O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, classificou de "tempestade perfeita" a combinação da retirada do mercado de parte de sua produção da Rússia, combinada com o aumento dos preços do petróleo liderada pela Arábia Saudita. Ele falou na sede do Cenpes da Petrobras, considerado o maior complexo de pesquisa de petróleo da América do Sul, e onde foi escrito o modelo conceitual da Refinaria Abreu e Lima.
A constatação do presidente da Petrobras foi surpresa zero no setor de energia no Brasil e no mercado internacional. Mais especificamente depois que o ministro da Energia da Arábia Saudita, Abdulaziz bin Salman avisou, em junho, que estava reduzindo em mais 1 milhão de barris/dia a produção.
O que Prates não contava ainda em junho (quando anunciou o fim da Política de Paridade Internacional) era que a Rússia estava começando a sentir os efeitos da sua desenfreada exportação de derivados de petróleo com descontos para quem estivesse interessado em comprar seus produtos.
PERDA DE RENTABILIDADE
Por isso, o que o presidente da estatal chama de “tempestade perfeita” é, na prática, a necessidade urgente de ter que reajustar mesmo os preços do diesel e da gasolina e parar as perdas na sua rentabilidade. Ou de enfrentar ameaças de investidores minoritários com a redução da rentabilidade, que certamente a Petrobras vai apresentar no balanço do terceiro trimestre.
A bem da verdade, os problemas de Jean Paul Prates começaram logo depois que anunciou o fim da PPI. Ou melhor, em julho, quando os preços iniciaram uma subida que saiu dos confortáveis US$75,19 o barril, em 30 de junho último, para cravar a US$94,99 em 30 de setembro.
MELHOR MOMENTO
E o mês de junho foi mesmo o momento ideal para o governo Lula anunciar a extinção da política de preços chamada de PPI, pela janela de oportunidades que, naquele momento, existia.
Além disso, mesmo com as dificuldades de elevação dos preços internacionais, seus efeitos no Brasil foram suavizados com a oferta de combustíveis pelos russos, que passaram a dar descontos para companhias que não tivessem ações listadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE). Essas empresas não estavam proibidas de comercializar com os russos por força do embargo decorrente das sanções da União Europeia e Estados Unidos após o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Essa janela de oportunidades foi o que viabilizou o "colchão de amortecimento" que ajudou a Petrobras suprir todo o mercado interno.
O que ninguém contava era com a decisão de Wladimir Putin de barrar todas as exportações de gasolina e diesel depois que as petrolíferas russas passaram a exportar tudo que os clientes pedissem ao ponto de em setembro começar a faltar combustíveis nos portos da Rússia depois que todo mundo começou a exportar.
O presidente russo não só mandou parar as vendas como mandou voltar os petroleiros carregados para atender ao mercado interno. Isso pegou países como o Brasil que desde agosto transformou a Rússia no seu maior fornecedor de gasolina e diesel perdendo apenas para a Turquia.
PUTIN MANDOU PARAR
E, de fato, para o Brasil, a oferta dos russos era uma mão na roda. Tinham estoque, entregavam no prazo e ainda davam descontos. Na prática, essa importação ajudou a Petrobras a suportar os preços internacionais sem fazer reajuste. Então, quando os russos pararam de entregar ficou difícil criando o que o presidente da Petrobras chama de "tempestade perfeita".
Só que esse quadro pode ser surpresa para Prates. Mas não para o setor que vem avisando que não dá para a Petrobras dizer que os preços internacionais não definem os seus preços. Definem. E o que ela pode fazer é aguentar o prejuízo. Ou a perda de rentabilidade.
Prates aprendeu a fazer política e sua mudança de atitude sobre a dificuldade nos seus preços é mais um forma de avisar que vamos ter aumento de preços nos próximos dias. Reajuste que segundo ele não é proibido pelo presidente Lula que nunca disse que era para não aumentar.