Mais livros, e não, menos
Censura de livros considerados inadequados aos adolescentes reacende, mais uma vez, o debate que também passa pela ampliação do acesso à leitura
Em 2010, diante da possibilidade de proibição de um livro de Monteiro Lobato, classificado de racista pelo Conselho Nacional de Educação, a Academia Brasileira de Letras (ABL) apelou ao então ministro da pasta, Fernando Haddad, para que a obra não fosse recolhida das escolas. Tratava-se de “Caçadas de Pedrinho”, publicado em 1933. A nota oficial da ABL dizia que “cabe aos professores orientar os alunos no desenvolvimento de uma leitura crítica”, lembrando que a referência à personagem Tia Anastácia como negra não era um insulto, mas “a triste constatação de uma vergonhosa realidade histórica”.
Em 2020, o governo de Rondônia fez uma lista de 43 livros considerados inadequados para crianças e adolescentes, que seriam recolhidos das escolas. Entre os livros banidos, estavam obras de Machado de Assis, Euclides da Cunha e Franz Kafka, clássicos da literatura brasileira e mundial. Na época, integrantes do Supremo Tribunal Federal e da Academia Brasileira de Letras mostraram surpresa e indignação com a criação de um índice de livros proibidos, prática vigente durante séculos na Idade Média pela Igreja Católica, que condenava as ideias contidas nas obras de Charles Darwin, René Descartes, Thomas Hobbes e Alexandre Dumas, por exemplo.
No ano passado, um romance de Marçal Aquino foi retirado das leituras obrigatórias para o vestibular de uma universidade em Goiás. Aquino, além de vencedor do Jabuti, tem obras traduzidas para a Alemanha, a França, a Espanha, o México e outros países. O livro excluído, “Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios”, recebeu 20 edições no Brasil, e foi adaptado para o cinema.
Agora, a censura aos livros volta à tona com “O avesso da pele”, de Jéferson Tenório, publicado pela Companhia das Letras. A polêmica em torno de um trecho foi tamanha que, além de um município do Rio Grande do Sul, os estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás anunciaram a retirada do livro das escolas da rede pública. Enquanto isso, num movimento oposto, as vendas do livro tiveram aumento de 400% na Amazon. Em nota de repúdio à censura, a ABL novamente se pronunciou, afirmando que “a leitura de livros como esse” deveria ser estimulada “para o bem de nossa cultura e o desenvolvimento de nossos alunos”. A censura também foi assunto em relação ao Prêmio Sesc, envolvendo o escritor e curador Henrique Rodrigues e o romance premiado de Airton Souza, “Outono de carne estranha”. E ainda ganhou destaque a notícia de que alguns presídios no país só permitem a entrada de livros de autoajuda e da Bíblia para a leitura dos detentos.
Os casos de censura geram merecida indignação, e a polêmica que a reduz a uma classificação etária desconsidera a recorrente e insidiosa desqualificação dos autores e de suas obras. Se o revisionismo que condena os clássicos sem olhar o prisma do contexto histórico não deve prosperar, sob pena de abdicação do senso crítico, o mesmo vale para a alegação de trechos impróprios em obras de temáticas muito mais amplas. A ampliação do olhar, aliás, também cabe para o exame da censura de coloração política, acoplada ao divisionismo que vigora no Brasil e noutras partes do mundo. Em relação aos livros e à literatura, o que importa é garantir o acesso, investir na democratização da escrita, da publicação e da distribuição das obras, e na circulação dos autores e editores, sobretudo no ambiente escolar. A formação da curiosidade, da sensibilidade e da cidadania das crianças e dos adolescentes demanda mais livros, e não, menos.
Imagens de Coragem
Com a organização de Isabella de Andrade e Tatiana Lazzarotto, o lançamento da coletânea “Imagens de Coragem”, publicada pela Patuá, aconteceu na Livraria Patuscada, em São Paulo. A obra reúne escritoras de várias partes do país, dentro do projeto Elas na Escrita (@elasnaescrita). “A literatura tem me proporcionado muita coisa, encontros, risos, estudo, recomeço, esforço, desejo, recompensa, amigos, mas, principalmente, um lugar no mundo”, escreveu Isabella no Instagram.
A literatura emerge
Em sua coluna no UOL, o escritor e crítico literário Julián Fuks começa assim a análise dos mais recentes casos de censura a livros no Brasil: “E então, subitamente, aquilo que se julgava tão irrelevante, indiferente aos rumos do mundo, alheio aos interesses maiores da população, aquilo que já não repercutia em parte alguma e já não tocava ninguém, aquele discurso inútil, pretensioso e narcisista que só agradava uma minoria, subitamente aquilo afeta a todos e deve ser debatido com urgência. A literatura voltou à ordem do dia, vê-se agora decisiva nos caminhos de uma cultura, e por isso querem contê-la, cerceá-la, reprimi-la”. Leia a coluna completa em www.uol.com.br/ecoa/colunas/julian-fuks.
Defesa da obra e do autor
Por iniciativa de Afonso Borges, empreendedor de festivais literários como o Fliaraxá e o Flitabira, um abaixo-assinado com mais de 7 mil assinaturas (até ontem) promove a defesa de “O avesso da pele” e de seu autor, Jeferson Tenório. Faz referência à obra como “um grande livro, aborda temas relevantes, critica o racismo e tem o poder de proporcionar ao jovem leitor reflexão e crescimento a partir de sua leitura”. Os signatários reforçam o fato de ser “um absurdo a necessidade de se levantar a voz em defesa de um livro”. O texto do documento foi baseado em nota da União Brasileira de Escritores (UBE), presidida por Ricardo Ramos Filho. Entre os apoiadores estão Ailton Krenak, Amyr Klink, Andrea Beltrão, Antonio Fagundes, Bianca Ramoneda, Carla Madeira, Carola Saavedra, Cida Pedrosa, Cristina Serra, Drauzio Varela, Edney Silvestre, Fabricio Carpinejar, Fernando Gabeira, Ignácio de Loyola Brandão, Itamar Vieira Junior, João Candido Portinari, José Castello, Lilia Schwarcz, Luis Fernando Verissimo, Marcelo Rubens Paiva, Marcelino Freire, Marina Colasanti, Monja Coen, Paloma Jorge Amado, Ricardo Piquet, Rogério Robalinho, Ronaldo Correia de Brito, Silvio Meira, Washington Olivetto e Zuenir Ventura. Saiba mais no site www.change.org.
Marcelo Gleiser
Renomado cientista e best-seller na divulgação da ciência, Marcelo Gleiser lança “O despertar do universo consciente” pela Record. Na obra, o físico “defende a ressacralização da relação do ser humano com a natureza e apresenta o conceito do biocentrismo, em que o desenvolvimento privilegie a vida em todas as suas formas”. O autor faz sessões de autógrafos esta semana na Casa Firjan no Rio de Janeiro, terça, às 7 da noite, e no Unibes Cultural, em São Paulo, na quinta, em bate-papo com o geofísico Sérgio Sacani, também a partir das 7 da noite.
Feminino Infinito
No Dia Internacional da Mulher, na última sexta, poetas, atrizes, cantoras e a Cacica Jaqueline Haywãm se reuniram no 321 Club Bar, na Vila Madalena, em São Paulo. A festa foi do coletivo Feminino Infinito, que tem na organização e curadoria a escritora Paula Valéria Andrade. Conheça e siga o @femininoinfinito no Instagram.
História LGBT+
A editora Contexto traz o novo livro da historiadora que é uma das fundadoras do Programa de Estudos de Gênero e Mulheres na Oklahoma State University, nos Estados Unidos. Em “LGBT+ na luta – Avanços e retrocessos”, Laura A. Belmonte faz um panorama da história do movimento pelos direitos das pessoas LGBT+. A apresentação é de Luiz Mott. A autora é reitora da Faculdade de Artes Liberais e Ciências Humanas do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia. Saiba mais em www.editoracontexto.com.br.
Sete bruxas e um gato
O novo livro de Índigo Ayer para a Galera Júnior aborda questões da adolescência, e pode agradar os “fãs de gatos de todas as idades”. Bijoux é um gato temporário que tem a função de substituir o gato oficial de uma bruxa, em caso de necessidade. “Sete bruxas e um gato temporário” também “questiona os estereótipos a que somos submetidos ao longo da vida”. Visite o Instagram @galerarecord e conheça outros lançamentos.
Cor e gênero
Marilene Felinto e Eliana Alves Cruz abrem o Clube de Leitura do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em 2024. A conversa entre as autoras de “Mulheres de Tijucopapo” e “O Crime do Cais do Valongo” será em torno do tema da cor e do gênero na literatura, com participação de Viviane Mosé. O evento tem entrada gratuita, na próxima quarta, 13, a partir das 5 e meia da tarde, no CCBB do Rio de Janeiro.
Solução do peixe-boi
As pernambucanas Mari Bigio e Joana Lira estão juntas em obra publicada pela VR Editora, que ensina palavras a crianças a partir de 6 anos de idade, contando a história de um mamífero com soluço. Bigio mescla, no texto, a literatura de cordel com o conto cumulativo. “Foi um desafio e tanto, pois o cordel tem uma certa rigidez estética, precisamos seguir à risca a regra das rimas e da métrica. E o conto cumulativo, como o nome já diz, vai inserindo mais e mais informações. Então, quando consegui condensar o acúmulo dentro de uma ou duas estrofes, no final da história, cheguei à Solução (não só a do Peixe-boi, mas do desafio que eu mesma me lancei)”, conta a autora para a coluna. “Foi bem divertido jogar com essas duas vertentes da Literatura Popular, e quero que os leitores também se divirtam ao ler a história. Brincar com palavras é uma delícia!”, diz Mari Bigio.
Cores solares do Recife
Coube a Joana Lira as ilustrações para “Solução do peixe-boi”. A ilustradora conta um pouco da experiência: “Desde o início, o texto da Mari Bigio me convidou a criar uma paleta quentinha que lembrasse Recife, a partir de cores solares. Demorei um pouco em estudos para o amarelo-ocre se revelar como a cor de maior predominância. O azul e o vermelho chegam junto representando o que é céu e terra na poesia desse peixe-boi, e vice-versa. E o por fim, o branco foi salpicado pra iluminar as artes”.
Circunavegasons
A Cepe relança no próximo sábado, 16, o livro que reúne poemas e letras de canções de Zeh Rocha, ex-integrante da banda Flor de Cactus, da qual Lenine também fez parte. O evento celebra os 50 anos de carreira do autor, com sessão de autógrafos e show no Teatro de Santa Isabel, a partir das 8 da noite. Mais informações no Instagram da @cepeeditora.
Sábado na APL
A Academia Pernambucana de Letras (APL) dá início no próximo sábado, 16, ao projeto Sempre aos Sábados – Encontros Culturais. Em eventos mensais, a proposta é receber jovens escritores e o público em geral, para tardes de apresentações ligadas à literatura e outras linguagens artísticas. Na primeira edição, haverá apresentação musical, palestras de estudantes do ensino médio, debates, uma mini oficina e lançamento de livros. As escritoras Geórgia Alves e Conceição Rodrigues confirmaram presença. Além de abrir espaço para a expressão de novos valores literários, os encontros também objetivam proporcionar a difusão da produção e das ideias dos acadêmicos, suscitando diálogo entre as gerações.
Leitura em Pernambuco
A nova unidade da Livraria Leitura no Shopping Tacaruna, no Recife, será inaugurada na próxima sexta, 15. Uma programação especial de abertura está marcada para começar às 6 da tarde. Ainda em março, a quinta unidade da rede em Pernambuco será aberta no Shopping Patteo, em Olinda, com mais de 400 metros quadrados.
Memórias de Lince
Entrou em pré-venda pelo selo Auroras da Penalux o primeiro livro de Janir Ribeiro, “Memórias de Lince”. A coletânea de contos tem o texto da orelha por Rosana Vinguenbah e o prefácio de Vanessa Passos. A autora é professora e historiadora, e nasceu em Jardim, região do Cariri, no Ceará. Para saber mais e apoiar, acesse @seloauroras no Instagram.
Poesia a bordo
Foi na Casinha dos Círculos de Leitura, em São Paulo, o lançamento do episódio especial do Podcast Peixe Voador, de Patricia Palumbo, gravado em Paraty, durante a edição da Flip, no ano passado. O bate-papo teve a participação de Ana Marta Cattani, Marcela Faria, Tarso de Melo e Tatiana Eskenazi, além de Patricia Palumbo. Junto com o Peixe Voador, a iniciativa foi da Capivara Cultural, com apoio do Círculo de Poemas, Instituto Braudel e Cia. dos Fermentados.