Por Priscila Miranda, da coluna Meu Pet
A jornalista Débora Albuquerque sempre foi bastante apegada a Shake, um buldogue francês de três anos. Porém, com a necessidade de entrar de quarentena para se proteger do novo coronavírus, ela viu a relação com o cachorro se estreitar ainda mais. O convívio com o animal 24 horas dentro de casa, há 36 dias, está surtindo efeito no comportamento dele, que demonstra mais tristeza caso fique longe da família.
“Eu acho que, quando tudo voltar ao normal, vai ser mais difícil para ele, porque agora tudo é em função dele. Quando Shake não recebe meu carinho, recebe da minha mãe, do meu pai. Ele está sempre em um lugar da casa que tenha alguém”, relata Débora.
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Esse apego excessivo percebido pela jornalista tem sido comum entre os pets que estão passando a quarentena com os tutores. A médica veterinária comportamentalista Aina Bosh explica que a dependência desses animais é a base na relação deles com os seres humanos, mas que existe diferença entre apego e hiperapego.
“Apego é normal, impossível de ser evitado, porque eles dependem de nós para comer, beber água, receber carinho. Mas o hiperapego é uma dependência que não é normal, nem saudável. Causa nesse animalzinho um efeito de que as coisas só estejam boas na presença do tutor”, afirma a especialista.
Com a quarentena, além da maior procura do animal pelo tutor, as pessoas também estão buscando mais a companhia de seus pets. A dentista Sara Oliveira é uma delas. Criando um gato há cerca de um mês após resgatá-lo preso em um motor de carro, ela conta que o animal costuma ser mais independente, mas nas últimas semanas o apego aumentou - principalmente da parte dela. “Eu o procuro mais. Ele fica brincando, mas depois volta para o lugar dele”, diz.
Aina diz que e é importante preparar o animal para quando o período acabar e a separação aconteça.“Primeiro a gente precisa proporcionar a ele uma relação mais independente. E aí as pessoas precisam olhar para si, para suas carências, porque, por exemplo, às vezes o animal está em outro ambiente e a pessoa o chama para estar junto. Não fazer isso e permitir que esse animalzinho circule e esteja em outro ambiente”, explica.
Outra dica da médica veterinária é proporcionar espaços e atividades que estimulem o animal, como o enriquecimento ambiental, que pode evitar comportamentos nocivos que gerem ansiedade e até a automutilação. Fazer atividades em locais em o bicho de estimação fique sem a presença de um humano vai ajudá-lo no período de afastamento que ocorrerá quando a quarentena acabar.
"A gente consegue que o cachorro não tenha interesse por algo que esteja necessariamente vinculado com a interação humana. Um brinquedo que tenha comida dentro, por exemplo, ele vai interagir com ele independentemente de mim. Vou conseguindo desvinculá-lo da minha presença", finaliza a veterinária comportamentalista.
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