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Bitcoin vale US$ 600 bilhões. Mas você investiria numa moeda totalmente virtual?

Bitcoin foi o pioneiro no que depois veio a ser chamado de criptomoeda, criando um novo sistema de pagamento e um dinheiro totalmente digital

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Fernando Castilho

Publicado em 31/01/2021 às 7:00 | Atualizado em 31/01/2021 às 11:40
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Você colocaria seu dinheiro num ativo negociado na internet e que é resultado de uma mineração de dados, que é o processo de gastar poder de computação para processar transações, proteger a rede e manter todos no sistema sincronizados?

Pagaria o dinheiro físico, seja ele Real, Dólar ou Euro, numa criptomoeda criada em computador e colocada no mercado para ser cotada e vendida sabendo que todo dia nascem novas criptomoedas?

Pois é. Na última sexta-feira, ninguém menos que Elon Musk, CEO da Tesla e da SpaceX, usou o Twitter para mencionar o bitcoin. E como Musk tem 44 milhões de seguidores, o fato foi suficiente para impulsionar o preço do bitcoin no mundo. No Brasil, teve alta de 17%, indo a R$ 203.990.

O gesto de Musk pôs na rede uma tempestade de menções e depoimentos de gente que aposta nesses novos ativos. Foi como um atestado de validade para um investimento que muita gente olha atravessado.

OBITUÁRIO DE BITCOIN

Para se ser uma ideia disso, basta dizer que desconfiança sobre o bitcoin é tão grande que o site CryptoParrot.com faz, anualmente, a contagem do chamado "Obituários do Bitcoin". Em 2020, ele registrou 13 mortes da criptomoeda, queda de 68,29% em relação às 41 "mortes" de 2019. Desde o início do ativo, em 2010, ocorreram 382 declarações de óbito.

O bitcoin foi o pioneiro no que depois veio a ser chamado de criptomoeda, e se apresenta como uma rede consensual que possibilita um novo sistema de pagamento e um dinheiro totalmente digital.

No final do ano passado, tinha um valor de mercado declarado de US$ 600 bilhões, 76% de todo o ecossistema. No último dia 8, data de seu aniversário de criação, a cotação de um bitcoin foi US$ 41 mil.

Um pesquisa da consultoria ConsenSys, feita ano passado, mostra que o Brasil lidera em todo o mundo as buscas pelas palavra "Bitcoin" (88%), "Blockchain" (7%), "Ethereum" (4%), "Criptomoedas" (1%), indício do interesse brasileiro por este mercado.

O bitcoin desperta muito interesse. Especialmente no Brasil, depois que a taxa Selic foi mantida em 2% ao ano. Essa demanda e os registros da Receita Federal fizeram o Banco Central criar um grupo de estudos para discutir a possível emissão de moeda digital no País.

Mas tem gente de peso que não leva bitcoin a sério, como o norte-americano Warren Buffet, um dos mais importantes investidores da atualidade, que torce o nariz para as criptomoedas.

Ele diz que não há nada de errado com a decisão de apostar numa criptomoeda. "Se você quer apostar que alguém virá amanhã e pagará mais dinheiro tudo bem. Mas isso é um tipo de jogo, isso não é investir", sentencia o bilionário.

QUEM É SATOSHI NAKAMOTO?

Mas voltemos um pouco no tempo. O conceito, "criptomoeda" foi descrito pela primeira vez em 1998 por uma pessoa que se identificou como Satoshi Nakamoto. Foi ele quem criou a expressão bitcoin.

Nakamoto deixou o projeto no final de 2010 sem revelar muito sobre si mesmo. Na verdade, até hoje ninguém sabe quem foi ou é Nakamoto.

O bitcoin virou a referência global. Ele não é considerado ilegal pela maioria dos países. No entanto, Argentina e Rússia restringem severamente ou proíbem moedas estrangeiras.

O bitcoin declara que é controlado por todos os usuários bitcoin no mundo. De qualquer forma, cada vez mais países estão se preparando para a adoção de "regulamentos amigáveis" à criptografia, como a China e o Japão, que já consideram a implementação da tecnologia blockchain em suas áreas.

O BC informou que a emissão de moeda digital por bancos centrais pode ser uma possibilidade para aprimorar o modelo vigente das transações comerciais entre as pessoas e mesmo entre países.

Mas a questão é: criadores de criptomoedas estão interessados em ter os bancos centrais controlando seus movimentos? Criptomoedas tem como características não estarem subordinadas a nenhuma instituição como os bancos centrais.

No final de 2020, as 15 principais criptomoedas do mercado tinham valores declarados em US$ 786 bilhões (R$ 4,4 trilhões ao câmbio da última sexta-feira).

No Brasil, ele domina o interesse dos aflitos sobre como aplicar seu dinheiro, já que os títulos de renda fixa estão com a rentabilidade muito baixa.

BRASIL ATRÁS DE BICOIN

O sucesso do bitcoin levou ao surgimento de uma série de outras criptomoedas cujo valor das 15 principais somam quase US$ 800 bilhões. Na cauda do Bitcoin, surgiu a Ethereum, uma tecnologia que permite enviar criptomoedas para qualquer pessoa por uma pequena taxa.

Mas existe muita desinformação. Mas sempre é bom não esquecer. Criptomoeda, ou moeda criptografada, é um ativo digital denominado na própria unidade de conta que é emitido e transacionado de modo descentralizado, independente de registro ou validação por parte de bancos centrais, com validade assegurada por consenso em rede.

Ela não é a mesma coisa de moeda eletrônica, que é definida em lei como "recursos armazenados em dispositivo ou sistema eletrônico que permite ao usuário final efetuar uma transação de pagamento exclusivamente em reais".

QUEBRANDO OS MITOS

E como sempre tem muita desinformação, o CEO da consultoria BitcoinTrade, Daniel Coquieri, lista os seis principais mitos sobre bitcoin: Não é rastreável, é ilegal, é mera especulação, não é seguro, precisa de altos valores para começar a investir e é um esquema de pirâmide.

Coquieri diz que as transações com bitcoins podem ser rastreadas, pois a pessoa precisa ter uma conta exchange (onde serão exigidos dados pessoais) e declará-la para a Receita Federal.

Sobre o fato ainda não existir regulação específica para criptomoedas no Brasil, para ele é incorreto dizer que é ilegal, pois já é usada como pagamento de produtos e serviços em empresas legais.

Sobre ser especulação, ele lembra que bitcoin é finito, limitado a 21 milhões de unidades, por isso sua cotação está subindo. E que é seguro, porque funciona com base na tecnologia do blockchain, uma cadeia de blocos de informações na qual as transações são criptografadas, que registra os valores que são enviados e recebidos.

Finalmente, sobre ser uma pirâmide, Coquieri diz que o bitcoin funciona em uma lógica diferente. É uma moeda virtual, com estoque finito, cotação e volátil, e que pode ser comprada e vendida, como outras moedas no mundo.

Mas a dúvida continua. Criptomoeda tem futuro?

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