A retomada da operação total do Metrô do Recife, no dia 24/8, trouxe poucos alívios tanto para o sistema quanto para os passageiros. Embora a oferta tenha sido ampliada para 100%, a concentração de usuários nos horários de pico continua comprometendo as regras de convivência com a covid-19. Ao mesmo tempo, apesar do aperto nos horários de maior movimento, a demanda aumentou menos de 15% e a situação financeira do metrô só complica. Se antes da pandemia a receita mal conseguia cobrir 20% do custo, agora esse percentual caiu pela metade.
O metrô está transportando, diariamente, 181 mil passageiros - 47% a menos do pré-pandemia, quando eram 380 mil pessoas. A Linha Centro, como sempre, responde pelo maior volume: 140 mil pessoas por dia. A Linha Sul está recebendo 40 mil e a Linha Diesel (operada pelo VLT), 1 mil. Mesmo com números tão baixos, o sistema tem sofrido com a superlotação concentrada nos picos.
“Por isso a questão do escalonamento das atividades econômicas é tão importante. Precisamos discutir, levar essa lógica adiante. Principalmente agora, nesse momento de pandemia. Se não pulverizarmos esse pico, distribuindo melhor o uso do sistema em horários escalonados, nunca vamos conseguir impedir a concentração”, defende o superintendente do Metrô do Recife, Carlos Fernando Ferreira. O sistema metropolitano, entretanto, segue com intervalos entre as composições de cinco a oito minutos mesmo no horário de pico. São 17 composições em operação nos ramais elétricos - Linhas Centro e Sul.
Quem precisa usar o metrô no auge do pico da manhã, o mais alto do sistema, sofre. Das 6h às 7h as composições andam lotadas, especialmente as da Linha Centro. “Sempre foi assim e não mudou. Nem com a pandemia. O intervalo entre os trens ainda é grande e, por isso, as pessoas têm medo de esperar o próximo e se atrasar. Ando de máscara e com medo”, diz a empregada doméstica Karla Fernanda Silva, que todos os dias usa o metrô. Já as pessoas que podem chegar mais tarde ao trabalho destacam o menor volume de passageiros. “Está bem melhor de viajar. Mesmo com o recomeço das atividades, ainda é menos gente. Está uma maravilha”, afirma a diarista Nilda Maria, que duas vezes por semana segue de Camaragibe para a Estação Joana Bezerra, de onde pega um ônibus para Boa Viagem. Entra no trabalho entre 8h e 8h30.
RECEITA
Embora receba subsídios para cobrir 85% dos custos da operação, a situação do Metrô do Recife ficou ainda pior porque a receita está ainda mais baixa. Segundo o superintendente, a arrecadação atual tem coberto apenas 10% dos custos, o que terá efeitos negativos no futuro. “Afeta no momento de disputar orçamento junto ao governo federal”, explica Carlos Fernando Ferreira.
Para quem não sabe, 85% do custo do Metrô do Recife é coberto por recursos do governo federal. Apenas 15%, menos de 20%, vêm da tarifa, mesmo após os reajustes que elevaram a passagem de R$ 1,60 para R$ 4 este ano. Toda a arrecadação do sistema vai para uma conta única da União e cabe às superintendências e à administração central da CBTU, no Rio de Janeiro, solicitar o dinheiro federal.
O orçamento passou de R$ 98 milhões em 2019 (o que representa apenas 35% do que o sistema precisava para operar bem e, por isso, foi requisitado) para R$ 101 milhões em 2020 (o equivalente a 51% do que foi pedido). Ou seja, apenas R$ 3 milhões a mais. E são valores que garantem apenas o custeio do sistema. Investimentos não estão incluídos.
O sistema da Região Metropolitana do Recife é um dos cinco sistemas públicos geridos pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) que enfrentam dificuldades em esboçar reação e se tornarem eficientes. Tem uma operação cara precisa de, no mínimo, R$ 120 milhões só para o custeio anual , sem considerar os investimentos fundamentais para a expansão e prestação de um serviço melhor. Transporta, em média, 400 mil passageiros por dia e não teve um único quilômetro de trilhos expandido desde 2009, quando a Linha Sul que liga o Centro do Recife ao Sul da Região Metropolitana pelo litoral entrou totalmente em operação.