Diversidade começa pelo reconhecimento das diferenças, e se promove na multiplicação de oportunidades em diferentes âmbitos, ampliando o alcance do que se faz enquanto se impulsiona o que pode ser feito. Assim, quanto mais prêmios literários, melhor para quem escreve, e para quem lê, depois, as obras destacadas como de excelência. A premiação é uma referência, mas não restringe, claro, a leitura: livros bons não necessitam vencer prêmios. Vamos abordar aqui três iniciativas que valorizam e estimulam a literatura no Brasil – os prêmios Pallas, Voz e o da Biblioteca Nacional.
Nesta segunda-feira, 3, a Pallas abre oficialmente o período de inscrições para o prêmio literário em comemoração aos 50 anos da editora, no ano que vem. A curadoria é de Henrique Rodrigues, criador do Prêmio Sesc. Dedicado a escritores e escritoras autodeclarados negros e negras, o novo prêmio ressalta o trabalho da editora nas últimas cinco décadas, segundo o curador. “Em 2025 a casa completará meio século de existência com um trabalho maravilhoso no Brasil. Se hoje a valorização da diversidade racial está em voga e com muita força, cumpre lembrar que a Pallas já atua nessa frente há décadas. O Prêmio é também um símbolo desse legado, voltado para descobrir, de forma criteriosa e democrática, um novo nome da nossa literatura e ajudar essa pessoa a desenvolver uma carreira literária”, diz Henrique Rodrigues em entrevista à Literária.
O significado da premiação para o mercado editorial brasileiro é um reforço importante, para Rodrigues, do combate ao racismo estrutural no país. “Temos grandes editoras voltadas para a literatura afrodescendente, numa tendência que só tende a crescer. Quando damos protagonismo a vozes historicamente silenciadas e trazemos para o primeiro plano manifestações culturais relegadas à discriminação ou esquecimento, atacamos o racismo estrutural nas suas bases”. Eis um dos papeis da literatura, na visão do curador e escritor, autor do recém-publicado “Áurea”. Para ele, “a literatura é uma forma privilegiada de revisitar nossas origens no campo simbólico e representativo. A população negra, considerando pretos e pardos, é a maioria do Brasil, então nada mais justo que essa mesma proporção de espaços seja oferecida a esse grupo, não?”, defende.
Abrindo caminhos
Com vasta experiência na curadoria de eventos, Henrique Rodrigues tem rodado o país, como gestor cultural e como autor. Nesse percurso, conta que tem observado “os vícios e virtudes da vida literária brasileira, que é também marcada por muita desigualdade”. Daí a necessidade de incentivos específicos, para alargar o arco da participação. “Sempre tento descobrir formas de abrir caminhos, sobretudo para quem não costuma ter acesso às expressões – e daí a importância dos prêmios literários para inéditos. Os nordestes são muito ricos nas suas formas de expressão, tanto na literatura impressa quanto nas diferentes manifestações das oralidades”, afirma, ressaltando o pluralismo presente na região. “Um traço que venho notando, especialmente nas cidades do interior, é que a presença das mulheres na literatura é menor do que poderia ser, o que talvez reflita nossa secular desigualdade de gênero. Aliás, uma das coisas mais lindas e emocionantes que vi nos últimos anos foi uma mesa de glosa com mulheres do Sertão do Pajeú. É esse o Brasil que precisa se conhecer”.
As inscrições para o Prêmio Pallas vão até 28 de junho. O resultado será divulgado em setembro, e a publicação, no ano que vem. Outras informações no site www.premiopallas.com.br.
Prêmio Voz
Com o objetivo de estimular mais mulheres a publicarem, a escritora Vanessa Passos e a editora Patuá instituíram o Prêmio Literário Voz, com inscrições abertas até 30 de junho. Podem participar brasileiras maiores de 18 anos, residentes ou não no país, com romances inéditos. Dez semifinalistas serão anunciadas em 12 de agosto. As três finalistas serão divulgadas em 9 de setembro, e terão seus livros publicados pela Patuá, com direito a prêmio em dinheiro de R$ 1 mil cada. A grande vencedora será conhecida em 14 de outubro, e além de publicada, receberá R$ 3 mil e assessoria de marketing para o lançamento. Saiba mais no Instagram @vanessapassos.voz.
Prêmio da Biblioteca Nacional
Em três décadas de realização, o Prêmio Literário Biblioteca Nacional é um dos mais prestigiados do país. Em 2024, são doze categorias: conto, ensaio literário, ensaio social, histórias de tradição oral, histórias em quadrinhos, ilustração, literatura infantil, literatura juvenil, poesia, projeto gráfico, romance e tradução. Os vencedores em cada categoria levam R$ 30 mil. Para concorrerem, os livros devem ter sido publicados em primeira edição, entre 1º de maio de 2023 e 30 de abril de 2024. As inscrições foram abertas no último dia 27, e podem ser feitas até 11 de julho. O resultado será divulgado na primeira semana de novembro. Mais informações no site da Biblioteca Nacional: www.gov.br/bn.
Késia Borges
A editora artesanal Arpillera promove o lançamento online, nesta terça, 4, de “A todos que já amei”, poemas de Késia Borges, que além de escritora, é atriz e dançarina. O livro é composto de três partes: “Rompimento de um ciclo”, “Memórias” e “Reconstrução, busca, encontro”. A live será no Instagram @editoraarpillera e terá mediação de Yara Fers, às 19h30.
Entre som e silêncio
Com um concerto gratuito de música clássica, na Sala São Paulo, será lançado nesta terça, 4, a biografia do maestro e pianista João Carlos Martins, escrita por Jamil Chade e publicada pela Record: “O indomável: João Carlos Martins, entre som e silêncio”, narra a trajetória daquele que é considerado um dos maiores intérpretes de Johan Sebastian Bach. Para Washington Olivetto, “este poderia ser um livro de ficção criado a partir da imaginação de um escritor como Gabriel Garcia Marquez, mas é uma biografia com a precisão jornalística de Jamil Chade”. Além de fotos do músico, a obra traz em cada capítulo um símbolo QR code, que conduz o leitor a ouvir gravações históricas de sua carreira. O lançamento na capital paulista está marcado para as 8 da noite.
Machado de Assis na ABL
Na abertura do ciclo de conferências “Machado de Assis e a questão racial”, o escritor Jeferson Tenório realiza a palestra “Machado de Assis: o devir negro na literatura brasileira”, na Academia Brasileira de Letras (ABL), nesta terça, 4. “Machado de Assis oferece uma análise precisa da sociedade brasileira, considerando conceitos como privilégio, escravidão e injustiças sociais”, diz a divulgação. A palestra pode ser acompanhada presencialmente, na sede da ABL, no Rio de Janeiro, ou pelo canal da entidade no Youtube, a partir das 4 da tarde.
“A leitura ensina e deslumbra”
Autor de “O mundo é uma escola – O que aprendi em viagens”, pela editora Jaguatirica, o ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque, faz palestra no Recife, na próxima terça, 4 de junho. O tema será: “Educação como fator vital de competitividade para Pernambuco”. Em depoimento para a Literária, o ex-governador do Distrito Federal e ex-senador acredita que “o papel da educação é oferecer a cada pessoa o mapa para facilitar a busca de sua felicidade e as ferramentas para ajudar a construir um mundo melhor e mais belo. A leitura ensina e deslumbra. Ajuda a conhecer o mapa e é parte do que se busca. A literatura ajuda a conhecer o mundo, ensina como viver nele, e encanta a vida”. O evento com Cristovam Buarque será no auditório do Empresarial RioMar 5, a partir das 7 da noite. A realização é da Rede Gestão e da Revista Algomais dentro do projeto Pernambuco em Perspectiva. Inscrições gratuitas pelo site: www.pernambuco.algomais.com.
Trocando em miúdos
A Livraria Janela do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, recebe nesta quarta, 5, a sessão de autógrafos de “Trocando em miúdos: seis vezes Chico”, com o autor, Tom Cardoso. Seis temas da vida do cantor e compositor Chico Buarque são abordados no livro: política, literatura, fama, polêmicas, censura (incluindo a autocensura) e futebol. A publicação é da Record.
Clube Nemo
Será na Livraria Megafauna, em São Paulo, na quarta, 5, o primeiro encontro da segunda temporada do Clube de Leitura da Nemo, com a mediação de Luciana Gerbovic. A obra escolhida é “Não era você que eu esperava”, HQ de Fabien Toulmé. “Nesta graphic novel autobiográfica, Toulmé fala com emoção, humor e humildade sobre o encontro inesperado de um pai com sua filha que nasceu com Síndrome de Down”, detalha a divulgação. A entrada é gratuita, e o clube começa às 7 da noite. No Instagram: @editoranemo.
Agreste Mulher
Antologia poética incentivada pela Lei Paulo Gustavo, “Agreste Mulher” será lançada nesta quinta, 6, no Centro Cultural Sesc Garanhuns. A publicação é da Vacatussa, com organização de Fernanda Limão, que também participa do livro, juntamente com as escritoras Nathália Tenório, Celina Berto, Marcia Bomfim, Carla Montanha, Monaliza Rios, Débora Ramos e Stephany Metódio. A obra reúne poemas de mulheres que têm Garanhuns como lar, ou que nasceram na cidade. O evento terá bate-papo com as autoras e recital de poesias do livro, a partir das 19h30.
Adelaide Ivánova
Pernambucana que vive em Berlim, na Alemanha, Adelaide Ivánova lança o livro de poemas “Asma”, pela editora Nós, na próxima quinta, 6, no Recife. Antes da sessão de autógrafos, a escritora conversa com o editor Schneider Carpeggiani. Para Luiz Antonio Simas, trata-se de um livro que parece ter sido escrito com um punhal lustrado com óleo de carnaúba, temperado no sereno das noites solitárias do Brasil. Por ele, ecoam (contundentes, sacanas, cortantes, despudoradas, transgressoras) múltiplas vozes de mulheres brasileiras”. O evento será na Caixa Cultural, a partir das 7 da noite.
Essa mundana gente
O selo Auroras, da Penalux, publica o livro de contos de Ana Daviana, que será lançado no sábado, 8, em João Pessoa. Com capa e ilustrações do artista paraibano Ary Smart, “Essa mundana gente”, obra de estreia da autora, reúne treze histórias ambientadas na cidade fictícia de Jatobá, onde “o sagrado e o profano, as mudanças e permanências e os lugares de memória são pano de fundo para as narrativas, que versam sobre ritos tradicionais (festa de padroeiro, semana santa, velório, finados, natal, dentre outros), práticas afro-indígenas e vivências da cultura interiorana”, de acordo com a divulgação. No perfil @livronewsnoinsta tem live com a participação de Ana Daviana, em que a escritora fala sobre o livro. O evento de lançamento será no Instituto Energisa, na capital paraibana, às 18h.
Inspetor Sopa
A Livraria da Travessa do Shopping VillaLobos, em São Paulo, recebe no sábado, 8, o lançamento do terceiro volume da série policial assinada por Andréa Gaspar, em publicação da Cambucá: “Inspetor Sopa e o caso do desaparecimento”, cuja trama se desenrola na capital paulista. Com nova identidade visual, pela designer Cintia Belloc, a coleção combina a investigação de crimes e a gastronomia. Nesse volume, Andréa Gaspar guia o leitor em um passeio por bairros tradicionais, apresentando os “sabores das culturas imigrantes que formam a complexa e única metrópole”. O evento, com sessão de autógrafos, terá início às 5 da tarde, em bate-papo da escritora com o advogado criminal Eduardo Muylaert e a arquiteta Fernanda Barbara, sobre literatura policial, mediado pela editora Rosane Nunes. No Instagram, siga @andreagasparescritora e @editora.cambuca.
Quiçá
A Alfaguara publica o romance de estreia de Luisa Geisler, obra vencedora do Prêmio Sesc de Literatura. “Nesta história contada em dois tempos narrativos - um ano letivo e um almoço de Natal - o leitor acompanha uma família de classe média urbana que, a partir de cenas fragmentadas, revela os segredos e as angústias que a assolam”. Natural de Canoas, no Rio Grande do Sul, e atualmente vivendo em Princeton, nos Estados Unidos, a escritora possui textos e livros traduzidos em mais de 15 países. Pela mesma Alfaguara, entre outros títulos, o leitor pode encontrar “De espaços abandonados”, publicado em 2018. Saiba mais sobre Luisa Geisler no Instagram @loweeza.
Em memória da memória
A WMF Martins Fontes lançou o terceiro título do selo Poente. Com tradução de Irineu Franco Perpétuo, o primeiro romance da poeta russa Maria Stepánova, “Em memória da memória”, une ensaio, ficção, crônica, narrativa pessoal e história coletiva, de acordo com a editora. A obra foi finalista do International Booker Prize de 2021. O selo Poente tem a curadoria de Flávio Pinheiro, e é voltado para ficção estrangeira contemporânea.
Vira uma pedra o tempo
A Patuá lançou na sexta, na Patuscada, o livro de poemas de Maíra Dal’Maz. Em “Vira uma pedra o tempo”, a autora, nascida no interior do Pará, mas que vive em Natal, no Rio Grande do Norte, resgata a memória familiar, e elabora “uma ideia do que é ser a partir dessa memória”, segundo Maíra. “Somos parte de uma história que não começa no nosso nascimento”, diz ela. Sobre a obra, escreve Douglas Laurindo que sua “narratividade em verso parte de uma lógica memorialística, em que o tempo cumpre o papel de testemunha ou “terceiro” para a permanência e a continuidade do Outro”. Saiba mais em @mairadalmaz no Instagram.