Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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rombo nas americanas

Dívida de R$ 40 bilhões da AMERICANAS deflagra guerra aberta de André Esteves, do BTG, contra Jorge Paulo Lemann e seus sócios

O BTG Pactual acusa os três homens mais ricos do Brasil de agirem como fraudadores, pedindo às barras da Justiça proteção "contra" a sua própria fraude

Fernando Castilho
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Publicado em 16/01/2023 às 10:35 | Atualizado em 17/01/2023 às 13:53
DIVULGAÇÃO
Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles têm 31% do capital da empresa. São, na prática, seus controladores nas últimas décadas. - FOTO: DIVULGAÇÃO

Os três homens mais ricos do Brasil - Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira - e André Esteves, acionista-controlador do BTG Pactual, são pessoas muito discretas. Quando se procura fotos dos quatro juntos na internet, não se encontra. Da mesma forma que suas imagens invariavelmente estão associadas a histórias de sucesso e grandes aquisições.

Mas, desde última sexta-feira, o banco liderado por André Esteves deflagrou uma guerra aberta contra os três investidores, numa contestação onde afirma que:

“O caso em questão é a triste epítome de um país. Os três homens mais ricos do Brasil (com patrimônio avaliado em R$ 180 bilhões), ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem’, são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio.”

O BTG vai mais longe ao afirmar que “dois dias depois, têm a pachorra de vir em Juízo pedir uma tutela cautelar, preparatória de uma recuperação judicial, para impedir os credores de legitimamente protegerem o seu patrimônio à luz da maior fraude corporativa de que se tem notícia na história do país.”

E finalizam afirmando que “É o fraudador pedindo às barras da Justiça proteção ‘contra’ a sua própria fraude. É o fraudador cumprindo a sua própria profecia, dando verdadeiramente ‘uma de maluco para esses caras saberem que é pra valer’. É o fraudador travestindo-se como o menino da antiga anedota forense, que, após matar o pai e a mãe, pede clemência aos jurados por ser órfão.”

Não são termos que homens tão ricos se acusem publicamente, embora, até agora, os três maiores investidores da Americanas S.A. estejam levando vantagem.

Neste domingo, o desembargador Luiz Roldão de Freitas Gomes Filho, do plantão judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), negou agravo de instrumento apresentado pelo BTG Pactual contra a decisão do Juízo da 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital, que aceitou pedido da Americanas para suspender vencimentos antecipados e efeitos de inadimplência.

Foi uma vitória de Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, uma vez que o juiz Paulo Assed Estefan, titular da 4ª Vara Empresarial do Rio, concedeu tutela cautelar antecedente pedida pelo Grupo Americanas.

Mas essa é uma briga que está só começando. Até porque o BTG Pactual não é o maior credor das Americanas S.A. Na frente do BTG Pactual, que tem contas a receber de R$ 1,9 bilhão, estão o Bradesco com R$ 4,7 bilhões, o Santander, R$ 3,7 bilhões, Itaú Unibanco, R$ 3,4 bilhões e Safra, com R$ 2,5 bilhões.

RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL AMERICANAS

O problema é que dois dias após o então CEO da Americanas, Sérgio Rial, ter renunciado ao lado do Diretor de Relações com Investidores, André Covre, a empresa entrou com um pedido de recuperação extrajudicial e pediu uma tutela cautelar antecedente para evitar a cobrança antecipada das dívidas.

Como uma pedido de recuperação extrajudicial não é uma decisão que se tome em apenas 48 horas, o BTG Pactual está acusando Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira de agirem para se proteger colocando os bancos na lista de clientes.

O problema do BTG Pactual é que, numa eventual RJ, os bancos que são credores vão ter que seguir a regra de recebimento estipulada na Recuperação Judicial. Embora possam ter que dar um grande desconto e receber num parcelamento.

Para completar, a Americanas, na petição inicial, apresentou uma dívida de R$ 40 bilhões, das quais R$ 18,8 bilhões são apenas com instituições financeiras. O problema é: no último, o balanço do terceiro trimestre, a empresa apresentou um endividamento bruto de R$ 19,3 bilhões.

Então, quando o juiz Paulo Assed Estefan concedeu a tutela suspendendo os efeitos de toda e qualquer cláusula que imponha vencimento antecipado das dívidas e determinou a suspenção da exigibilidade de todas as obrigações relativas aos instrumentos financeiros celebrados entre os bancos e a Americanas S.A., os banco entenderam que os três acionistas estavam se preparando para a RJ há bastante tempo.

Ao se defender, as Americanas S.A. lembrou o seu peso social em todo o Brasil, gerando mais de 100 mil empregos diretos e indiretos. Por isso, aponta a importância de encontrar uma solução com os seus credores e, assim, a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores e que segue acreditando na proteção da medida cautelar e no compromisso dos credores de retornarem com uma proposta.

Na edição de hoje, o jornal Valor revelou que uma tese que circula entre os credores faz paralelos entre o erro bilionário do balanço da gigante de alimentos Kraft Heinz, investida da 3G Capital (fundada pelo trio Lemann, Telles e Sicupira), com a incongruência do balanço da Americanas.

Na Kraft, a área de compras declarava descontos inflados de fornecedores e isso ajudava a aumentar o lucro. A SEC (a CVM dos Estados Unidos) acabou multando a companhia.

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