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Nova crise hídrica faz consumidor lembrar racionamento de 2001, que cortou a luz de quem não cumpriu cota mensal

Em 2001, até a novela das oito falou para população economizar energia. Posto fechou das 22h à 6h da manhã

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Fernando Castilho

Publicado em 15/06/2021 às 8:45 | Atualizado em 15/06/2021 às 9:26
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Certamente não teremos os transtornos de 2001. E nem as condições de infraestrutura são as mesmas. E quem quiser que ache ruim, mas no segundo semestre do ano, toda a economia brasileira terá que conviver com medidas de restrição e estímulo ao uso eficiente de energia.

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Para quem não lembra e para quem ainda nem era nascido, a ideia de um racionamento pode não estar clara, mas acredite: em 2001, as famílias tinham um limite de energia para usar. E quem gastava mais tinha ela cortada. E para ligar, pagava cinco vezes mais de taxa de religação.

Naquele ano, por exemplo, OAB, CUT e Ministério Público entraram na Justiça contra o apagão. Mas as ações foram derrubadas.

Teve até impacto na novela das oito horas. No caso da TV Globo, os autores de "Porto dos Milagres" irão incluir o apagão na trama. Segundo Ricardo Linhares, um dos autores, a ideia é criticar a maneira como o governo está lidando com a crise. "Vamos criticar o descalabro de termos chegado a esse ponto", diz o autor. Segundo ele, o objetivo principal será prestar um serviço à comunidade, mostrando, por exemplo, como economizar energia.

O ruim dessa história é que, curiosamente, elas podem valer já a partir de 1º de julho, numa incrível semelhança com o decreto do governo FHC, há 20 anos.

O primeiro efeito o consumidor já está sentido com a bandeira vermelha - que ficará até dezembro. Mas o ministério das Minas e Energia já admite que o governo terá um comitê coordenador que vai atuar independente do Ibama e da ANA, com poderes para o deslocamento de água dos reservatórios para as barragens hidroelétricas que vão gerar o máximo de energia - ainda que no final ano cheguem no volume morto.

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O Nordeste, através da Chesf, já está escalado, pois o ONS comunicou a necessidade da UHE Xingó liberar 1.500 m³/s, em setembro, e sua vazão máxima (2.500 m³/s) em outubro e novembro de 2021.

Dos maiores sistemas, o Nordeste, que junta as bacias dos rios Jequitinhonha e São Francisco, é o que tem situação melhor, com 61,38% de água guardada - a maioria em Sobradinho. Mas a crise deve gerar tensões políticas com uso em apenas dois meses.

O confronto vai ser maior no Subsistema Sudeste-Centro Oeste, que reúne oito bacias e que está com 30,82%. O reservatório de Furnas (MG) já é motivo de queixas do presidente do senado, Rodrigo Pacheco, que quer preservar parte da água. Mas também parece claro que o Governo vai usar toda a água de Furnas para gerar mais energia.

Tem mais: o ONS avisou que precisará despachar o máximo de usinas termelétricas de 20,1 mil MW/Médio, em outubro, e 19,9 mil MW/Médio, em novembro. Então, que a conta de energia e que as dificuldades de abastecimento serão muito fortes, já está constatado.

O que mais preocupa no cenário, especialmente de outubro a dezembro, é a confiabilidade da energia que o ONS vai fornecer nacionalmente. O ONS informou ao governo que vai precisar despachar o que tiver de potência do sistema através de um balanço que considera despacho térmico, violação da política de operação das usinas do Rio São Francisco, e importação de energia da reserva operativa, a fim de evitar déficits de potência, que é a quantidade de energia elétrica fornecida ou consumida por um circuito elétrico. Quer dizer confiabilidade do sistema na ponta.

Pelas contas do ONS, entre julho e setembro, não teremos problemas. Mas em outubro a coisa complica, com situação não muito confortável em função das diversas incertezas existentes, tais como nível de indisponibilidade térmica e limites de transmissão.

Entretanto, em novembro, os cenários indicam necessidades de uso total dos reservatórios da bacia do São Francisco e importação de energia da Argentina e Uruguai, bem como de uso de parte da reserva operativa do sistema, a fim de evitar déficit de potência.

Governo discute como dar a notícia

O que o Governo discute agora é como dar a notícia sem fazer os mais velhos lembrarem daqueles tempos em que a indústria parava entre 17h e 22h para economizar energia.

Alguém pode imaginar hoje que os postos poderão ser fechados à noite, pois em 2001 eles fecharam. A Fecombustíveis (Federação Nacional dos Revendedores de Combustíveis) obteve aprovação da Câmara de Gestão da Crise de Energia para orientar os postos a fecharem das 22h às 6h. Os postos passaram quase um ano com horários reduzidos.

A questão ficou tão séria que a Caixa Econômica Federal vai disponibilizar R$ 100 milhões para financiamento de equipamentos de aquecimento solar. Os recursos serão suficientes para atender a cerca de 150 mil residências populares. O que aconteceu foi que não as casas populares, mas a classe média começou a comprar, embora em pouca quantidade.

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