Brasil, que já proibiu importação de milho transgênico, hoje exporta 35 milhões de toneladas do cereal
Líder no setor, o Mato Grosso colheu 7,8 milhões de toneladas de milho na safra 2007/2008. Na próxima, deve colher 40,2 milhões de toneladas
Acredite. Em 2003, no início do governo Lula, a Avipe (Associação Avícola de Pernambuco) precisou de uma liminar na Justiça Federal para importação de milho transgênico da Argentina.
O grão foi usado na ração animal (criação de frango) depois de descarregado no Porto do Recife. Pouco mais de 17.850 toneladas, no valor de US$ 2,1 milhões.
O embate na Justiça se deu porque pesquisadores brasileiros não aceitavam a importação do milho argentino, colhido na província de Córdoba e Rosário, que há mais de uma década produziam o milho geneticamente modificado e exportavam para dezenas de países.
O Brasil chegou a cogitar importar milho orgânico da China, mas os argentinos continuaram fornecedores, até que em 2008, já no segundo governo de Lula, o Brasil virou a chave e passou de importador para exportador, transformando-se num player internacional de milho - além da soja, da qual é o maior produtor mundial.
Desde 2008, ninguém mais questiona o fato de o milho brasileiro ser ou não transgênico.
Na verdade, ainda em 2002 o Brasil chegou a exportar cerca de 500 mil toneladas de milho da safra nova do Paraná.
Mas foi a partir de 2008 que o Brasil entrou, de fato, no mercado global de exportação de milho, passando a colher três safras e atingindo mais de 110 milhões de toneladas, como é a previsão deste ano.
Em dez anos, o crescimento das exportações de milho nos saltou de 6,37 milhões de toneladas em 2008 para 29,25 milhões de toneladas em 2017, uma alta de 359,2%, mudando a realidade agrícola do País e criando uma nova classe social de produtores que estão se tornando os novos milionários do agronegócio.
Em 2006/2007, o Brasil comemorou a produção total de grãos de 131,7 milhões de toneladas. Na safra 2007/2008, chegou a 58,6 milhões de toneladas, iniciando a linha de crescimento em área plantada (de 14,7 milhões de hectares para 21,1 milhões/ha), e consorciadas com outras culturas, da produtividade, que em 15 anos passou de 3.655 quilos por hectare para 5.320 kg/ha.
O caso do Mato Grosso do Sul é um bom exemplo de como a produção de milho criou novos milionários no Brasil no setor rural. Na safra 2007/2008, o estado colheu 7,8 milhões de toneladas de milho. Na próxima safra, sua previsão é de colher 40,2 milhões de toneladas.
Usando tecnologia desenvolvida pela Embrapa e investindo em mecanização, a produtividade no estado passou de 3.683 kg/ha para 6.317 kg/ha.
O Brasil virou produtor mundial e grande consumidor de fertilizantes (43,1 milhões de toneladas em 2021) o que se transformou num problema em função da guerra da Rússia com a Ucrânia.
Segundo o relatório atualizado do USDA (sigla em inglês para Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), os dez maiores produtores mundo são Estados Unidos, China, Brasil, União Europeia, Argentina, Ucrânia, Índia, México, Rússia, Canadá.
Em apenas 15 anos, o Brasil quase dobrou sua produção de milho, aumentou em mais de 50% a produtividade e aumentou a área plantada, iniciando a rotação de culturas e aumentando a renda do produtor.
Na verdade, o Brasil saiu da condição de importador para, apenas no consumo interno, usar 76,5 milhões de toneladas e ainda fazer exportações de 35 mil toneladas.
Segundo a Conab, a produção brasileira de grãos na safra 2021/22 está estimada em 268,2 milhões de toneladas.
O volume, se confirmado, representa um crescimento de 50% quando comparada com a temporada passada, o que representa cerca de 12,79 milhões de toneladas a mais a serem colhidas.
No caso do milho, apenas na primeira safra do grão, o Brasil deve colher 24 milhões de toneladas.
O sucesso de vendas do cereal no País e no exterior produziu efeitos extraordinários. No ano passado, a venda de caminhões foi de 46.948 unidades.
Ou seja, na soma de janeiro a maio, a alta foi de 62,82% ante o mesmo período de 2020. Portanto, apenas nos quatro meses do ano passado, as vendas de caminhões foram de 28.835 unidades.
De acordo com a Fenabrave, por modelo, o líder de vendas em 2021 é o Volvo FH 540. Para se ter uma ideia desse mercado, basta dizer que um caminhão novo modelo 2022 custa 765 mil.
Hoje, os grandes compradores de caminhões superpesados são os produtores de milho e soja, que decidiram ter frotas próprias depois da greve de 2018.
Eles usam seus super caminhões para levar o produto aos portos brasileiros e voltam para as fazendas trazendo adubo como frete de retorno, maximizando o lucro do setor.