Por um basta na violência no trânsito. Lombadas religadas à noite e menos impunidade

Publicado em 16/08/2016 às 7:30
Foto: Fotos: Sérgio Bernardo/JC Imagem


  Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem   Um basta nas mortes no trânsito do Recife. Nesta segunda-feira, em diferentes pontos da capital, a sociedade gritou a dor de perder inocentes para a inconsequência ao volante, a revolta pela impunidade que ainda cerca os crimes de trânsito e a dificuldade do poder público de inibir o excesso de velocidade e a mistura álcoolXdireção. Ciclistas da Ameciclo e do Observatório do Recife colocaram coroas de flores no Centro para lembrar os mortos e, em Boa Viagem, familiares e vizinhos do casal de amigos atropelado na calçada por um motorista supostamente alcoolizado exigiram justiça bloqueando o tráfego. Todos, mesmo sem se conhecer ou combinar, exigiam providências para forçar os motoristas a pisarem menos no acelerador, principalmente à noite, quando os 77 equipamentos de fiscalização eletrônica deixam de multar.
O Recife é a quarta cidade que mais mata no trânsito e precisamos mudar essa realidade. Defendemos a instalação de mais fiscalização eletrônica, o uso de infraestrutura para reduzir a velocidade dos carros e o religamento dos controladores e redutores à noite”, Lígia Lima, coordenação da campanha Basta de Mortes no Trânsito
LEIA MAIS Muitas lacunas na apuração do acidente que matou dois jovens em Boa Viagem Números da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), inclusive, mostram que acidentes como o que provocou a morte da diarista Isabela Cristina de Lima, 26 anos, e do estudante Adriano Francisco dos Santos, 19, esmagados sobre a calçada da comunidade Entra a Pulso quando abriam a porta de casa, por volta das 22h de sábado, estão sendo cada vez mais comuns na noite recifense. E mais: estão diretamente relacionados com a decisão da Justiça pernambucana de, há dez anos, determinar o desligamento de todos os redutores e controladores de velocidade da cidade. A decisão, na avaliação de quem vive o trânsito, faz com que os motoristas sintam-se à vontade para exceder a velocidade limite das vias recifenses, que é de, no máximo, 60 km/h. Conheça a campanha Basta de Mortes no Trânsito Os dados da CTTU revelam que o horário das 22h às 6h (quando todas as multas deixam de ser validadas pelos equipamentos de fiscalização eletrônica) concentra 30% dos acidentes com vítimas na capital. Em 2014, dos 46 mortos nos locais dos acidentes, 23 foram no horário em que as lombadas estão desligadas. Em 2015, dos 39 óbitos, 15 morreram também de madrugada e, este ano – pelo menos até junho –, foram oito dos 19 mortos. E mais de 40% dessas mortes à noite acontecem nas duas primeiras horas do desligamento dos equipamentos – entre 22h e 0h. Na leitura de quem vive o trânsito, a fatalidade das colisões está diretamente relacionada à velocidade dos veículos. Ou seja, os condutores estão pisando no acelerador. É fato. E antes que alguém considere a mortalidade baixa, vale destacar que no período das 22h às 6h o volume de veículos nas ruas sofre uma redução de 60%. Os protestos dos familiares e vizinhos de Isabela e Adriano não exigiram apenas justiça na investigação do acidente porque as testemunhas garantem que o motorista estava alcoolizado. Cobraram a instalação de um redutor de velocidade na Avenida Desembargador José Neves (marginal do Canal do Jordão e acesso à Via Mangue) como a única solução para reduzir as mortes no local – nove vítimas em dez anos, além de incontáveis acidentes. “Isso aqui virou uma pista de corrida há muito tempo. Não há sequer placas de redução de velocidade. Os motoristas pisam porque sabem que ficam impune. O estrago que o veículo fez nos corpos de Isabela e Adriano revela a velocidade desenvolvida pelo motorista”, alerta o comerciante e amigo das vítimas, José Gláucio. LEIA MAIS Está na hora de religar os equipamentos de fiscalização à noite no Recife Na pista do outro lado do Canal do Jordão há um controlador de velocidade, a uma distância de 200 metros. Mas na hora do acidente o equipamento estava desligado. “Está na hora de rediscutimos essa medida. O Recife é a quarta cidade que mais mata no trânsito e precisamos mudar essa realidade. Defendemos a instalação de mais fiscalização eletrônica, o uso de infraestrutura para reduzir a velocidade dos carros e o religamento dos controladores e redutores à noite”, defende Lígia Lima, uma das coordenadoras da campanha. A Ameciclo e o Observatório do Recife chegaram a divulgar que em 2014, 560 pessoas morreram no trânsito em Recife. Os dados são do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), mas não representam a realidade. Estão acima dela porque têm como base o local em que a vítima foi a óbito. Ou seja, a pessoa sofreu o acidente em Olinda ou Caruaru, por exemplo, mas morreu no Hospital da Restauração, no Recife. Sendo assim, esse óbito é computado na capital. Para se ter ideia, dos 560 mortos em acidentes de trânsito em Recife, em 2014, apenas 204 tinha a capital pernambucana como residência. Mas, pelo menos por enquanto, é o único dado para ser trabalhado.  
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