Por Fernando Castilho do JC Negócios.
Os sinais de que o presidente estava preparando o discurso pronunciado em rede nacional, onde pediu reabertura de comércio e escolas e fim do 'confinamento,' estavam no ar desde a noite de terça-feira.
O seu guru Olavo de Carvalho simplesmente negou que houvesse a pandemia da covid-19. Expoentes dessa corrente passaram a inundar as redes sociais reverberando a tese e o próprio discurso de Donald Trump, em quem Bolsonaro costuma dizer que se inspira, insistindo em não exigir confinamento, mesmo com Nova Iorque com 25 mil casos confirmados, eram uma indicação de que Bolsonaro “estava inventando coisa”. Ontem a noite ele soltou sua bomba.
É difícil imaginar a satisfação do redator de tamanha peça de irresponsabilidade social. Como se sabe que o presidente tem dificuldades com as palavras, é de se esperar que alguém produziu tal pérola. Mas quem? Carlos Bolsonaro, o filho que ele considera mais preparado intelectualmente de seu clã?
A história registra uma grande lista de auxiliares qualificados que, na ânsia de atender ao rei, se prestam a serviços que sua formação intelectual jamais previu. É quando afloram os verdadeiros níveis de caráter.
O que sua excelência fez com o Brasil em rede nacional é algo tão absurdo que extrapola a mente mais criadora de situações de caos de um ficcionista imaginando como um país pode ser submetido ao caos.
O pronunciamento de Bolsonaro é tão negativamente impactante que até o discurso de que é preciso manter parte do país funcionado para dar suporte aos que estarão na linha de frente de atendimento á covid19 foi destruído.
A partir de agora, qual empresário responsável com seus empregados tem condições de defender o conceito de manutenção de um razoável número de atividades sob o risco de ser acusado por todo o contágio que os seus funcionários venham a ter em breve? Mas quem disse que Bolsonaro está preocupado com isso?
O presidente já tinha demonstrado que não está preocupado com a epidemia. Exemplos ele vem dando há várias semanas, como o da caminhada no ultimo dia 15 na frente do Palácio da Alvorada.
Jair Bolsonaro e parte dos que estão ao seu redor fazem uma conta absurdamente simples e macabra. Se temos 58 mil assassinatos por ano, o que seria morrer mais 10 mil ou 12 mil de coronavírus se a economia permanecer funcionando?
Ou esse raciocínio: Nas favelas e palafitas, a falta de assistência médica a tratamento de câncer já não existe por falta crônica de mamógrafos. Então, por que a falta de respiradores vai alterar o risco de mortes dessa população?
É um caminho economicista muito perigoso. Ele se aproveita da falta de informação do cidadão mais susceptível ao vírus, pela sua fragilidade de saúde, para espalhar a desinformação.
Porque na cabeça de boa parte do brasileiro de baixa renda não há como deixar de trabalhar por mais de uma semana. Porque mais de 40 milhões de chefes de famílias não têm qualquer forma de ser alcançado pela ajuda do governo. E de certa forma eles têm razão.
O assustador foi Bolsonaro trabalhar com ela para destruir toda uma preparação para a epidemia de seu governo até agora. Mas como já havia dito ao ministro da Economia Paulo Guedes, “não podia ficar mais tempo apanhando” e decidiu agir rápido.
Ganhou protagonismo da forma mais absurda que um chefe de Estado pode adquirir. Mas quem disse que ele se preocupa com a história? O mundo de Bolsonaro e seu grupo de seguidores está mais interessado é naquele sinalzinho de like (gostei), ainda que isso condene à morte milhares de cidadãos.
Mas isso é o que temos para hoje. Infelizmente.
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