. Quando retorna para casa, ela sempre relata como foi o seu dia no diário. "É um material que incentiva a criança a ler e a escrever, porque Júlia conta sobre o burburinho causado pela proibição do celular e como foi a aula sem o uso do dispositivo na sala de aula."
"Já no terceiro dia, a personagem relata que, apesar da proibição do uso do celular, eles estão conseguindo fazer atividades bacanas, como ir mais à biblioteca da escola e conversar mais entre os amigos", disse. A coleção esta disponível em livrarias e no site da Editora Trato, responsável pela publicação do material.

Letramento digital
A proibição do uso de celulares em sala de aula também levanta um debate importante: a presença do letramento digital. A diretora de ensino da FourC Bilingual Academy, Juliana Storniolo, enfatiza que limitar o uso pessoal dos dispositivos não significa, necessariamente, excluir a tecnologia do ambiente escolar.
“O debate sobre o uso de celulares tem sido essencial. A escola tem a responsabilidade de preparar os alunos para o mundo digital, conectando as práticas pedagógicas às tendências globais. A ausência de aparelhos em sala de aula não significa falta de letramento digital, mas sim uma estratégia para garantir um uso mais consciente e estruturado da tecnologia”, explica.
O letramento digital envolve, principalmente, o desenvolvimento do pensamento crítico, permitindo que os alunos possam avaliar informações e distinguir o que é real do que não é no ambiente digital. “O pensamento crítico é a principal competência digital para o futuro. Os alunos precisam aprender a avaliar informações, identificar fake news e distinguir o digital do real. Esse é um grande desafio. O uso da tecnologia deve estar associado à busca por soluções inovadoras. É essencial que os usuários da tecnologia sejam críticos e criativos na resolução de desafios”, destaca.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça essa necessidade por meio da 5ª Competência, que trata da Cultura Digital, destacando a importância de os estudantes compreenderem, utilizarem e criarem tecnologias digitais de maneira crítica e ética. No entanto, segundo Juliana, esse processo exige formação contínua de professores e diretrizes bem definidas.
Além do trabalho pedagógico com os alunos, a parceria com as famílias é essencial para o desenvolvimento de um uso saudável da tecnologia. “A família tem um papel fundamental nesse processo. É essencial que os pais mantenham um diálogo aberto com os filhos, acompanhando e orientando o uso da tecnologia. Apenas liberar o acesso sem acompanhamento não é suficiente, assim como proibir completamente pode ser prejudicial. O equilíbrio é essencial”, destaca Juliana.