Com dinheiro do governo, bancos terão que mostrar, na prática, apoio às empresas em dificuldades pela covid-19

Até agora isso não aconteceu. E mesmo com vai cobrar dos bancos que os R$ 20 bilhões mensais do programa de empréstimo para bancar parte da folha de pagamento cheguem de fato aos trabalhadores de pequenas e médias empresas
Fernando Castilho
Publicado em 29/03/2020 às 12:42
O presidente, que costuma falar com apoiadores na portaria da Alvorada, demonstrou impaciência na hora de responder perguntas Foto: Válter Campanato/Agência Brasil


Por Fernnado Castilho do JC Negócios.

O lançamento de uma linha de crédito para pagar salários, numa ação emergencial de R$ 40 bilhões para que pequenas e médias empresas financiem o pagamento dos salários dos funcionários por dois meses, vai ser o teste de fogo para os bancos privados brasileiros.

A promessa do financiamento deve estar disponível entre uma e duas semanas é, de fato um bom caminho. Mas os empresários terão que esperar a boa vontade dos repassadores.

Até agora isso não aconteceu. E mesmo com o Banco Central dizendo que vai cobrar dos bancos que os R$ 20 bilhões mensais do programa de empréstimo para folha de pagamento cheguem, de fato, aos trabalhadores de pequenas e médias empresas, a desconfiança continua entre os empresários.

Um fato novo é que os três grandes bancos (Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil ), estão garantindo na publicidade da TV que os R$ 40 bilhões anunciados vão chegar às pequenas e médias empresas no intuito de manter os empregos em meio à crise do coronavírus. Mas a dúvida continua.

Uma coisa que é bom lembrar é que essa ajuda está sendo paga pelo contribuinte. Ao aderirem à criação de um fundo emergencial, os bancos juntos, só võo arcar com 15% desta conta. Na negociação eles propuseram ficar com apenas 10% do risco, mas aceitaram 15%. Ou seja, dos R$ 40 bilhões eles são vão entrar com R$ 8 bilhões. Em 2019. o Bradesco lucrou R$ 5,8 bilhões, o Itaú Unibanco, R$ 5,6 bilhões e o Santander, R$ 3,6 bilhões.

Para o consultor financeiro, Luiz Faldo Di Cavalcanti, o desafio desse financiamento é que são “operações indiretas”, através de bancos repassadores, e com isso os clientes ficam à mercê da boa vontade deles que em geral não demonstraram muito apetite por se tratar de operações onde seus ganhos são menores.

Ele lembra a circular da linha BNDES Pequenas Empresas, lançada dia 23 de março (na segunda-feira ao anúncio do Governo), até a última sexta-feira os bancos repassadores não tinham sequer previsão de quando teriam seus sistemas ajustados para operacionalizar tais linhas.

Um dos maiores benefícios lançados pelo BNDES para ajudar as empresas é a estrutura de prazo de carência. Na prática, os bancos não chegam nem perto dos 24 meses propagados pelo Governo e o prazo de carência fica só na propaganda;

Um outro ponto mencionado nos anúncios do último domingo dia 22 de março e que até o momento o Governo não anunciou medidas complementares foi o relativo constituição de eventuais Fundos Garantidores.

Luiz Faldo diz que o que tem acontecido é que os pleitos de crédito têm esbarrado neste problema, já que os clientes já não têm recebíveis para disponibilizar em garantia. O problema é se for por exemplo imóveis, têm dificuldade de registrar a alienação porque não têm cartórios aberto em todas as localidades (além de não haver tempo hábil e profissionais disponíveis para avaliar os ativos). Além disso, o FGI (Fundo Garantidor do BNDES) não têm sido aceitos pelos bancos para garantir operações com recursos que não sejam de repasse.

Mas existem ações positivas por bancos oficiais como por exemplo, a Caixa,Econômica que tem digitalizado e desburocratizado a abertura de limites de crédito para os clientes, aproveitando a questão emergencial para implementar inovações de processos que poderão ser a base de um atendimento futuro mais ágil e em favor dos clientes.

Para ele, se o Governo quiser mesmo salvar as empresas, precisa convocar os bancos para realmente fazer os repasses BNDES, com a estrutura divulgada, além de criar boas ferramentas de apoio às garantias requeridas para os créditos.

Mas não é para todo mundo. O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, disse que o banco não financiará empresas com quem não tenha relação sem garantias e que os atuais clientes da Caixa terão acesso mais rápido a empréstimos, já que a instituição já tem seus dados e histórico.

Na pratica, se a empresa não tiver relacionamento com um banco dificilmente ela vai acessar o dinheiro anunciado na última quinta-feira.Assim o grande teste das medidas anunciadas por Bolsonaro será a partir de amanha, quando os bancos abrirem.

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