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Fraqueza de Rodrigo Pacheco na defesa do Congresso destrói mais um sonho do Centro de encontrar nomes contra Bolsonaro

Coragem cívica é atributo dos grandes líderes. Mas quem não tem não tem como demonstrá-la mesmo nos grandes momentos da vida pública.

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Fernando Castilho

Publicado em 08/07/2021 às 12:20 | Atualizado em 08/07/2021 às 13:43
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Eleito quase que por consenso, com apoio da esquerda e da direita, o mineiro Rodrigo Pacheco foi saudado como um quadro de grandes possibilidades pela disposição de diálogo, sendo listado por vários analistas como uma opção do Centro numa disputa em 2022.

Rodrigo Pacheco deveria ter lido a frase de Nilo Coelho, tio do atual líder do Governo, Fernando Bezerra, quando, pressionado a atuar para eleger o candidato do governo, advertiu "Não sou presidente do Congresso do PDS; sou presidente do Congresso do Brasil".

Na noite desta quarta-feira, Rodrigo Pacheco teve e perdeu a oportunidade de entrar para a história de se afirmar como defensor do Congresso Nacional ao se pronunciar com enorme tibieza sobre a nota do Ministério da Defesa.

Ninguém esperava que ele confrontasse o posicionamento dos militares com arrogância ou demonstração de embate. Mas ele não precisava mostrar fragilidade quase que se desculpando pela fala de Omar Azis. Bastava apenas lembrar a independência dos poderes. O que acabou lhe rendendo uma repreensão em cadeia nacional do senador do Amazonas dizendo "esperava que ele defendesse a instituição".

Embora o Governo tenha festejado a nota do Ministério da Defesa, parece claro que o ministro Braga Neto errou na dose. Muito mais que o presidente da CPI possa ter avançado numa crítica aos militares. Até porque o próprio senador do Amazonas já tinha refeito a sua crítica na mesma sessão no Senado.

Mas a constrangedora fragilidade de Rodrigo Pacheco ao menos serve para chamar atenção para um problema bem mais sério: os desmandos do Ministério da Saúde. Que foram alertados por ninguém menos que o vice-presidente Hamilton Mourão, que aí sim, generalizou na crítica ao que aconteceria naquela ministério.

Segundo ele, “o Ministério da Saúde sempre foi um lugar onde a corrupção andou lá dentro e não se consegue da noite para o dia desmanchar uma estrutura que se encontra lá dentro. Isso é uma responsabilidade dos gestores, que têm que estar atentos a isso o tempo todo. Também existe uma Controladoria-Geral que tem que estar atenta a determinadas movimentações”, disse Mourão.

O vice-presidente rebatia o discurso contra corrupção do governo que estaria abalado após as suspeitas de irregularidades e denúncias de propinas nas negociações para a compra de vacinas contra a covid-19.

Ninguém do Ministério (até agora) emitiu qualquer nota contra a generalização de Morão, embora se saiba que ela indignou milhares de servidores que estão trabalhando duro para dar um mínimo de organização ao processo de desorganização, que se se iniciou a partir da saída do ministro Mandetta em abril do ano passado.

O Ministério da Saúde, que tem o maior orçamento do país, certamente, não é um exemplo de transparência. Mas não é um valhacouto de ladrões.

Até porque foi graças ao SUS que o Brasil aguentou a falta de coordenação do Governo Bolsonaro. Hoje, o SUS tem muito mais credibilidade que no começo de 2020, exatamente, pelo serviço que prestou no atendimento às vítimas do coronavírus. Mas ninguém criticou Hamilton Mourão quando ele generalizou na critica à pasta.

O problema é que o vice-presidente tem uma certa razão porque um grande número de deputados olha e atua dentro do MS como se ali tivesse um botim suficiente para todo tipo de expediente.

E o depoimento do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, mostrou que naquele ministério estabeleceu-se um confronto entre os militares requisitados por Eduardo Pazzuello e os representantes desses deputados que já operavam na pasta.

A CPI tem claramente um roteiro que deve buscar a captura de provas desse embate quando qual personagens como Roberto Dias, Luiz Paulo Dominghetti e até mesmo um reverendo como Amilton Gomes de Paula, que preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, transitaram pelos gabinetes do ministério falando sobre venda de vacinas enquanto outros personagens, como os militares trazidos por Pazzuello, travavam uma outra batalha desta vez no sentido de não comprar vacinas.

É importante delimitar esses campos. No ministério da Saúde, atuaram dois grupos, onde um queria vender vacina que não tinha ou vacinas que não tinham autorização da Anvisa. E outro que, por recomendação presidente Jair Bolsonaro, não queria apressar a negociação com a Pfizer nem com a Sinovac adquirida pelo Governo de São Paulo.

A CPI já conseguiu provas de que o Governo atuou para vender cloroquina e difundir medicação ineficaz e da inação do Governo. Precisa agora encontrar provas sobre essa briga de grupos quem envolveu deputados e militares.

Isso não tem nada a ver com o respeito que a população brasileira tem para com as Forças Armadas. O problema é identificar civis e militares que se envolveram em corrupção. Daí porque há uma grande distância entre o que diz a nota do Ministério da Defesa e o pretende a CPI.

Tudo isso pode ser esclarecido. Agora, o que a história vai registrar é a fragilidade do presidente do Senado Rodrigo Pacheco.

Coragem cívica é atributo dos grandes líderes. Mas quem não tem, não tem como demonstrá-la mesmo nos grandes momentos da vida pública. E Rodrigo Pacheco mostrou que não tem.

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