Publicado em 14/06/2016 às 16:10
Como o ‘melhor’ sistema do Brasil e modelo para o mundo pode perder passageiros a cada ano e ter a maior evasão do País? " José Carlos SeccoCidades como Bogotá, na Colômbia, e Rio de Janeiro, entre outras, evoluíram muito mais do que Curitiba com a adoção de soluções inovadoras e diferenciadas para acompanhar o crescimento populacional e expansão geográfica. Com isso, continuam a atrair novos passageiros e a oferecer benefícios tangíveis aos usuários. Um dos indicadores desta triste realidade na capital paranaense é comprovado pelos dados divulgados recentemente pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), que mostram a redução de mais de 8% no número de passageiros transportados, a maior queda entre todas as capitais brasileiras no ano passado. “Como o ‘melhor’ sistema do Brasil e modelo para o mundo pode perder passageiros a cada ano e ter a maior evasão do País? Se estivesse alcançando os objetivos e oferecendo o padrão de serviço desejado, o número de usuários estaria crescendo”, salienta o presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Maurício Gulin. Confira webvídeo feito em 2015 sobre o sistema de transporte de Curitiba
Para quem não convive no dia a dia, Curitiba é exemplo e referência. Mas está agonizando" José Carlos SeccoCuritiba possui duas tarifas: a social, que é o valor cobrado do passageiro, hoje em R$ 3,70, e a técnica, valor repassado às empresas, de R$ 3,66. Chama a atenção o fato de o usuário pagar mais do que é repassado às empresas. Até nisso Curitiba está na contramão do Brasil, com o passageiro subsidiando o poder público, quando a relação deveria ser o oposto disso. Em São Paulo, por exemplo, a tarifa técnica é de R$ 5,71, mas, como a prefeitura coloca R$ 2 bilhões de subsídios por mês, o passageiro paga R$ 3,80. ALERTA PARA TODO O BRASIL: O que está acontecendo em Curitiba coloca em risco o modelo de mobilidade urbana e demonstra a sua vulnerabilidade, sobretudo em relação à gestão e na defesa dos interesses dos usuários. Com a perda contínua de passageiros, a elevação nas invasões, com os chamados fura-catraca, e um sistema de bilhetagem com tecnologia ultrapassada, que torna questionável sua eficiência, a receita das empresas operadoras despenca, levando a um descompasso entre os custos e as despesas. Esse é um importante ponto para o equilíbrio do sistema, sem o qual ocorre perda de investimentos no transporte, com consequentes prejuízos à população. “Isto serve de alerta e exemplo para todas as mais de 200 cidades em todo o mundo que se inspiraram no sistema de Curitiba. Sem a constante evolução e inovação, modernização e aplicação eficaz e eficiente dos recursos, não se proporcionam melhorias e vantagens para os usuários e se perdem passageiros”, enfatiza Gulin. Para quem não convive no dia a dia, Curitiba é exemplo e referência. Mas está agonizando. A renovação de frota e a adoção de modelos mais modernos estão paralisadas em razão do não cumprimento dos termos do contrato firmado entre a URBS e os consórcios vencedores da licitação e suas respectivas empresas.
O mais preocupante é que por ser exemplo replicado para grande parte do mundo, a sua falência pode prejudicar a implantação e/ou gestão de outros sistemas, no Brasil e no mundo", José Carlos SeccoSão 3.831 pessoas por dia que “furam” a catraca e embarcam sem pagar. O problema é grave e continua aumentando. Na capital paranaense, há estações nas quais o número de invasões é maior que a de passageiros pagantes, grande parte feita por usuários comuns e não gangues ou baderneiros. O sistema de bilhetagem e as estações estão desatualizados e não atendem à demanda da população. “Os novos ônibus biarticulados têm cinco portas para embarque/desembarque e as estações apenas três plataformas. Com isso, muita gente entra e sai sem passar pelas catracas, colocando em risco a integridade física das demais pessoas”, esclarece. Em municípios paranaenses, como Cascavel, nos quais existe uma cogestão de todo o sistema de bilhetagem, os indicadores de desempenho são muito melhores e os usuários melhor atendidos e mais satisfeitos com o processo. “No restante do sistema metropolitano de Curitiba, a bilhetagem é muito mais eficiente, com biometria facial, aplicativos para smartphones e wi-fi. A integração com Curitiba poderia ser muito melhor”, explica Gulin.