Corredor Norte-Sul - um BRT novo com cara de velho

Publicado em 14/05/2016 às 8:40
Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


  Mesmo em operação há um ano e meio e incompleto, corredor já está com cara de velho. Fotos: Diego Nigro/JC Imagem   “Quando concluírem essas obras, terão que fazer tudo de novo”. A frase, dita pelo passageiro Daniel Ferreira, 71, resume o que virou o Corredor Norte-Sul, o segundo que integra o sistema BRT (Bus Rapid Transit) pernambucano, o Via Livre. Um corredor que já tem cara de velho, mesmo sendo novo. Que entrou em operação incompleto e assim permanece há um ano e meio. A imagem do puro abandono. Um corredor que, é preciso ressaltar, foi vendido pelo então governo Eduardo Campos como o transporte do futuro – um sistema confortável, eficiente e bonito. Mas que opera em atropelos, incompleto, sem a infraestrutura e o cuidado prometidos.
Veja o estado das estações. Não são limpas. Vivem sujas, com vidros e portas quebradas. Sabemos que há vandalismo, mas isso acontece porque não há segurança. Agora está sendo comum arrastões nos BRTs. Eles roubam nas estações, entram nos BRTs e saem roubando todo mundo. Agem em bandos”, Ileania Suenia, estudante e passageira
  O Corredor Norte-Sul foi o primeiro dos BRTs a começar a ser construído, no fim de 2011. Mas já começou mutilado. Pelo projeto, ligaria Igarassu, no extremo do Norte da Região Metropolitana do Recife, a Cajueiro Seco, no Sul da RMR. Passaria pela Avenida Agamenon Magalhães, área central do Recife, e Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem, Zona Sul da capital. Mas foi reduzido à ligação do Centro a Igarassu, aproveitando o corredor exclusivo existente na PE-15 e na BR-101 (Norte). Deveria estar concluído desde 2014. Mas até hoje não está. A promessa, agora, é de que novos equipamentos serão entregues em junho, como o Terminal Integrado de Abreu e Lima, as duas últimas estações (Complexo de Salgadinho, em Olinda, e São Francisco, em Paulista) e duas passarelas sobre a PE-15. As entregas, entretanto, em nada mudam o retrato de degradação do sistema. O aspecto de velhice precoce. Percorrer o Norte-Sul incomoda devido à degradação do sistema a olhos vistos. Os BRTs trafegam 100% do percurso misturados a outros ônibus e até a veículos particulares, as estações têm vidros e portas quebradas, algumas substituídas por pedaços de madeiras, estão pichadas e pretas de tanta poeira. Os veículos BRTs, por enquanto, são o que ainda salvam a imagem do sistema que, pela promessa do governo estadual, além de ser um ônibus com cara de metrô devido à eficiência, urbanizaria os espaços ao seu redor. O Via Livre tinha tudo para ser assim, mas não conseguiu alcançar a meta.   Pista exclusiva dos BRTs e ônibus está destruída. Invasão de veículos particulares é constante   A atual gestão da Secretaria Estadual das Cidades, que assumiu a função com os projetos de mobilidade do então governo Eduardo Campos totalmente travados por causa da Operação Lava-Jato e da disputa política com o governo federal, argumenta que o Norte-Sul está quase pronto. Por nota – nenhum representante quis dar entrevista –, lembra que das 26 estações previstas, 24 estão em operação. Faltando apenas os equipamentos que serão entregues no próximo mês. Mas nas ruas o que a população reclama é do abandono do corredor. “Veja o estado das estações. Não são limpas. Vivem sujas, com vidros e portas quebradas. Sabemos que há vandalismo, mas isso acontece porque não há segurança. Agora está sendo comum arrastões nos BRTs. Eles roubam nas estações, entram nos BRTs e saem roubando todo mundo. Agem em bandos”, reclama a estudante Ileania Suenia, que vende docinhos no Norte-Sul. A presença de ambulantes atuando livremente nas estações e BRTs é mais uma prova da falta de cuidado com o sistema.   Estrutura de passarelas estão abandonadas nas calçadas da PE-15 há mais de um ano   Na verdade, falta dinheiro ao governo do Estado para mantê-lo. A manutenção de cada estação de BRT custa, em média, R$ 23 mil por mês. Valor que inclui as despesas de luz, limpeza e consertos. Por enquanto, está sem contrato de limpeza e conservação. Uma empresa foi contratada e assume a partir de 1º de junho. Sem segurança, as estações são alvos fáceis de vandalismo e a reposição das peças é cara, além de demorada. Em nota, a Secretaria das Cidades afirmou que já foram investidos R$ 156 milhões no Corredor Norte-Sul e que as obras finais estão sendo tocadas pelo Consórcio Emsa/Aterpa. Diz ainda que as demais intervenções, como a requalificação de trechos da Avenida Cruz Cabugá, incluindo as praças destruídas para permitir a construção de estações do BRT, dependem de licenças ambientais da CPRH, desapropriações, revisão de projetos e realocação de redes de alta tensão da Celpe. E que, embora o Estado esteja tratando para evitar a descontinuidade, ainda não há data para serem iniciadas. A previsão, aliás, é de conclusão somente no segundo semestre de 2017.   Estações são o retrato da degradação    
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