Você voaria num Airbus ou Boeing 737 fabricado pela China? Novo avião de grande porte vai brigar com os gigantes da avião comercial

Ate 2036 as empresas da China devem comprar 7.500 aviões comerciais de grande porte entr eo seu C919
Fernando Castilho
Publicado em 12/12/2022 às 10:00
O primeiro avião de passageiros de grande porte da China, o Comac C919. Foto: Comac divulgação


Um estudo da Boeing estima que o mercado de aviões comerciais deve absorver 41 mil novos aviões a jato nos próximos 20 anos. E que a procura será maior na região da Ásia-Pacífico, que compreende os países da Oceania e do continente asiático, excetuando as ex-repúblicas soviéticas. Em outras palavras, a China.

Esse é um mercado disputado não apenas pela americana Boeing e pela AirBus, conglomerado europeu se consolidou como o maior fabricante mundial de aeronaves comerciais. A brasileira Embraer está em terceiro e a canadense Bombardier que vem a seguir.

Outros estudos apontam que a Embraer estima uma demanda de 10.500 aviões no segmento de até 150 assentos, incluindo turboélices, até 2036. Ela também prevê que apenas de aeronaves a jato, como as produzidas pela brasileira, poderão ser comercializadas 6.400 unidades, totalizando US$ 300 bilhões.

Mas o fato novo do ano sem dúvida é a entrada da estatal chinesa Comac, que entregou o primeiro C919, sua maior aposta, e que que já fez o seu voo inaugural – três pilotos tiveram o privilégio de levar a aeronave do Aeroporto Internacional de Shanghai Pudong para o Aeroporto Internacional de Shanghai Hongqiao.

Como tudo que acontece na China, a Comac tem a preferência nas compras das empresas chinesas que devem, também segundo estudo da Boeing, adquirir nada menos que 7.500 aeronaves de grande porte. A expectativa da empresa é até 2035 capturar 20% da participação no mercado global de aviões de fuselagem estreita.

Prova disso é que China Eastern Airlines (CEA) foi a primeira companhia aérea a receber a mais nova aeronave chinesa, o Comac C919. Com o modelo, o país oriental quer brigar com a Airbus e a Boeing no mercado de aviões de fuselagens estreitas, competindo com o A320 e o 737, os aviões mais usados no planeta.

Esse é um negócio de grande números. Por exemplo: um único Airbus A350-1000 custa nada menos que US$ 366,5 milhões (R$ 2,1 bilhões). Ele pode chegar a ter uma capacidade para até 440 passageiros. Esse jato intercontinental pode voar mais de 16 mil km sem precisar reabastecer. Com velocidade máxima de 945 km/h, o A350-100 já tem 56 unidades voando em empresas aéreas. Detalhe: a mesma China Eastern Airlines vai comprar 100 unidades do mesmo tipo, avaliadas em US$ 12,8 bilhões.

Airbus Divulgação - O aIR Bua 100 que custa R$ 2 bilhões

A entrada da Comac deve provocar um grande impacto no mercado. A avião chinês tem 164 lugares, sendo 8 na executiva e 156 na classe econômica. São duas fileiras de três lugares e o assento do meio é 1,5 cm mais largo que os assentos do lado (da janela e do corredor), levando um conforto extra para quem já é obrigado a se sentar entre duas pessoas.

Uma das coisas que mais chama a atenção é que o C919 é uma aeronave que tem um dois maiores índices de tecnologia chinesa embarcada no mercado. Ou seja, ele pode ser fabricado com a maioria das peças produzidas na própria China.

A Airbus opera desde 2008 uma linha de montagem em Tianjin, quinta maior cidade chinesa, para finalização do A320, e a Boeing está construindo, em parceria com a chinesa Comercial Aircraft Corporation of China (Comac), uma planta para produzir o 737 MAX em Zhoushan, no leste do país.

Até mesmo a Embraer, com seu jato E190-E2, tem o Certificado de Tipo da Administração de Aviação Civil da China, a CAAC (Civil Aviation Administration of China) para a certificação do jato E195-E2, maior aeronave comercial da Embraer, cujo processo já está em andamento, ocorra em breve. Este ano a Embraer levando seu principal jato comercial, o E195-E2, para o 14º Airshow China 2022, maior evento aeroespacial da China.

Embraer Divulgação - Avião da Embraer para ser mostrado na China

Historicamente, o mercado aeronáutico tem sido dominado por dois duopólios. De um lado, a norte-americana Boeing, líder mundial em vendas de aviões, disputa com a europeia Airbus, a vice-líder, o segmento de jatos de médio e grande porte, acima de 150 passageiros.

Do outro, a Embraer e a canadense Bombardier são rivais no segmento regional, caracterizado por aeronaves menores projetadas para voos mais curtos, muitas vezes entre aeroportos secundários. A Embraer lidera o segmento de aeronaves de até 150 assentos com 30% do mercado.

Como o produto é de alto valor – os jatos E2 custam por volta de US$ 60 milhões, enquanto um Boeing 737 MAX (138 lugares) sai por quase US$ 100 milhões –, as empresas aéreas recorrem a financiamentos de longo prazo, em grande parte supridos por organismos governamentais de fomento à exportação, para efetivar o negócio.

A aposta da China num avião próprio faz sentido. O país programa construir ou melhor as instalações de ao menos 200 aeroporto comerciais depois da pandemia. O mercado da aviação comercial na China está em forte recuperação em julho, de acordo com a Administração de Aviação Civil da China (Caac), com taxas de voos superior a dez mil por dia, atingindo o pico de 12 mil, no último fim de semana.

A Caac revelou dados de tráfego nos últimos meses, dos quais o volume de tráfego doméstico de passageiros em abril se recuperou para 14,8% em relação ao mesmo período de 2019, crescendo para 46,2% em junho.

Somente entre os dias 4 e 10 de julho, 1,2 milhão de passageiros passaram pelos aeroportos do país, 12% a mais do que no mesmo período de julho, segundo dados divulgados pelo jornal chinês Global Times.

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