Por Fernando Castilho do JC Negócios.
No começo de 2004, um grupo de pequenos empresários do setor de informática formou uma rede de compras de computadores e suprimentos para competir com as grandes redes fazendo compras conjuntas para obter melhores preços dos fornecedores. A Varejoinfo juntava os pedidos e enviava direto para as indústrias.
Pedro Ernesto Gondim, então dono da rede de lojas pernambucanas Infobox, foi encarregado de comprar notebooks. Certa vez, ele recebeu um convite de uma marca líder japonesa para visitar na China para conhecer os produtos a serem vendidos no Brasil.
Em Xangai, Gondin desencontrou-se do acompanhante no pavilhão de feiras e foi bater sozinho no estande da empresa onde estranhou os preços. Um chinês o observou por algum tempo e o interpelou em português: A linha que você procura não está desse lado. Eu vou lhe levar até lá.
Do outro lado do estante, os mesmos produtos estavam com os preços acertados no Brasil. O chinês esclareceu: Você entrou na área de União Europeia e Estados Unidos. Essa aqui é a das Américas e Caribe. Gondim percebeu que a marca tinha quatro linhas de produtos para quatro regiões globais e que o Brasil não estava no time principal.
O chinês conhecia bem o Brasil. Ele cuidara na década de 80 da implantação de uma trading do governo chinês no Paraguai para vender ao Brasil antes do advento do Real. Eles mandavam para lá toda sorte de produtos baratos já que a inflação brasileira não permitia comprar o que os americanos compravam.
Eram os chamados “chinglings” de baixa qualidade que a China mandava para a fronteira do Paraguai e que entravam no Brasil. Somente a partir de 2008 o Brasil deixou de comprar esses produtos e os computadores passaram chegar aqui com marca EU.
As dificuldades do Brasil para comprar respiradores e itens para atender as necessidades de combate a covid-19 permitiram aos compradores do poder público brasileiros saber o que é comprar direto da China e o que é não saber se o que foi comprado vai chegar.
Listen to #035 - Coronavírus e a fase da quarentena byRádio Jornal on hearthis.at
Também explica por que os americanos mandaram seus 20 aviões buscar o que estivesse em estoque disponível. Porque para um comerciante chinês, até que o dinheiro caia na conta, ele não considera ter qualquer compromisso com o cliente que fez o pedido. Na prática, isso quer dizer: Quem chegar primeiro com o dinheiro leva. E como se viu os americanos chegaram primeiro.
A consolidação da China no mercado mundial só foi possível graças à grande vantagem comparativa apresentada por fornecedores chineses em relação a fornecedores de outros países, como analisa o blog da China Link Trading consultoria que desde 2008 trabalha apenas com a China.
A economia da China funciona sob um sistema muito distinto quando comparado aos sistemas econômicos da maioria dos países, incluindo as grandes potências.
Sua estratégia econômica é denominada "mista”, pois une elementos do sistema político socialista e também do capitalismo. O governo chinês tem forte posicionamento na vida social, cultural e econômica do país, sendo uma característica do socialismo. Por exemplo, a chinesa Huawei no 5G é uma estatal controlada por um braço do exército chinês.
Comprar da China não é coisa para amador. Primeiro, o chinês não tem os mesmos conceitos e filosofia comercial que os europeus que presam pela confiança. O chinês vende para quem paga o preço.
Isso tem a ver com a concepção de comércio do país desde as rotas da seda. E mais ainda depois da parceria com os Estados Unidos de Jimmy Carter e a China de Deng Xiao Ping
Deng foi o legendário líder da China só é superado, em prestígio, pelo fundador da República Popular da China Mao Tse-tung e mais reverenciado que o próprio Xi Jiping, atual comandante do país. Foi Deng quem cunhou a expressão “enriquecer é glorioso”.
E também foi ele que fez os americanos levarem para a China todas as fabricas para se aproveitar dos baixos salários e de tarefas repetitivas que os operários americanos não queriam fazer.
Podemos dizer que, de certa forma, a transformação da China na manufatura do mundo no século XXI foi obra dos americanos que, por 40 anos, entregaram as fabricas chinesas a missão de fazer de móveis ao Iphone. A chegada da covid-19 escancarou isso ao mundo.
A China tem mais de 70% de toda a produção industrial do planeta cujas nações entregaram a ela a missão de fazer seus produtos sob o argumento de ficar com o design.
Foi uma bobagem colossal. O coronavírus revelou ao mundo que mais de 70% dos princípios ativos médicos eram processados na China. A China já registra mais patentes industriais que toda Europa e desenvolveu áreas de excelências especializadas em segmentos inteiros.
No fundo, toda a produção de respiradores e equipamentos de controle de pressão, desfibriladores são feitos em Guangzhou que, ao lado de Jiangsu, se tornou um dos maiores centros de equipamentos médicos do mundo.
A cidade tem 16 dos 82 fabricantes de suprimentos médicos da China e, portanto, do mundo. Apenas fabricantes de máscaras Guangzhou tem 900 empresas. E foi essa capacidade industrial que ajudou no tratamento da epidemia na região de Wuhan, capital de Hubei, onde o covid-19 foi identificado em dezembro último.
Essa realidade é que faz o Brasil e o mundo correrem desesperados para comprar suprimentos médicos pagando dólar de R$ 5,20, estourando os custos e ainda competindo com Estados Unidos, França e Canadá por esses insumos.
No fundo, a covid-19 vai punir os países em desenvolvimento. E consolidar a China como a próxima potência líder do mundo. Sem os valores da democracia americana irradiada para o resto do mundo.
Todos os dias, de domingo a domingo, sempre às 20h, o Jornal do Commercio divulga uma nova newsletter diretamente para o seu email sobre os assuntos mais atualizados do coronavírus em Pernambuco, no Brasil e no mundo. E como faço para receber? É simples. Os interessados podem assinar esta e outras newsletters através do link jc.com.br/newsletter ou no box localizado no final das matérias.
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.