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Caminhão novo na esplanada dos ministérios pertence a empresários do agronegócio comprados com dinheiro do BNDES e dólar da exportação

Com raras exceções nenhum desses veículos pertence a caminhoneiros autônomos que dificilmente tem condições de parar no protesto por tantos dias.

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Fernando Castilho

Publicado em 09/09/2021 às 16:15 | Atualizado em 10/09/2021 às 14:31
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Uma das coisas que mais chama atenção na ocupação de caminhoneiros que dizem apoiar Bolsonaro estacionados na esplanada dos ministério é o padrão dos caminhões. Veículos novos, sem a carroceria e modelos top de linha das fábricas Mercedes Benz, Volvo, Scania, MAN (Volkswagen) e Iveco (Fiat). São modelos como o novo Actros da MAN, Scania R540, ou o Volvo XC60 2021, todos novinhos e brilhantes.

Nenhum deles custa menos de R$ 450 mil e, certamente, nenhum deles foi comprado por um caminhoneiro autônomo que não consegue financiá-lo já que a linha BNDES Crédito Caminhoneiro tem limite de R$ 100 mil o que, automaticamente, os empurra para o mercado de seminovos.

Outra coisa que chama atenção é que são caminhões que estão ali sem as carrocerias e em grupos de cinco ou seis unidades com o mesmo padrão indicando que pertencem a uma mesma empresa. Os lideres dos caminhoneiros podem estar liderando as manifestações e apoiando o presidente, mas o caminhões deles devem estar estacionados bem distante.

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A explicação é bem simples. Com raras exceções, nenhum desses veículos pertence a caminhoneiros autônomos que dificilmente tem condições de parar no protesto por tantos dias. 

Na verdade, essa caminhões pertencem a empresários do agronegócio que desde a greve de 2018, no Governo Michel Temer, estão investindo pesado na compra de suas próprias frotas com os recursos em dólar de suas vendas de milho, soja, algodão, feijão e arroz, normalmente comprados à vista. Os empresários criaram assim empresas de transportes para transportar suas próprias safras.

Não há nada de erra do ou ilegal nisso. São empresários que puderam se beneficiar das linhas de crédito do BNDES para a renovação de frotas de caminhões e ônibus que tem como dar garantias. Uma parte dos caminhões vendidos hoje ao agronegócio poderia ser comparada à vista, mas são financiadas de modo que o empresário melhore seu escore de negócios com os bancos. 

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ERCAMINHÕES PESADOS EM BRASILIA - DIVULGAÇÃO

É um negocio em forte ascensão. Foram 101.735 caminhões emplacados ao longo dos 12 meses de 2019 ante os 76.428 em 2018.

Em 2021, a venda de caminhões novos cresceu 15,7%% em maio de 2021 no Brasil. Nesse sentido, foram emplacadas 11.358 unidades no mês passado. Ou seja, foram 1.541 a mais do que as 9.817 registradas em abril.

A Mercedes-Benz lidera a venda de caminhões no Brasil em 2021. Em outras palavras, a marca detém 30,74% de participação de mercado. Mas o líder de vendas em 2021 é o Volvo FH 540. Assim, foram emplacadas 3.107 unidades no acumulado de janeiro a maio de 2021.

Em 2021, quem vende caminhões no Brasil viu, em número de vendas, a tal da “recuperação em V”.
Segundo dados da Anfavea, entre janeiro e abril deste ano, foram licenciados 35.862 caminhões, alta de 48% em relação ao mesmo período de 2020 -- e de 19,5% em relação ao período de janeiro a abril de 2019.

As razões para a alta envolvem a combinação de safra recorde e alta do dólar, além de baixas taxas de juros, que motivaram a renovação de frotas.


Todo esse espetacular crescimento passa a quilômetros dos caminhoneiros autônomos. Na verdade, uma boa parte deles agora é motorista de empresas agrícolas criadas pelo agronegócio para transportar a safra.

Como há um grande apoio dos empresários do agronegócio que apoiam o presidente Bolsonaro os veículos que estão estacionado na esplanada pertencem a apoiadores que já colheram e entregaram sua safra.

O caminhão que está estacionado na esplanada dos ministérios é o mesmo que estaria estacionado nas fazendas. Não há a rigor perda de negócios de nenhuma empresa.

Esse fenômeno da mudança de perfil dos caminhoneiros se dede primeiro ao fato de que após se equiparem em termos de máquinas agrícolas cujas vendas cresceram nos últimos dois anos, inclusive, com a importação de modelos internacionais de plantadeiras americanas.

Na verdade, a possibilidade de que em Brasília estejam estacionados pertencer a um caminhoneiro autônomo é tão distante como a possibilidade ele comprar um modelo Volvo FH540 que custa R$ 500 mil na versão mais cara.

O protesto de caminhoneiros é, na verdade, um protesto de empresários produtores de comodities que estão se beneficiando com os dólares do boom do mercado internacional. E eles poderão continuar ali por muito tempo.

ERCAMINHÕES PESADOS
CAMINHÃO SUPERPESADO DA VOLVO O MAIS COMPRAOD PELO AGRONEGOCIO - ERCAMINHÕES PESADOS

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